quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

De trapalhões

E trapalhadas
As razões que levaram o prefeito Claudevane Leite a cancelar o carnaval antecipado de Itabuna ainda chacoalham nas mentes grapiúnas que se embalavam para a folia. Os motivos imediatos apontados por Sua Excelência – risco de epidemia de dengue e de instauração da violência – beiram o senso do ridículo. Não fora uma certa confissão de que nas hostes administrativas – lançadas nos escalões superiores da gestão como exemplo de competência quando da anunciada equipe de governo – paira uma desarrumação de fazer inveja ao caos que se atribui à origem do Universo sob o condão da Ciência.

Talvez aí – no conflito entre Ciência e Religião – venha a ser encontrada a verdadeira razão a justificar o vai e vem do Prefeito, que transitou nos últimos dias em afirmar – e demonstrar porque o fazia – que o reinado de Momo aconteceria, ainda que – como o disse em programa repercutido pela radiodifusão – perdesse o vetusto e temporário “rei” a chave da cidade para Jesus.

Contou-nos uma fonte que o Carnaval 2014 em Itabuna - sob o crivo de variadas pressões - conteria o inusitado de duas praças para a folia: uma tradicionalmente ‘pecadora’ – como a pagã saturnália de priscas eras – e outra redentora. Tudo porque – entenda o paciente leitor – também haveria palcos (com pouca distância entre si) para algumas manifestações de caráter religioso como contraponto espiritual (gospel) para os males originados dos centros de dancinhas na boquinha da garrafa, poucas vestes, umbigos de fora e quejandos.

Mas, chama-nos a atenção – ainda que pouco convincentes em si – os motivos alegados para suspender o que já estava definido: risco de uma epidemia de dengue e instauração da violência. Ninguém diga que tais razões não seriam previsíveis. E por sê-lo mais demonstram os limites do modus operandi da gestão municipal.

Ora, dengue por aqui impera há muito e resiste brava e competentemente ao combate(?) que lhe enceta a administração; instauração da violência – por seu turno – exige compreensão do morador comum (mormente o das periferias, para não colocarmos no mesmo saco de gatos muitos comerciantes do centro) tão habituado a tiroteios que deles sente falta quando não ocorrem.

No fundo vemos a confessa falência do “pensamento/ideário” que norteou a gênese da administração atual: por temer a dengue não teve competência em fazê-la tolerável; por temer mais violência reconhece sua existência e jogou por terra a construção da “cidade da Paz”.

Não duvidemos que o carnaval apenas serviu como desculpa. Para confirmar que o laico não tem como se submeter às coisas do espírito – a não ser buscado este como apoio metafísico para aquele. Lembrando a lição de Cristo através do ‘dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” misturar uma e outra apenas consolidou uma trapalhada de fazer inveja aos “Trapalhões”.

Nesta ‘trapalhada’ perdem muitos. Não os foliões – já acostumados a não terem um período momesco de mais dias há anos; estes se contentarão com a Lavagem do Beco do Fuxico. Mas os pequenos comerciantes e vendedores, empresários de blocos e negociantes instalados, que já haviam investido recursos em produções e compras para os festejos.

E – naturalmente – a administração. Que perdeu credibilidade, quando o próprio prefeito disse e desdisse. Para este a cidade levantará orações pelos mais diversos motivos, entre louvor e lamento.

Para ele não sabemos o prêmio que lhe erá outorgado. Assumiu o que não merece.


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