domingo, 12 de janeiro de 2014

Alguns destaques

DE RODAPÉS E DE ACHADOS *

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O Financial e o Papa
Não pode ser descurado o comportamento da Igreja Católica em muitos instantes históricos na defesa de valores pouco ou nada correspondentes àqueles propugnados por Jesus Cristo. O conflito entre o cristianismo primitivo e o versado em dimensão paulina que se vincula ao poder temporal e a este sustenta espiritualmente a partir do séc. IV da atual Era é algo concreto. O Cisma no séc. XVI foi o primeiro registro externamente revelado. Assim, entre a pobreza e o poder material considerável parcela de dirigentes eclesiásticos preferiu o segundo no curso dos séculos, quando não o exercitaram plenamente.

Há muito não acompanhávamos um dirigente da Igreja como o papa Francisco. A Evangelli Gaudium é uma das muitas surpresas trazidas pelo atual Pontífice e um ataque frontal ao neoliberalismo como ideologia dominante em parte do mundo contemporâneo. Muito diz quando afirma: “Enquanto os lucros de poucos crescem exponencialmente, os da maioria situam-se cada vez mais longe do bem-estar daquela minoria feliz”.

Viu-se Sua Santidade – em razão de sua postura – abertamente criticado em pleno período natalino pela Financial Times – a bíblia do neoliberalismo. Natural que o seja. Afinal, o Financial também critica governos progressistas e desenvolvimentistas que não rezem por seu catecismo, que não tenham o mercado como seu deus.

Por essas e outras – como dito pelo anarquismo, se hay gobierno soy contra – particularmente somos contra a qualquer defesa do Financial Times.
O papa Francisco está em bom lugar, em defesa do ideário do Cristo, quando é criticado pelo Financial Times. Que Deus lhe dê vida longa e que o seu papado não seja breve!

Mais um livro
Os baús sempre guardam alguma coisa. Podem rememorar bons e maus momentos. Deram, nestes últimos tempos, de futucar tralhas da oposição. Quando o fazem descobrem o óbvio que vivia escondido sob o pálio das conveniências e de seus guardiões. Dentre estes, a imprensa que publica o que lhe interessa (e, naturalmente, em defesa dos grupos e interesses que a sustentam) e move os cordéis conforme lhe seja conveniente.

Na esteira a reação dos que não se calam movidos pela indignação contra os que emudecem a solução encontrada é a publicação de livros-denúncia. O mais recente traz o título de “Operação Banqueiro”, de Rubens Valente, um duro relato sobre como muito dinheiro público se esvaiu através de figuras exponenciais da elite tupiniquim, de governantes a investidores, passando por políticos, juízes, polícia e quejandos.

A Geração Editorial – no selo História Agora, que já publicou “A Outra História do Mensalão” (Paulo Moreira Leite), “A privataria Tucana” (Amaury Ribeiro Jr) e “O Príncipe da Privataria” (Palmério Dória) – chama a atenção para “Uma trama brasileira, sobre poder, chantagem, crime e corrupção” e destaca: “este não é apenas mais um livro reunindo informações publicadas pela imprensa ou extraídas de processos, a respeito de um escândalo qualquer. Trata -se de uma surpreendente e enorme investigação particular, conduzida por um premiadíssimo jornalista brasileiro, a respeito de um dos maiores casos policiais e políticos de nossa história, envolvendo um banqueiro bilionário, políticos e empresários”.

Destaca as fontes como aquilo – a leitura é mais que imprescindível para conhecermos um país onde o denominado “mensalão petista” é fichinha – que “Foi uma ampla investigação sobre um dos mais intrigantes e poderosos personagens da cena política, o banqueiro Daniel Dantas, símbolo da onda de privatizações de estatais levada a cabo pelo presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 -2002). Nos anos 1990, o banco comandado por Dantas, o Opportunity, do Rio de Janeiro, arrematou empresas ligadas a transportes e mineração e uma das maiores companhias telefônicas do país, a Brasil Telecom”.

O que mais chamará a atenção do leitor de “Operação Banqueiro” não dirá respeito ao que já é público e notório – as relações de Daniel Dantas e as privatizações nos governos FHC – mas o que representou o Judiciário (como um todo) e o ministro Gilmar Mendes (em particular) para salvar o ‘banqueiro’

Masoquismo ou corrupção
A revista Veja – da Editora Abril – está entre as cabeças de ponte da imprensa brasileira que fazem política contra o Governo Federal, pelo “crime” de ser petista. Sua atuação se pauta no ‘jornalismo’ espúrio, na denúncia sem provas e mesmo se apoia em posturas criminosas, basta lembrar suas relações com Carlinhos Cachoeira, para quem elabora matérias convenientes). Exercita uma campanha escancaradamente suja que a desacredita. Em si a Veja é a expressão da Editora Abril.

Ninguém, em sã consciência – ou com saúde mental razoável – pode entender como um governo venha a gastar os recursos públicos que administra para custear quem faz campanha abertamente contra, utilizando-se para isso de todos os meios indecorosos de que possa dispor.

Dito isso, não pode ser interpretada de outra forma – se não uma manifestação psíquico-patológica – a postura do ministro Aloísio Mercante, da Educação, de autorizar a compra de livros na Editora Abril sem licitação no apagar das luzes de 2013 (30 de dezembro, para ser exato).

O extrato de informações do procedimento – fundado no art. 25 da Lei de Licitações, aplicável nos casos em que “houver inviabilidade de competição”, como o expressa o caput do artigo – mais fala do que qualquer indignação:

EXTRATO DE CONTRATO N 296/2013 – UASG 153173
n Processo: 23034007062201383.
INEXIGIBILIDADE n 206/2013.
Contratante: FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO-DA EDUCACAO.
CNPJ Contratado: 54956206000119.
Contratado: FUNDACAO VICTOR CIVITA
Objeto: Aquisição da revista Nova Escola para atendimento ao Programa Nacional Biblioteca da Escola – PNBE Periódicos 2014.
Fundamento Legal: Inciso I do artigo 25 da Lei 8.666/93.
Vigência: 30/12/2013 a 28/03/2015.
Valor Total: R$2.529.630,60.
Data de Assinatura: 30/12/2013.
(SICON – 30/12/2013) 153173-15253-2013NE800593

Estranha no caso a dispensa em final de exercício sem que idêntico procedimento haja ocorrido em relação a outras publicações do gênero (a Nova Escola não é a única), se tomamos o conteúdo em si como o objeto da dispensa.

São mais de 2,5 milhões de reais, caro leitor, para aquisição de uma revista que não é a única do gênero no mercado editorial. Caso houvesse o procedimento licitatório e vencesse o certame tudo bem! Mas não é o visto.

Não temos dúvida: se o ministro Aloísio Mercadante vier a ser entrevistado das páginas amarelas ou ser capa da revista Veja, em qualquer edição até 2015... é corrupção – dirá a oposição.

Entre a técnica e a política I
A palavra de ordem contra o Governo está alimentada com a publicação do índice da inflação acumulada em 2013. Ainda que abaixo da meta, será lançada nos ouvidos do brasileiro como o mais terrível dos malefícios causados pela política econômica.

Afirmam os técnicos que os alimentos foram o grande vilão. Não esqueçamos que o tomate foi estrela em 2013 como o chuchu na década de 70.

Esquecem-se os críticos que alimento em muito está vinculado ao clima – ou a disputas de terras, como ocorre com o preço da farinha de Buerarema. E não há governo que tenha o condão (a não ser naquilo que possa ser armazenado, como os grãos) de impedir que a escassez implique no aumento do preço, justamente porque a demanda passa a ser maior que a oferta. É regra primária de mercado: menor oferta, maior preço; mais oferta, menor preço.

O contraponto necessário reside na capacidade de o consumidor suportar o contrapeso da escassez, o que ocorre quando dispõe de poder de compra sem risco de sacrifício à sobrevivência (poder comprar) caso não queira enfrentar o instante (não comprar).

O risível girará em termos comparativos quando os críticos trouxerem as referências aos “anos de ouro” e da “estabilidade econômica” de FHC. Caso caiam na besteira de comparar os dois períodos – oito anos de FHC x doze de Lula/Dilma – encontrarão a média anual de efeagacê (9,1%) bem superior a dos governos petistas (entre 5,9% a 6%). 

Entre a técnica e a política II
Mas, quem não tem cão caça com gato. Na falta de tu é tu mesmo. É que a inflação – que se encontra “moderada e controlada” para o economista João Sicsú, da UFRJ e ex-dirigente do IPEA – vive seu ápice dimensional de “mais política do que técnica”.

Lembrarão da inflação e esquecerão o recorde de aplicações na caderneta de poupança, o que significa dizer que ainda que preços subam está havendo renda para os gastos com a sobrevivência e sobrando dinheiro para economizar e poupar.

Em meio às anunciadas mobilizações no curso de 2014 a título de pré-campanha eleitoral – contra a Copa do Mundo etc. – a inflação será o mote.

Todo cuidado é pouco I
O PSDB não se encontra – palavra de analistas políticos – em situação confortável para 2014. No plano federal tende a perder espaço para o PSB de Eduardo Campos, que pode levar Aécio a um terceiro lugar nada honroso para quem já presidiu o país durante oito anos e polarizou durante outros doze.

Mas o grande palco pode estar sendo encenado nos estados, dois deles cruciais: Minas Gerais e São Paulo. Em Minas o processo é – diremos – natural: envolve políticos presentes nas últimas eleições. Mas no caso de São Paulo não só a defesa da hegemonia tucana nos últimos vinte anos, mas a possibilidade de mais um “poste” de Lula chegar ao poder.

A turma anda ressabiada com Fernando Haddad, na prefeitura paulistana. Imagine no governo do estado?

Daí porque pode ser uma vitória retumbante para o PSDB a reeleição de Geraldo Alckmin.

Todo cuidado é pouco I
Uma dedução lógica: mais perigoso para o PSDB não é o PT, em si, mas Lula – o implantador de “postes”. Contra o PT a campanha já tem um mote: o “mensalão”. Para Lula o PSDB aguarda o lançamento do livro de Tuma Jr. Na falta de outros argumentos chamar Lula de dedoduro será a única arma disponível.

Isto porque – diante da proibição de entrevistas para os presos da AP 470 Marcos Valério não tem como afirmar que Lula era o “chefe”.

A não ser que o ministro Joaquim Barbosa mude de opinião e determine ao afilhado que conduz a execução penal a liberação de entrevistas.

Desgaste
A administração municipal vive momentos de contradição. Por um lado demonstra estar encontrando o rumo, quando realiza algumas atividades, dentre elas a de manutenção de vias, e ajusta contas; de outro, peca na oferta de serviços, como na saúde.

Nesse particular cabe resposta do município se tal ocorre por falta de recursos ou de gestão.

Qualquer que seja a resposta repercute na imagem do prefeito Claudevane Leite.

Campesina lição
Uma das belas páginas da música brasileira – e da nordestina em particular – esta apresentação de Gilberto e Dominguinhos, autor e compositor, respectivamente, da canção. Talvez o melhor título não fosse “Lamento Sertanejo” e sim Lembranças da Campina. Tanto pela alusão ao campo como a uma das pátrias do forró.

A intervenção sanfônica de Dominguinhos – a primeira vez – é um diálogo sentido traduzindo na melodia o espírito dos versos da poesia, de raízes plantadas no arcadismo – em sua dimensão pastoral, confessional e nativista, de típico fugere urbem – que retoma o fulgor da resistência e a alegria de existir no improviso/festa que prepara a intervenção última do canto.


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* Coluna publicada aos domingos em www.otrombone.com.br

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