As razões que levaram o prefeito
Claudevane Leite a cancelar o carnaval antecipado de Itabuna ainda
chacoalham nas mentes grapiúnas que se embalavam para a folia. Os motivos
imediatos apontados por Sua Excelência – risco de epidemia de dengue e de
instauração da violência – beiram o senso do ridículo. Não fora uma certa
confissão de que nas hostes administrativas – lançadas nos escalões superiores
da gestão como exemplo de competência quando da anunciada equipe de governo –
paira uma desarrumação de fazer inveja ao caos que se atribui à origem do
Universo sob o condão da Ciência.
Talvez aí – no conflito entre
Ciência e Religião – venha a ser encontrada a verdadeira razão a justificar o
vai e vem do Prefeito, que transitou nos últimos dias em afirmar – e demonstrar
porque o fazia – que o reinado de Momo aconteceria, ainda que – como o disse em
programa repercutido pela radiodifusão – perdesse o vetusto e temporário “rei” a
chave da cidade para Jesus.
Contou-nos uma fonte que o Carnaval
2014 em Itabuna - sob o crivo de variadas pressões - conteria o inusitado de duas praças para a folia: uma
tradicionalmente ‘pecadora’ – como a pagã saturnália de priscas eras – e outra
redentora. Tudo porque – entenda o paciente leitor – também haveria palcos (com pouca distância entre si)
para algumas manifestações de caráter religioso como contraponto espiritual
(gospel) para os males originados dos centros de dancinhas na boquinha da
garrafa, poucas vestes, umbigos de fora e quejandos.
Mas, chama-nos a atenção –
ainda que pouco convincentes em si – os motivos alegados para suspender o que
já estava definido: risco de uma epidemia de dengue e instauração da violência.
Ninguém diga que tais razões não seriam previsíveis. E por sê-lo mais
demonstram os limites do modus operandi
da gestão municipal.
Ora, dengue por aqui impera
há muito e resiste brava e competentemente ao combate(?) que lhe enceta a
administração; instauração da violência – por seu turno – exige compreensão do
morador comum (mormente o das periferias, para não colocarmos no mesmo saco de
gatos muitos comerciantes do centro) tão habituado a tiroteios que deles sente
falta quando não ocorrem.
No fundo vemos a confessa
falência do “pensamento/ideário” que norteou a gênese da administração atual:
por temer a dengue não teve competência em fazê-la tolerável; por temer mais
violência reconhece sua existência e jogou por terra a construção da “cidade da
Paz”.
Não duvidemos que o carnaval
apenas serviu como desculpa. Para confirmar que o laico não tem como se
submeter às coisas do espírito – a não ser buscado este como apoio metafísico
para aquele. Lembrando a lição de Cristo através do ‘dai a César o que é de César
e a Deus o que é de Deus” misturar uma e outra apenas consolidou uma
trapalhada de fazer inveja aos “Trapalhões”.
Nesta ‘trapalhada’ perdem
muitos. Não os foliões – já acostumados a não terem um período momesco de mais
dias há anos; estes se contentarão com a Lavagem do Beco do Fuxico. Mas os pequenos
comerciantes e vendedores, empresários de blocos e negociantes instalados, que já haviam
investido recursos em produções e compras para os festejos.
Para ele não sabemos o prêmio que lhe erá outorgado. Assumiu o que não merece.
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