quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Ao leitor a análise

De oráculos
Não que seja uma praga. Mas há em nós o atávico desejo de saber como será nosso futuro: tarólogos, cartomantes, quiromantes, astrólogos, entre outros, são os donos da festa.

Vimos de uma taróloga, pela rede, que a presidente Dilma Rousseff não se reelegerá. 

Assim como de um vidente que expõe a realidade de nosso futebol afirmando não só que o Brasil não vencerá a Copa em seu território, mas - para massacre de nossa autoestima - que a Argentina levantará a taça.

Ao leitor a análise do impacto.

De leituras
A passagem de ano – tradicionalizada em queima de fogos, recentemente aprofundado o costume – mereceu em Itabuna alguns poucos espocados, suficientes mais para espantar cães medrosos e menos para traduzir uma programação local digna de referência à chegada de um novo ano pelo Dia da Confraternização Universal.

E fomos nos debruçar sobre lembranças. De leituras vividas ou brotadas de textos alheios. E descambamos na vala do perceber que Itabuna – se tomamos o fragor das comemorações – mais está para integrar o universo literário de Monteiro Lobato e seu “Cidades Mortas”, conto que dá nome à obra, escrito quando esta terra entrava nos cueiros de pretensão à cidade, em 1906 (alcançada quatro anos depois), publicado em 1919, quando já comemorando bodas de cerâmica ou vime, como melhor o admitir o caro leitor.

Caso Lobato não houvesse se dedicado ao Vale do Paraíba certamente deixaria um vigésimo sexto conto (na edição original) para o torrão amadiano, incluindo um “Cacau!Cacau!”, perfeita paródia para “Café!Café!”.

Lá, a decadência com o débâcle do ciclo do café a partir do final do século XIX, quando deslocada sua produção para o Oeste paulista; aqui, o alegado impacto de uma crise também na lavoura: a do cacau.

Uma diferença, no entanto, se apresenta. Não há aqui a morte de uma cidade, mas do planejamento para uma terra vocacionada à grandeza. Mesmo que sustentada em vícios que busca superar. Ainda que haja, como em Lobato, a reconhecer-se um marasmo político-econômico-literário que faríamos acrescer com um cívico-artístico-histórico. E que (man)tenhamos idêntico espaço e personagens para reproduzir os contos “Os senhores do café” e “Um homem honesto”.

Na verdade a passagem de 2013 para 2014, em nível de comemorações, é o retrato de uma terra que só não alimenta um Cidades Mortas porque lhe impuseram vocação para o progresso, quando a tornaram ponto de convergência da malha viária regional nos idos dos 30 do século passado.

E insistem em tirá-la do limbo em que se encontra, quando promovem a implantação de uma gama de investimentos no denominado complexo intermodal.

No mais estamos como 'cantou' representante local (composição própria) em programa televisivo neste domingo: gostando de pancada.


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