DE RODAPÉS E DE ACHADOS *
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O Financial e o
Papa
Não pode ser descurado
o comportamento da Igreja Católica em muitos instantes históricos na defesa de
valores pouco ou nada correspondentes àqueles propugnados por Jesus Cristo. O
conflito entre o cristianismo primitivo e o versado em dimensão paulina que se
vincula ao poder temporal e a este sustenta espiritualmente a partir do séc. IV
da atual Era é algo concreto. O Cisma no séc. XVI foi o primeiro registro
externamente revelado. Assim, entre a pobreza e o poder material considerável
parcela de dirigentes eclesiásticos preferiu o segundo no curso dos séculos,
quando não o exercitaram plenamente.
Há muito não
acompanhávamos um dirigente da Igreja como o papa Francisco. A Evangelli
Gaudium é uma das muitas surpresas trazidas pelo atual Pontífice e um
ataque frontal ao neoliberalismo como ideologia dominante em parte do mundo
contemporâneo. Muito diz quando afirma: “Enquanto os lucros de poucos crescem
exponencialmente, os da maioria situam-se cada vez mais longe do bem-estar
daquela minoria feliz”.
Viu-se Sua Santidade –
em razão de sua postura – abertamente criticado em pleno período natalino pela
Financial Times – a bíblia do neoliberalismo. Natural que o seja. Afinal, o
Financial também critica governos progressistas e desenvolvimentistas que não
rezem por seu catecismo, que não tenham o mercado como seu deus.
Por essas e outras –
como dito pelo anarquismo, se hay gobierno soy contra – particularmente
somos contra a qualquer defesa do Financial Times.
O papa Francisco está
em bom lugar, em defesa do ideário do Cristo, quando é criticado pelo Financial
Times. Que Deus lhe dê vida longa e que o seu papado não seja breve!
Mais um livro
Os baús sempre guardam
alguma coisa. Podem rememorar bons e maus momentos. Deram, nestes últimos
tempos, de futucar tralhas da oposição. Quando o fazem descobrem o óbvio que
vivia escondido sob o pálio das conveniências e de seus guardiões. Dentre
estes, a imprensa que publica o que lhe interessa (e, naturalmente, em defesa
dos grupos e interesses que a sustentam) e move os cordéis conforme lhe seja
conveniente.
Na esteira a reação dos
que não se calam movidos pela indignação contra os que emudecem a solução
encontrada é a publicação de livros-denúncia. O mais recente traz o título de
“Operação Banqueiro”, de Rubens Valente, um duro relato sobre como muito
dinheiro público se esvaiu através de figuras exponenciais da elite tupiniquim,
de governantes a investidores, passando por políticos, juízes, polícia e
quejandos.
A Geração Editorial –
no selo História Agora, que já publicou “A Outra História do Mensalão” (Paulo
Moreira Leite), “A privataria Tucana” (Amaury Ribeiro Jr) e “O Príncipe da
Privataria” (Palmério Dória) – chama a atenção para “Uma trama brasileira,
sobre poder, chantagem, crime e corrupção” e destaca: “este não é apenas mais
um livro reunindo informações publicadas pela imprensa ou extraídas de
processos, a respeito de um escândalo qualquer. Trata -se de uma surpreendente
e enorme investigação particular, conduzida por um premiadíssimo jornalista
brasileiro, a respeito de um dos maiores casos policiais e políticos de nossa
história, envolvendo um banqueiro bilionário, políticos e empresários”.
Destaca as fontes como
aquilo – a leitura é mais que imprescindível para conhecermos um país onde o
denominado “mensalão petista” é fichinha – que “Foi uma ampla investigação
sobre um dos mais intrigantes e poderosos personagens da cena política, o
banqueiro Daniel Dantas, símbolo da onda de privatizações de estatais levada a
cabo pelo presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 -2002). Nos anos 1990, o
banco comandado por Dantas, o Opportunity, do Rio de Janeiro, arrematou
empresas ligadas a transportes e mineração e uma das maiores companhias
telefônicas do país, a Brasil Telecom”.
O que mais chamará a
atenção do leitor de “Operação Banqueiro” não dirá respeito ao que já é público
e notório – as relações de Daniel Dantas e as privatizações nos governos FHC –
mas o que representou o Judiciário (como um todo) e o ministro Gilmar Mendes
(em particular) para salvar o ‘banqueiro’
Masoquismo ou corrupção
A revista Veja – da
Editora Abril – está entre as cabeças de ponte da imprensa brasileira que fazem
política contra o Governo Federal, pelo “crime” de ser petista. Sua atuação se
pauta no ‘jornalismo’ espúrio, na denúncia sem provas e mesmo se apoia em
posturas criminosas, basta lembrar suas relações com Carlinhos Cachoeira, para
quem elabora matérias convenientes). Exercita uma campanha escancaradamente
suja que a desacredita. Em si a Veja é a expressão da Editora Abril.
Ninguém, em sã
consciência – ou com saúde mental razoável – pode entender como um governo
venha a gastar os recursos públicos que administra para custear quem faz
campanha abertamente contra, utilizando-se para isso de todos os meios
indecorosos de que possa dispor.
Dito isso, não pode ser
interpretada de outra forma – se não uma manifestação psíquico-patológica – a
postura do ministro Aloísio Mercante, da Educação, de autorizar a compra de
livros na Editora Abril sem licitação no apagar das luzes de 2013 (30 de
dezembro, para ser exato).
O extrato de
informações do procedimento – fundado no art. 25 da Lei de Licitações, aplicável
nos casos em que “houver inviabilidade de competição”, como o expressa o caput
do artigo – mais fala do que qualquer indignação:
EXTRATO DE CONTRATO N 296/2013 – UASG 153173
n Processo: 23034007062201383.
INEXIGIBILIDADE n 206/2013.
Contratante: FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO-DA EDUCACAO.
CNPJ Contratado: 54956206000119.
Contratado: FUNDACAO VICTOR CIVITA
Objeto: Aquisição da revista Nova Escola para atendimento ao Programa Nacional Biblioteca da Escola – PNBE Periódicos 2014.
Fundamento Legal: Inciso I do artigo 25 da Lei 8.666/93.
Vigência: 30/12/2013 a 28/03/2015.
Valor Total: R$2.529.630,60.
Data de Assinatura: 30/12/2013.
(SICON – 30/12/2013) 153173-15253-2013NE800593
Estranha no caso a
dispensa em final de exercício sem que idêntico procedimento haja ocorrido em
relação a outras publicações do gênero (a Nova Escola não é a única), se
tomamos o conteúdo em si como o objeto da dispensa.
São mais de 2,5 milhões
de reais, caro leitor, para aquisição de uma revista que não é a única do
gênero no mercado editorial. Caso houvesse o procedimento licitatório e
vencesse o certame tudo bem! Mas não é o visto.
Não temos dúvida: se o
ministro Aloísio Mercadante vier a ser entrevistado das páginas amarelas ou ser
capa da revista Veja, em qualquer edição até 2015... é corrupção – dirá a
oposição.
Entre a técnica e a
política I
A palavra de ordem
contra o Governo está alimentada com a publicação do índice da inflação
acumulada em 2013. Ainda que abaixo da meta, será lançada nos ouvidos do
brasileiro como o mais terrível dos malefícios causados pela política
econômica.
Afirmam os técnicos que
os alimentos foram o grande vilão. Não esqueçamos que o tomate foi estrela em
2013 como o chuchu na década de 70.
Esquecem-se os críticos
que alimento em muito está vinculado ao clima – ou a disputas de terras, como
ocorre com o preço da farinha de Buerarema. E não há governo que tenha o condão
(a não ser naquilo que possa ser armazenado, como os grãos) de impedir que a
escassez implique no aumento do preço, justamente porque a demanda passa a ser
maior que a oferta. É regra primária de mercado: menor oferta, maior preço;
mais oferta, menor preço.
O contraponto
necessário reside na capacidade de o consumidor suportar o contrapeso da
escassez, o que ocorre quando dispõe de poder de compra sem risco de sacrifício
à sobrevivência (poder comprar) caso não queira enfrentar o instante (não
comprar).
O risível girará em
termos comparativos quando os críticos trouxerem as referências aos “anos de
ouro” e da “estabilidade econômica” de FHC. Caso caiam na besteira de comparar
os dois períodos – oito anos de FHC x doze de Lula/Dilma – encontrarão a média
anual de efeagacê (9,1%) bem superior a dos governos petistas (entre 5,9% a
6%).
Entre a técnica e a
política II
Mas, quem não tem cão
caça com gato. Na falta de tu é tu mesmo. É que a inflação – que se
encontra “moderada e controlada” para o economista João Sicsú, da UFRJ e
ex-dirigente do IPEA – vive seu ápice dimensional de “mais política do que
técnica”.
Lembrarão da inflação e
esquecerão o recorde de aplicações na caderneta de poupança, o que significa
dizer que ainda que preços subam está havendo renda para os gastos com a
sobrevivência e sobrando dinheiro para economizar e poupar.
Em meio às anunciadas
mobilizações no curso de 2014 a título de pré-campanha eleitoral – contra a
Copa do Mundo etc. – a inflação será o mote.
Todo cuidado é pouco I
O PSDB não se encontra –
palavra de analistas políticos – em situação confortável para 2014. No plano
federal tende a perder espaço para o PSB de Eduardo Campos, que pode levar
Aécio a um terceiro lugar nada honroso para quem já presidiu o país durante
oito anos e polarizou durante outros doze.
Mas o grande palco pode estar
sendo encenado nos estados, dois deles cruciais: Minas Gerais e São Paulo. Em
Minas o processo é – diremos – natural: envolve políticos presentes nas últimas
eleições. Mas no caso de São Paulo não só a defesa da hegemonia tucana nos
últimos vinte anos, mas a possibilidade de mais um “poste” de Lula chegar ao
poder.
A turma anda ressabiada com
Fernando Haddad, na prefeitura paulistana. Imagine no governo do estado?
Daí porque pode ser uma
vitória retumbante para o PSDB a reeleição de Geraldo Alckmin.
Todo cuidado é pouco I
Uma dedução lógica: mais
perigoso para o PSDB não é o PT, em si, mas Lula – o implantador de “postes”. Contra
o PT a campanha já tem um mote: o “mensalão”. Para Lula o PSDB aguarda o
lançamento do livro de Tuma Jr. Na falta de outros argumentos chamar Lula de
dedoduro será a única arma disponível.
Isto porque – diante da
proibição de entrevistas para os presos da AP 470 Marcos Valério não tem como
afirmar que Lula era o “chefe”.
A não ser que o ministro
Joaquim Barbosa mude de opinião e determine ao afilhado que conduz a execução
penal a liberação de entrevistas.
Desgaste
A administração
municipal vive momentos de contradição. Por um lado demonstra estar encontrando
o rumo, quando realiza algumas atividades, dentre elas a de manutenção de vias,
e ajusta contas; de outro, peca na oferta de serviços, como na saúde.
Nesse particular cabe
resposta do município se tal ocorre por falta de recursos ou de gestão.
Qualquer que seja a
resposta repercute na imagem do prefeito Claudevane Leite.
Campesina lição
Uma das belas páginas
da música brasileira – e da nordestina em particular – esta apresentação de
Gilberto e Dominguinhos, autor e compositor, respectivamente, da canção. Talvez
o melhor título não fosse “Lamento Sertanejo” e sim Lembranças da Campina. Tanto pela alusão ao campo como a uma das
pátrias do forró.
A intervenção sanfônica
de Dominguinhos – a primeira vez – é um diálogo sentido traduzindo na melodia o
espírito dos versos da poesia, de raízes plantadas no arcadismo – em sua
dimensão pastoral, confessional e nativista, de típico fugere urbem – que retoma o fulgor da resistência e a alegria de
existir no improviso/festa que prepara a intervenção última do canto.
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* Coluna publicada aos domingos em www.otrombone.com.br
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