domingo, 26 de abril de 2020

Brasil, este cego em tiroteio, em meio a santos e demônios e pandemia


O construído neste país desde 2013, para corresponder ao jogo de interesses externos administrados internamente, capitaneado por órgãos da imprensa apoiando e incentivando aberrações judiciárias, sinaliza singular implosão. Antes do tempo (em que pese tanto) a caixa de pandora aberta começa a se voltar contra quem aqui a abriu.

Mas, como sempre posto no noticiário, os fatos não são aprofundados e tudo fica na superfície manuseando este ou aquele ator que encarna a personagem e não a própria personagem.

Fiquemos apenas nas seguintes ilustrações, começando por Gilmar Mendes, do STF, aqui:

"Há muito critico a manipulação da Justiça, por meio da mídia e de outras instituições, para projetos pessoais de poder. A criação de heróis e de falsos mitos desenvolveu um ambiente de messianismo e intolerância. Autoritarismo judicial e político são ameaças irmãs à Constituição".

"O combate à corrupção exige a ação de milhares de agentes públicos e o respeito à lei e não a atuação isolada de uma pessoa. Aprendamos: não há solução democrática fora da virtude política. Que a história recente nos reserve um reencontro com o Estado de Direito".

Sua Excelência ora posa de santo, esquecendo-se do demônio que muito contribuiu para o caos em que estamos. Escreve como paladino em defesa de um Estado de Direito, mas certamente não há de imaginar que tenhamos esquecido que Moro vazou um grampo ilegal (dentre tantos) plantado no Palácio do Planalto para o Jornal Nacional da Globo e o próprio ministro Gilmar Mendes naquele imediato (março de 2016) interveio indevidamente e inviabilizou a posse de Lula na Casa Civil, suspendendo sua nomeação e obstando a prática de um ato administrativo legítimo inerente à Presidente da República (“virtude política”). (Detalhe: a petição deferida por Gilmar foi subscrita por funcionária de seu Instituto, muito provável que redigida por ele mesmo).

Surreal país em que um ministro do STF que abusou de sua função em favorecimento político se diz preocupado com o fato de que “A criação de heróis e de falsos mitos desenvolveu um ambiente de messianismo e intolerância” e que “Autoritarismo judicial e político são ameaças irmãs à Constituição", quando é ele (ao lado de muitos de seus pares) quem deu legitimidade a ‘heróis’ e ‘mitos’ que materializam o ‘autoritarismo judicial e político’.

O Ministro da Justiça(?) do inquilino do Alvorada deixa o cargo e delata o ‘benfeitor’. Sendo verdade tudo o que até agora publicado Moro prevaricou (aqui). Justamente porque não cumpriu com o dever funcional ao omitir-se diante dos fatos criminosos que devia mandar apurar. Chafurdando em meio aos graves fatos que tinha conhecimento e acobertava visando uma cadeira no STF, objeto da barganha celebrada entre um e outro, cometeu ato improbo. Poderia alegar em sua defesa que não é funcionário público no sentido estrito, mas não que não seja agente público por delegação. Para ele basta aplicar o Código Penal:

Corrupção passiva – Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:
        Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. 
        § 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em conseqüência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional.
        § 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem:
        Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

Prevaricação  – Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal:
      Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

O inquilino do Alvorada comete crimes de responsabilidade, de prevaricação, de falsidade ideológica como se estivesse comendo um sanduiche em Davos e a carreira familiar está vinculada ao avesso do que dizia defender. A obscura caminhada vai ficando às claras e busca evitar que crimes cometidos, pelos seus e à sua volta, sejam apurados.

A Globo que construiu Moro como paradigma de combate à corrupção, beneficiada por ele com os vazamentos privilegiados (ainda que criminosos) já encena a peça de 2022 com a singular figura como ator principal. Para ela ninguém melhor do que um presidente em quem possa confiar/mandar. Não mais aquela ‘esperança’ em quem ela Platinada se utilizou (o inquilino) para afastar o inimigo/PT.

Em meio a tudo uma coisa fica flagrante: tudo o que Moro atribui ao inquilino e constitui crime também foi por ele acobertado, na esperança de uma vaga no STF. Ambos são criminosos.

Mas onde há demônio há santos. A Globo já escolheu um e outro.

A santificação do ex-juiz começará de imediato. Como referência contra a corrupção, o mote de campanha.

Ficamos a indagar como será explicada a sua confissão de que pediu ao inquilino uma pensão para a família para cobrir o prejuízo financeiro de abandonar a magistratura tendo a obrigação de saber que tal pretensão não encontrava amparo legal a não ser oriunda a pensão de um caixa 2 de campanha administrado a partir das milícias que dominam Rio das Pedras e Muzema (aqui, sintetizado no GGN).

Enquanto a mídia aprimora a confusão e vai construindo seus fakenews lança o ex-juiz candidato, mas preparando o efetivo destinatário da missão redentora: o governador João Dória, o tertius perfeito, com seu ar de bom mocinho.

E a imprensa em geral, em vez de discutir os fatos presentes em profundidade, à luz dos remotos que precipitam o caos, acusa quem sempre defendeu e um de seus heróis posa de santo quando também envolvido, o que deixa o país como cego em tiroteio: não sabe para onde vai ou onde fica, tampouco quem é o mocinho ou o bandido.

Em meio a tudo tornaram este país – a considerar a postura de suas instituições (STF, Poder Executivo, o Poder Legislativo, imprensa) – um acobertador de ilicitudes quando estas beneficiam o sistema e correspondem ao jogo de interesses da classe dominante.

Não bastassem demônios e santos, ainda a pandemia por eles mal administrada.
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No dia 12 deste mês (“À espera”), quando os números sinalizavam 1.223 mortes para 22.169 casos confirmados, registrávamos a preocupação com a possibilidade de ao final do mês superarmos os 60 mil casos e as 5 mil mortes.

Neste domingo (quatorze dias depois e a quatro do final do mês) os últimos números divulgados acusam 61.888 casos e 4.205 mortes.

domingo, 19 de abril de 2020

Brasileiro


Não fiquemos aqui com a conclusão anedótica da resposta do Todo Poderoso a São Pedro diante do fato de haver dotado a terra brasilis de tudo de belo, rico e grandioso: – Precisa ver o povo que vou por lá colocar. Este escriba de província prefere ‘classe dominante’ em vez de ‘povo’.

Um vídeo do governador da Bahia circula nas redes onde pede para ficarem em casa, alertando para os riscos da região Itabuna-Ilhéus, que tem crescimento da curva exponencial, fora em muito do que ocorre no restante do estado. 

Chega a ser patética a maneira como o governador tem reiterado o apelo. Patético porque trata ele de repetir o óbvio ululante (para lembrar Nelson Rodrigues): a melhor forma de prevenção e redução de danos é o isolamento social. E ao fazê-lo é como dissesse que não está sendo escutado.

A saudosa Vó Tormeza legou às gerações o repetir “quem não ouve conselho, ouve coitado!” ou “Estão brincando com a cor da chita”. As ponderações do governador gerarão o “ouve coitado!” porque a forma como parte considerável da população anda reagindo à realidade lembra o “Estão brincando”.

Certo que o contraponto à lucidez de quem defende o isolamento social encontra apoio do inquilino do Alvorada e seu séquito de idólatras idiotas e/ou de quem imagina beneficiar-se individualmente em detrimento da coletividade.

Mundo afora ruas vazias; aqui parecendo que nada está a ocorrer. Alguma coisa além do horizonte está acontecendo.

Os números de infectados e de mortes por milhão de habitantes decorrentes do Covid-19 no Brasil aventam duas vertentes: 1. Ou estão errados; 2. Ou vivemos um milagre.

Lejeune Mirhan (Brasil 247) fala n"A mentira dos números da pandemia no Brasil" e, na esteira de suas observações, para demonstrar que estamos ‘brincando com a cor da chita’ vamos a alguns detalhes:

1.       O Brasil testa apenas 296 pessoas por milhão de habitantes; Suíça testa 75 vezes a mais que nosotros, a Itália 56 vezes, Bélgica e EUA 29. 

2.       O índice de mortalidade de apenas 5,5%. O mundo tem pelo menos o dobro: França, 10,85%; Bélgica, 12,14%; Inglaterra, 12,59%; Itália, 12,72%.

3.       Por aqui, quanto ao número de diagnósticos positivos por milhão de habitantes, tínhamos 104 casos no dia 10 de abril e 160 na sexta, 17; Espanha 34 vezes mais que nós, a Suíça 28 e a Itália e a Bélgica 24 vezes mais.

4.       No quesito mortes por milhão de habitantes estávamos com 7 por milhão, no dia 10, e com 10 no dia 17; Espanha e Itália, apenas para ilustrar, 400 pessoas por milhão.

Quanto ao número de mortos no Brasil pelo Covid-19 há quem admita estar entre 3.800 e 15.000, com dados analisados até 15 de abril.

A demora para a contabilização dos casos fatais aliada à subnotificação (casos não identificados que foram a óbito por falta de testes etc.) seria causa de números tão baixos como os acima apostos.

Há – evidentemente – algo de podre. E não é no reino da Dinamarca.

Em vídeo divulgado na quinta (16) o prefeito de Entre Rios-RJ, denunciou a mensagem que recebeu do Ministério da Defesa, através do  Comando do Exército da 1ª Região Militar, por ele exibida e lida, da qual destacamos:

"[...] solicito dos Senhores Chefes de Postos de Recrutamento e Mobilização, com apoio das Juntas de Serviço Militar, que seja realizado um levantamento de dados estatísticos referentes à quantidade de cemitérios, disponibilidade de sepulturas e capacidade de sepultamentos diários em suas respectivas áreas de responsabilidade".    
Em Manaus, mortos estão sendo empilhados em conteiners.

Aqui por Itabuna o prefeito anuncia para a próxima quarta-feira a abertura do comércio com as restrições que imporá.

O governador da Bahia implora por isolamento.

Um dos dois acredita mais que o outro que Deus é brasileiro. Ou tentando provar.

Em Brasília há quem se anuncie o tal e pretenda fazer da pátria de todos nós uma ditadura. Talvez uma democracia nos moldes da Costa Rica.
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Observação: os dados que alimentam o texto originam-se do UOL veiculados pelo ConversaAfiada e do Brasil 247.

domingo, 12 de abril de 2020

À espera


O Brasil insinua que nunca alcançará a sua catarse. Não se lhe apresenta no curso histórico qualquer que seja o instante em que encontre espaço para uma purificação, evacuação ou purgação caso metaforizássemos sua ocorrência em nível de tragédia, medicina ou psicanálise. Em qualquer de suas formas a catarse há de se constituir num trauma a levar a uma descarga emocional como meio de resolver o conflito felicidade-infelicidade. É a descoberta pelo espectador do choro profundo, da alegria em excesso e do deslumbramento individual ou coletivamente.

O ator Brasil não consegue despertar descargas de emoções, não desperta instintos para resolver conflitos nos que lhe são próximos e essencialmente consubstanciados em sua gente.

Por outro lado parece fazer prevalecer a técnica das obsessões, da insistência comportamental em perseguir ou importunar alguém. A conduta repercutindo a ideia fixa e persistente.

A abordagem soa árida e incompreensível a priori. Em especial sob a ótica de que o Brasil aí estaria como Pilatos no Credo.

No entanto não vê este escriba de província outra tela para explicar o quadro que por aqui ocorre.

O curso da história pátria – afastados os registros, que refletem a versão do vitorioso – é uma sucessão de tragédias tendo por conduto a exploração. No primeiro instante a exploração das riquezas naturais que há de se desdobrar na do semelhante para afirmar aquela. Para tanto, nativos e negros trazidos tornaram-se os personagens centrais. Essa gente sacrificada sempre não encontrou, até o presente, quem a reconhecesse violada e não são abertos os livros que explicariam o caminho de solução que reverta dantesca (in)compreensão.

Por trás de tudo o que escreveu a história e hoje sustentado nos meios que impôs para eternizar-se no poder que em torno dele concentrou foge como o Diabo da cruz de reconhecer-se imaginando por em risco o conquistado.

Por seu turno tragédias não se fazem sem obsessões. E são elas o móvel permanentemente utilizado como mantra para alimentar a pira com mais e mais sacrificados. O deificado mercado aí está para confirmar.

O mundo continua apreensivo exigindo medidas restritivas à circulação de pessoas como instrumento imediato para evitar contágio. O Brasil tinha, neste domingo, 22.169 casos confirmados e 1.223 mortes pelo Covid-19 (avanço, em um dia, de mais 1.442 novos casos e 99 mortes). Na segunda, 6 de abril, tínhamos, respectivamente, 11.281 e 487. Ou seja, em seis dias praticamente dobraram os casos confirmados e quase triplicadas as mortes. Caso mantidas as atuais restrições à locomoção e considerando o período de risco concreto, que pode ir ao início de junho, ao final das próximas duas semanas (final de abril), mantida a projeção acima, poderemos registrar mais de 60 mil confirmações de contágio e o risco de ultrapassarmos 5 mil mortes.

Há quem insista em fazer girar a economia, mesmo que isso possa colocar em risco vidas humanas. As soluções cabíveis ao Estado (assegurar os meios de sobrevivência imediata com políticas eficazes de custeamento) por estas plagas soam frágeis porque se sustenta na visão de políticas inumanas para atender ao mercado financeiro.

No fundo, tudo para não perdermos a capacidade de desconhecer catarses e de nos mantermos em permanente estado de obsessão.

E por aí transita o Brasil: de tragédia em tragédia não consegue despertar uma catarse diante de tantas tragédias; e se sustenta na obsessão de que a economia de mercado é e será a solução.

Tendo o Altíssimo por solução para o erro que praticamos é possível que a população tenha no período acima aventado adquirido a imunidade ideal. É porque, abençoados por Ele, à espera de uma catarse e em permanente obsessão, contamos com a imunidade

Ainda que não seja isso o que afirme a Ciência.


domingo, 5 de abril de 2020

Tragédias e ironias


Stefan Zweig (1881-1942), austríaco, famoso por escrever “Brasil País do Futuro” (1941), suicidou-se, em Petrópolis. A ironia afirma que não teria suportado o presente.

E não seria impróprio afirmar que as razões para o suicídio de Zweig, por irônico que seja, persiste no tempo e avançam, inexoráveis, pelo mundo nessa contemporaneidade.

Claro que esta Terra já foi um dia para todos. Mas alguns tomaram conta dela, se apropriaram do trabalho alheio e a riqueza produzida a concentraram em suas mãos, o que lhes assegurou poder.

Veem-nos os versos de Virgílio, no Livro I, das Geórgicas, como alento;

“... Ninguém antes de Jove as terras desmembrava:
A lei que as fere agora, e marcos lhes encrava
que dor faria então. Se tudo era de todos,
a paz era comum a toda a humanidade;
a terra, abrindo a flor dos sonhos soterrados,
punha frutos nas mãos dos homens sossegados”.

Destaque no curso da semana a atuação de governos exercitando típica pirataria tendo por butim material médico para combate ao covid-19 adquirido por países ao redor do mundo e que ficaram a ver navios ao largo.

Dentre os denunciados os Estados Unidos capitanearam as ações de apropriação de materiais, intervindo em aeroportos e retendo encomendas destinadas a outros países. Não bastasse, no jogo de quem tem pode mais estaria pagando até 4, 5 vezes o valor do material.

As posturas de quem promove a pirataria ou de empresas que descumprem contratos para beneficiar-se de vantagens pecuniares demonstra, à sobeja, que isto que denominamos de Civilização não alcançou – e tende a tardar alcançar – a compreensão de valores primários para a convivência em sociedade, dentre os quais a solidariedade.

Considerando os Estados Unidos – nunca dedicado a respeitar os outros – vem-nos a oportunidade de releitura de carta escrita pelo coronel Robert M. Bowman (1934-2013), com 122 missões de combate no Vietnã, autoridade em espaço, ambientalismo e segurança nacional, fundador da Igreja Católica Unida, dirigida ao presidente Bush sob o título Diga a verdade sobre o terrorismo, Sr. Presidente:

[...] o povo precisa saber a verdade, Sr. Presidente, e o Sr. não contou as razões pelas quais somos vítimas do terrorismo [...]

O Sr. Disse que somos alvos porque defendemos a democracia, a liberdade e os direitos humanos. Que absurdo, Sr. Presidente! Somos alvos dos terroristas porque na maior parte do mundo nosso governo defende a DITADURA, a ESCRAVIDÃO e a EXPLORAÇÃO HUMANA. Somos alvos dos terroristas porque somos odiados e somos odiados porque nosso governo faz coisas odiosas. Em quantos países os agentes de nosso governo depuseram líderes eleitos popularmente para substituí-los por marionetes desejosos de vender seu próprio povo a corporações multinacionais americanas.

[...] Destituímos continuamente líderes populares que desejavam que as riquezas de suas terras fossem repartidas pelo povo que as gerou. Substituímos líderes populares por tiranos assassinos.

[...] De país em país nosso governo obstruiu a democracia, sufocou a liberdade e pisoteou os direitos humanos. Por isso somos alvo dos terroristas. O povo do Canadá desfruta da democracia, da liberdade e dos direitos humanos, como o povo da Suécia e da Noruega. O senhor já ouviu de embaixadas canadenses, suecas ou norueguesas sendo bombardeadas? Nós não somos odiados porque defendemos a democracia, a liberdade e os direitos humanos. Somos odiados porque nosso governo nega essas coisas aos países do Terceiro Mundo, cujos recursos são cobiçados por nossas corporações multinacionais.

[...] Resumindo, deveríamos ser bons em vez de maus.” 
(Trechos extraídos do artigo Um pouco de fé no meu ceticismo!, de Fausto Wolff, em A imprensa livre de Fausto Wolff, editado por L&PM, 2004, p. 66 e 67).

Não há ironia em quem afirma que Stephen Zweig não teria suportado o presente. Como se sentiria diante de ações como a do governo dos EUA de impedir que Cuba receba ajuda humanitária ou que envie seus médicos para ajudar países outros, que seus agentes surrupiem material de combate ao covid-19 destinado a países vários, inclusive o Brasil (a Bahia em particular), enquanto em Guayaquil, no Equador, os mortos começam a ser incinerados em plena rua?

E enquanto 157 países impõe o isolamento social para prevenir a pandemia nesta terra brasilis, que abrigou Zweig, há quem defenda a liberação geral no jogo elementar para sempre levar vantagem.

Uma parcela apaixonada e deslumbrada vê em governantes o ‘deus/messias’ ansiado, que sempre encontrará uma profecia em suas falas dentro da mítica sebastianista rediviva fora dos rincões naturais, o Nordeste. Ainda que em estágio permanente de acuar as instituições, vocacionados que são para a ditadura.

Todos temos nosso deus/messias, padrão Antigo Testamento: vingador para aqueles que não leiam sob sua cartilha. Aqui e alhures.

Não podemos é perder a capacidade de ler Virgílio e de manter o olhar irônico sobre tudo.