domingo, 14 de agosto de 2022
domingo, 7 de agosto de 2022
Venenos
No
plano da Ciência Política a tirania se tornou na contemporaneidade apenas
elemento para estudo comparativo entre outras formas de dominação sob a égide
da liberdade como ideia primordial na construção da relação Estado-cidadão,
espaço em que a democracia se contraporia visceralmente àquela. Sendo forma de
governo exercitada de forma autoritária, opressora por excelência, em essência
e definição, tirano é o usurpador da soberania, aquele que se coloca acima da
lei e da justiça.
Platão e Aristóteles, viam nos tiranos os ditadores
que assumem o controle social e político de modo despótico, seja-o pela força
ou pela fraude. O desrespeito às liberdades civis, ao lado do terror constroem
a figura repugnante, fenômeno avaliado pela filosofia na Grécia Clássica, onde
se destacou Psístrato, reconhecido como grande reformador.
Mas, a indagação se fez no curso dos tempos:
por que a maioria se submetia à vontade do tirano?
Éttienne de La Boétie (1530-1563) teoriza em
torno do modo como os povos podem se submeter voluntariamente ao governo de um
só homem: em primeiro lugar, pelo hábito, uma vez que quem está acostumado à
servidão tende a não questioná-la; em seguida, pela religião e pela
superstição que se cria em torno da figura do líder.
Para o francês, na ilusão de que vivemos em liberdade,
o hábito, a covardia e a velada participação são os verdadeiros cúmplices do tirano.
Na contemporaneidade brasileira as lições de La
Boétie se fazem presentes. Não pela velada participação, tampouco hábito; mas
pela covardia.
A democracia brasileira – esqueceram os seus elaboradores pós ditadura – não se fez reconhecida na coragem além da derrubada simbólica da ditadura militar de que se valeu a caserna apoiada pela sociedade civil, entendida esta como a classe dominante pátria, que conta com parcela significativa de seus integrantes que historicamente tem horror à Pátria e à sua gente.
Nesta covardia que nos acomete não estamos os cidadãos incorporados em plenitude (além de legitimações esparsas) mas – salvo alguns resistentes – os que se acomodam no seio de instituições.
Valemo-nos neste dominical apenas de
veiculações do Brasil247 para ilustrar a que nos habituamos a não perceber.
Ilustre desconhecida, inquilina do Alvorada,
fala em defesa do marido em culto evangélico que o Palácio do Planalto (e
certamente o do Alvorada) esteve “consagrado a demônios”. (aqui)
Os indígenas guarani kaiowá denunciam
pulverização de veneno pelo agronegócio próximo a moradias e escola. (aqui)
Um admirador do mito, pretendendo mandato,
manipula informação antiga para ‘denunciar’ (pelo meio que lhes deu fama,
fakenews), que crianças cariocas estariam usando cocaína em escola. (aqui)
Parlamentares sonham dotar de autonomia
institucional (o que inclui manuseio de recursos financeiros que lhe seriam
obrigatoriamente destinados) as polícias militares. (aqui)
Por fim, um campeão mundial de jiu-jitso
assassinado por um policial. (aqui)
E aí estamos, caro e paciente leitor, neste
domingo que veiculará debates entre candidatos em diferentes estados. Não
faltarão o apelo religioso, a superstição, a defesa da morte como instrumento
da pacificação e o elogio vazio ao inexistente.
Certamente não serão lembradas com a veemência
devida as agressões ao Estado Democrático e às suas instituições.
Afinal, vivemos um processo eleitoral instável,
inseguro, desafiado diuturnamente por um punhado de militares do Exército (que estão a fugir de sua função institucional e nem mesmo atentam para suas obrigações funcionais) coordenados por um subalterno de caserna, dela afastado por prática de atos
tipificados como terrorismo.
É que tudo nesta terra brasilis envenena: de indígenas a mentes.
segunda-feira, 1 de agosto de 2022
Esperança, eis o que resta
O cidadão comum tem sua base de informação
pautada no que lê, ouve ou vê. No que diz respeito ao cotidiano o que lê está
nos jornais e revistas, o que ouve ou vê através de rádio e televisão. No imediato
– afetado pelos meios contemporâneos de comunicação – bombardeado por mensagens
através de celulares/computadores.
Aqui aventamos em torno da fonte de informação
versus a realidade vivida. Ou seja, corresponde a informação recebida à
realidade vivida?
Uma ida ao supermercado, ao açougue, à feira-livre
reverbera clamores e insatisfações. O dinheiro cada dia mais curto, ainda que
as necessidades a serem atendidas estejam reduzidas nas listas dos
planejamentos domésticos, algumas sublimadas (ovo em vez de carne etc.).
Mas nos deparamos com os ‘analistas
econômicos’ de plantão concluindo que a situação do país está superando as
dificuldades e mesmo a melhorar. O cinismo de alguns chega ao desplante de
dizer que o imediato não se sustenta no futuro, mas se sustentam nos 'indicadores' de que se valem.
Por trás de tudo tais analistas repercutem políticas
do governo federal implantadas para efeitos eminentemente eleitorais, com prazo
de vencimento em dezembro, como os ‘reajustes’ de bolsa isso-bolsa aquilo.
Nenhuma referência à realidade de que parte do dinheiro que falta escorreu pelo
ralo da sem-vergonhice e bandidagens várias, inclusive gastos com pagamento de
auxílio emergencial a milhares de mortos que consumiram alguns míseros bilhões
de reais (Vermelho) sem falar nos vivos 'muito vivos' encastelados em escalões governamentais vários. Dirão eles que o aspecto não lhes cabe abordar.
Folheando Millôr Fernandes (1923-2012) em “Millôr
Definitivo – A Bíblia do Caos” (LP&M Pocket, 5ª impressão, 2005, p. 594)
encontramos:
“[...]
Heróis nunca me iludiram. Quando caço
o homem, como Nemrod na Bíblia, e procuro alvejar individualmente o mesquinho,
o covarde, o safado, o hipócrita, o corrupto, o incompetente e, coletivamente,
a medicina, a política, a psicanálise, o jornalismo, o economismo e sandices
(que são as minhas, eu nunca esqueço; só que eu nunca esqueço; a maior parte
das pessoas nem se lembra) não estou preocupado com essas falhas e defeitos
insanáveis, mas com o inevitável fim a que isso leva – a desumanidade do homem
para com o homem”.
Eis o retrato cru da crueldade com que tratado
o homem brasileiro. A desumanização como política de estado maquiada através do
jornalismo econômico em defesa do individualismo, negando a coletividade de
pessoas, todas iguais em espécie e a maioria transformada em pária por um sistema
que explora a totalidade em benefício de um punhado.
Em meio a ‘sandices’ tantas o Cristianismo
manipulado para produzir riqueza a ponto de até marchar pelas ruas “em nome de
Jesus” exibindo arma como novo instrumento de fé, essa fé mesquinha que
alavanca a miséria que mata e ensina a matar para sobreviver.
Mas – é também da natureza humana, ainda que explorada e vilipendiada – acreditar em algo que não toca mas assegura suportar o dia seguinte que desconhece. Em meio a isso a sublimação, a busca por sentir possível a realização de um sonho, de confiar, de acreditar.
Não tendo como entender tanta mensagem otimista quando seu imediato se faz de pessimismo resta se apegar a alguma coisa. E não lhe falta. Sim, caro e paciente leitor, porque entre as virtudes teologais – ao lado da caridade e da fé – a esperança ainda existe e, nestes nada áureos tempos, mesmo desfila portando uma arma.
Esperança, eis o que resta. Não sabemos como
será exercitada.
Afinal, “Num país como o Brasil, manter a
esperança viva é em si um ato revolucionário” (Paulo Freire).
Se já o foi para Paulo Freire (1921-1997) imagine para os que vivemos 25 anos depois bombardeados por mensagens de otimismo!
domingo, 24 de julho de 2022
Bahia de quereres tantos, de lugares vários, de surpresas relicário
Vários são os cantos da Bahia, muito
mais de recantos. Porque em cada um deles há um querer que o molda, uma
tradição que o torna inigualável, um cantinho de seu de cada um. A energia que
emerge da Bahia dizem ser sem igual. Alimento e néctar. Poesia e sons guardam
relíquias ancestrais de povos vários, aqui concentrados pelas circunstâncias.
A Bahia de mistérios, dos gemidos dos
afrodescendentes sob a chicote nas senzalas e pelourinhos, transformada em
singularidades que elevam a superstição à píncaros comparáveis somente aos de
suas origens ancestrais, sacra em tudo.
O sincretismo religioso – sábia solução de ver manter reconhecidas as tradições dos desvalidos – tornou-se fonte de convivências espirituais diversas e conflitantes amalgamando-as no instante invocado.
Por meio de tudo desenvolveram-se
quereres tantos guardados em relicário único.
E a Bahia se fez de festa. Tudo motiva
sua gente a festejar. Na esteira, às festas religiosas aliaram-se às saudações
pirotécnicas, dos antigos rojões de vara aos contemporâneos pistolões. Quanto
mais o pipocar e mais tempo levar o queimar mais grandeza traduz o festejar e o
poder de quem o promove ou do respeito ao destinado: santo ou político.
Sim, caro e paciente leitor: a classe
política descobriu nos fogos a forma de expressão própria. Não se faz comício,
carreata, passeata sem foguetório.
Desta forma – quem à distância esteja do frege – presume o que está a ocorrer pela quantidade e o tempo do pipocar.
Sob esse quesito todos se tornam
iguais perante a queima do foguetório, escondidos sob a nuvem de fumaça que se
forma: o poder aquisitivo pode confundir quem escute o alvoroço como se pequeno
ou grande o ‘benfeitor’.
Um outro fator sustenta a classe política em disputa, programado a impressionar: a quantidade de gente, de cavalos ou carros nas programações para impressionar. Gente é povo, eleitorado fiel; cavalos traduz a categoria do eleitorado campesino e veículo a de abastados, em princípio, porque – de uns tempos para cá – não falta quem consiga um veículo a motor qualquer para garantir uns litros de combustível e livrar o bolso da despesa. O resto, nesta gente, é economizar de verdade, alguns desviando para casa na primeira esquina.
Assim, uma singular festa – resposta que se presume dada a este ou aquele candidato – é medida pelo que arrebanhe de seguidores em caminhadas.
Há alguns meses, antes das caminhadas,
candidaturas se diziam definidas em resultados; a pouco mais de três meses para
o primeiro turno as caminhadas vão pintando o quadro que se aproxima da
verdade.
Caso tomemos por referência as
caminhadas ultimamente realizadas por dois principais candidatos ao governo da
Bahia em rincões vários as coisas começam a desagradar vencedores e animar
perdedores.
Para completar, em Itabuna, a morte de Fernando Gomes – uma de suas maiores lideranças políticas no curso da história, no particular dos últimos cinquenta anos – deixa um pouco ao léu um deles na pretensão de arrebanhar seus herdeiros.
E, caso sejam as caminhadas uma forma
de premonição, um tradicional herdeiro de feudo político pode estar perdendo os 'quereres
tantos' de antanho, em lugares vários deste relicário de surpresas em que se tornou a Bahia
há 16 anos.
Sinal de que um outro modelo destronou
a tradicional forma que tanto dominou em lugares vários no
passado, libertando-a dos gemidos e do chicote nas senzalas e pelourinhos eleitorais que
vão desaparecendo na penumbra dos novos tempos que se implantam.
Onde caminhadas passam a destronar
foguetes e rojões.
domingo, 17 de julho de 2022
Os sinais
Não são bons os sinais. Nenhum que mereça registro para a história. A violência propagandeada – se avança porque revela e expande o retido do primitivo do homem – preocupa porque encontrou vazão com a fissura na represa da razão que a continha.
Este primitivo, latente – guardado no mais profundo da psique – acomodado no degrau mais primitivo de evolução do cérebro (que salvou no hipocampo registros para a defesa da sobrevivência quando em fase pretérita), liberado pelas laterais daquele guardião (hipotálamo) refletido na impetuosidade e descontrole emocionais – e que fora superado no curso do processo civilizatório nos últimos dez milênios através do conhecimento aprimorado, discutido, dialetizado, aplicado ao cotidiano – reencontra o traçado para retorno às trevas.
Estamos há pouco mais de mês de um
trágico registro histórico. Naqueles 23 e 24 de agosto de 1572 a intolerância e
os interesses envolvendo o poder desencadearam uma matança de huguenotes
(protestantes) sob a égide do catolicismo monárquico francês, disparado a
partir da invasão da residência e assassinato do almirante Gaspard II de
Coligny, líder huguenote, por um fanático chamado Maurevert.
Entre 5.000 a 30.000, os que
sucumbiram à selvageria. A desculpa imediata dos agressores: evitavam um golpe de estado. Ou seja, a manutenção e controle do poder temporal
sob o crivo do pensamento religioso católico que se disse ameaçado pelo
calvinismo francês.
450 anos são passados. No presente não
nos incomoda o número de sacrificados, mas a possibilidade.
Não são bons os sinais. Os tempos são outros, as forças – também de outra natureza – chegam ao poder e dele não pretendem se afastar. Nem mesmo admitem uma derrota pelos mesmos meios que as elegeram.
Não são os huguenotes as vítimas no
presente. Parte dos que os seriam, hoje algozes, pregam o nada de amor
cristão e mais o ódio contra o que tanto clamou Cristo. Clamam dos púlpitos
contra as instituições; rezam abençoando armas; e mais: o ódio enaltecido por
meio de ações cantadas em muitos púlpitos não somente busca assegurar a
permanência de estruturas de poder, mas a manutenção de espaços em que a
cornucópia oficial destina recursos aos privilegiados que “ouram” juntos.
Os sinais não são bons. Nada
salutares.
Os efeitos do malefício propagandeado há poucos anos – antes localizado – está alcançando os redutos os mais distantes e distintos: do Rio Grande do Sul à Amazônia, do Paraná ao Nordeste. Há sempre um cantinho onde brota como não quer nada, de onde jorra sangue aos borbotões. Um 1572 pátrio, este o sonho.
E aqui, bem perto de nós, passamos a
vivenciar o que imaginávamos distante, conversa de noticiário sensacionalista.
Ali, em Itapetinga.
“Itapetinga – Terra Firme, Gado Forte”. Desde os primeiros instantes da então famosa e referencial Exposição Agro-Pecuária e Industrial de Itapetinga, nos anos 50 do século passado (que se tornou nacional poucas décadas depois), a legenda ocupou as mentes e traduzia sinal do progresso por que passava sob o comando de administrações exemplares, que cuidaram sempre de colocar os interesses do município acima dos individuais.
A pecuária itapetinguense, ainda que
abalada pelo processo de industrialização, mantém Itapetinga no panteão de
municípios referenciais no país. Perdeu espaço nos gráficos de Economia, mas
não o respeito originário.
Mas, eis que o instante por que passamos faz lançar Itapetinga no noticiário nacional. Não pela grandeza e grandiosidade de sua pecuária, mas pela estupidez humana. Simbólica e metaforicamente perfeita para os atuais tempos: um vídeo registra um guarda municipal, usando farda, com arma em punho, que ameaça e espanca um estudante, sentado em um banco sem esboçar qualquer reação. Insatisfeito em não encontrar o álibi que provoca para coroamento de sua vocação agressora – assessorada pelo filho, que lhe segue o exemplo de espancar – ainda bate mais vezes na vítima indefesa.
Há 450 anos a intolerância campeava
leve e solta. Revelada por D. W. Griffth no filme ‘Intolerance’ (1915), também denunciando o que acontecia em seu país. Hoje está se tornando
lugar comum; avançando, no entanto, como asteroide em rota de colisão com o bom
senso que deveria nortear as autoridades, que em vez de combatê-la a exaltam e a
propagam como salvação da pátria.
Não, os sinais não são bons.
E pior ficam, porque estamos nos acostumando com tudo a ocorrer, como se barbárie fosse expressão de Civilização. E já não bastam a histórica intolerância de classe, que impõe o aprofundamento da desigualdade como política de Estado, e a manutenção dos históricos ‘criminosos’ de sempre – negros, indígenas, miseráveis outros sem-terra, sem teto e sem comida e quem os defenda – a serem erradicados como erva daninha, como os huguenotes do século XVI, na que será nossa Noite de São Bartolomeu.
Caminhamos para assistir não uma
matança para ‘evitar um golpe’, mas para consumá-lo em favor dos que “ouram” em
nome de uma divindade que não pode ser chamada de Deus.
Não, os sinais não são nada bons!
domingo, 10 de julho de 2022
Não um morto qualquer!
Eis que já não basta a Suas Excelências parlamentares a função de parlamentar: também querem diplomaciar, serem embaixadores no exterior sem deixar o mandato. Sim, caríssimo leitor, este o singular detalhe: sem perda do mandato. É a ‘PEC dos embaixadores’ que o presidente do Senado pretende aprovar a toque de caixa.
Eis que o Ministro da Defesa em reunião ministerial (muito mais eleitoral) reflete o que o preocupa: as urnas eletrônicas (Globo). Ou seja, sua preocupação não é a defesa das fronteiras ou da soberania nacional, evitar a invasão de terras indígenas ou a exploração garimpeira ilegal e o contrabando de minérios na Amazônia, ou mesmo de atos terroristas em diferentes pontos do país, mas do cargo.
Eis que “militares dizem não abrir mão
de três pontos para distensionar ambiente até as eleições” (DCM).
Eis que lançam uma bomba caseira (mais
uma; a outra, em Minas Gerais, através de drone) durante o evento em que Lula participava no
Rio de Janeiro. O problema não é a bomba em si, mas o cristalino de
constituir um ato de terrorismo.
Do púlpito de uma igreja católica em Laranjal-SP: “O maior ladrão que o mundo já viu...” – proclama o padre, referindo-se ao ex-presidente Lula.
Família de Dom Cláudio Hummes teria
demonstrado constrangimento com presença de Lula e Alckmin no velório (Revistaoeste). Ainda
que não haja informações de que os políticos fizeram discurso de campanha no
evento.
Eis o caminhar deste país, em ano
crucial como um eleitoral. Ano que substitui debates de ideias e quem deles
foge ‘argumenta’ com provocações e agressões a quem pense diversamente.
Tudo como antes no quartel de Abrantes
tomando-se cada caso isoladamente:
Suas Excelências sempre insatisfeitas
com a boquinha. Insaciáveis.
O atual Ministro da Defesa, ah!... Deixaríamos
pra lá se não estivesse embutido na ‘preocupação’ uma intervenção voltada para
impedir as eleições ou intervir no resultado. Não fora isso, como entender as
esdrúxulas exigências de que seja feita uma ‘totalização paralela’ por TREs ao
mesmo tempo que a do TSE (reedição do escândalo Proconsult nas eleições do Rio
de Janeiro para garfar Brizola), realização de auditoria por empresa indicada
pelo governo e o suprassumo levantado pelo inquilino do Alvorada: um computador
das Forças Armadas conectado ao sistema oficial (do TSE) para apurar por conta
própria.
Bomba lembra o projeto do Brigadeiro João Paulo
Burnier de explodir o gasômetro do Rio de Janeiro, em 1968, para jogar a culpa
nos comunistas; ou aquele outro, de explodir a adutora do Guandu, programado pelo atual inquilino do Alvorada,
em 1986, que o levou à reforma/aposentadoria aos 33 anos de idade para não ser
condenado e preso por terrorismo.
Conclusão deste escriba de província
sobre a ameaça velada de parcela de chefes das Forças Armadas de impor três
pontos para distencionar (não intervir através de um golpe): ponto 1: Lula não
vencer; ponto 2: Lula não vencer; ponto 3: Lula não vencer. Ou prometer que se
vencedor renuncia em favor do atual inquilino. Rsrsrsrsrsrsrs...
Padre no púlpito e reação da família do Cláudio Hummes: natural. Afinal, parcela considerável da Igreja Católica no Brasil – e de ‘católicos’ que a servem – como já ocorreu na Espanha etc. não vê os “pequeninos” de que fala Jesus Cristo e muito dessa gente não suporta o Papa Francisco. Aliás, parcela da Igreja Católica no Brasil atualmente disputa com os evangélicos e o pentecostalismo mercantil quem ainda dispõe de ‘lascas’ da cruz de Cristo para comerciar!
Avalie, caro e paciente leitor, se o
padre anda fazendo política no púlpito imagine no confessionário!
Por outro lado – ainda que respeitemos o gosto político-partidário dos familiares – não sabemos se a família de Dom Cláudio Hummes lembra de sua relação com os trabalhadores desde os idos de 1975, quando tomou posse como bispo diocesano de Santo André (no fervilhante ABCD paulista) e que acompanhou o movimento sindical que se organizava contra a ditadura militar, se tornou amigo de Lula e se aproximou da Teologia da Libertação; que foi um feroz crítico dos abusos do capitalismo e da globalização; que foi um influenciador decisivo na eleição de Jorge Mario Bergoglio – Papa Francisco – a quem saudou com um “Não esqueça dos pobres”.
Lamentavelmente, vendo seus familiares
se retirando do velório do pranteado com a chegada de Lula e de Alckmin (dentre
outros) não sabemos se a deselegância o foi por Lula ou por Alckmin (da Opus
Dei) ou por ambos. Tampouco se imaginaram que ali se fizesse política eleitoral
em simples ato de respeito aos mortos. E eis que ali não estava um morto
qualquer.
Os gestos e atos vislumbrados ampliam
a certeza de que não vivemos um estágio civilizatório digno do nome. Pulsões da
brutalidade reprimida, do descaso para com o semelhante, da ambição e do poder
pelo poder, da manipulação de valores morais a serviço da imoralidade, do
alheamento à realidade nos tornam uma sociedade de seres abjetos e infames.
E neste atual quadro eleitoral, reflexo
da bizarrice que nos acometeu, tudo aflora e vai assumindo patamares nunca
antes imaginados. Onde tudo será possível acontecer, porque não falta quem
pense que pode mudar o mundo para torna-lo à sua forma de pensar. Que o que tem
na cabeça pode lançar através de drone ou de bomba caseira como expressão de
sua intelectualidade que tem a
barbárie como objetivo a alcançar para sentir-se em casa.
Eis que fraternidade se torna palavrão
e o espírito da cordialidade sucumbe ao da intolerância. Nem mesmo comemorar um
aniversário em sua própria casa sob símbolos do que acredita. A estupidez ocupa
os espaços. Uma gente incapaz de ouvir a Ode à Alegria, de aceitar que o homem idealista
sonha com a igualdade e paz como apoteose da existência.
No geral e no bem fundo do fundo há um
sonho velado desta gente neste quadro eleitoral: um outro morto. Não um morto
qualquer!
domingo, 3 de julho de 2022
Calamidade e estado de emergência eleitoral
O Globo destaca um fato singular: praticamente
o dobro de brasileiros se diz de direita (30% a 16%). Num país em que cerca de
70 milhões vivem em estágio entre não ter o que comer e não saber quando comer,
encontrar 30% da população que se diz afinada com políticas concentradoras de
renda (causa da miséria e da desigualdade) não deixa de beirar o surrealismo.
Isso se pautássemos a compreensão por fatores atrelados à lógica.
Mas, por trás de tudo, a capacidade de
convencimento dos meios de que dispõe a classe dominante leva a tais
conclusões.
Coisa assim, tipo o indivíduo sem-teto pedindo
esmola em frente a um ‘terreno de engorda’ (especulação imobiliária) e se
dizendo defensor da propriedade. E outros tantos entendendo que a riqueza de
poucos é desígnio de Deus e a miséria de milhões, falta de Fé.
Na esteira das coisas, outras
acontecem neste Brasil do inquilino do Alvorada: pela primeira vez a calamidade
de sua política econômica cobra por ser reconhecida como situação de emergência.
Na verdade, emergência eleitoral.
A situação da reeleição do inquilino
do Alvorada por meios democráticos é ‘vela no caixão’ não somente diante das
intenções de voto levantadas nas pesquisas, mas diante da rejeição decorrente
das calamidades praticadas, segundo o DataFolha (em Mateus Leitão): “Bolsonaro é mais
rejeitado por desempregados (66% nunca votariam nele), pretos (63%),
nordestinos (62%), estudantes (62%), mulheres (61%), católicos (61%), jovens
(60%) e os mais pobres (60%)”. Na média, “55% dos brasileiros disseram que não
votam no atual mandatário de forma alguma nas eleições de outubro”.
Tal circunstância se materializa em
dados de pesquisa (Carta Capital) que afirma não conseguir vencer qualquer dos
candidatos no segundo turno.
Ou seja, para quem está no fundo do
poço qualquer ponta de corda é guindaste.
Para tanto organize-se a quadrilha
(ops!, a base no Congresso, inclusive porque não faltará eleito pela esquerda
que ‘entenda’ o instante) e promova-se uma escancarada fraude eleitoral; em
meados de julho será possível a redução do preço dos combustíveis (à custa de
receitas estaduais) sem reduzir o lucro dos acionistas da Petrobras, amplie-se
os valores do Vale Gás e do Bolsa Família travestido em Cartão Brasil e
distribua-se o Vale Caminhoneiro. Mas – atenção! – até dezembro de 2022. De
janeiro em diante volta tudo ao que fizemos.
O que nos causa espécie no arrazoado
presente não é 30% da população dizer-se “de direita”, porque sabemos o que
ouve e o muito pouco que lê.
Nem mesmo o governo que pretende
tornar-se permanente dizendo-se necessitado e alardeando crescimento econômico
promissor.
Tampouco a fraude anunciada com data
antecipada para terminar.
Mas a quase indiferença com que o tema
é tratado pelos formadores de opinião diante da imoralidade contida em pedido
de emergência para justificar uma fraude flagrantemente anunciada para fins
eminentemente eleitoreiros. O destaque dado às “bondades” dão-lhe um caráter de
perenidade quando não ultrapassarão quatro ou cinco meses.
Neste escancarado cenário de fraude
para manter a tragédia implantada a partir de 2016 30% da população a defende
porque se considera de direita e outra parcela será ‘convencida’ da bondade e
da preocupação do governante com os desamparados de sempre, ora lembrados pelo
messias.
Com apoio da leniente grande imprensa lançando
ao largo a verdade. Mais uma vez!
domingo, 26 de junho de 2022
Dois instantes brasileiros
Estreou neste junho de 2022, no Canal Cine
Brasil TV, o documentário “Toada para José Siqueira” (2021), de Eduardo
Consonni e Rodrigo T. Marques, que resgata o trabalho hercúleo e muito pouco conhecido
do maestro paraibano José de Lima Siqueira (1907-1985). Quem buscar sua
carreira certamente se surpreenderá com o fato de que o autor do oratório
“Candomblé” fora aposentado pela ditadura em 1969 e parte substancial de sua
obra se encontra editorada, arquivada e preservada em Moscou.
José Siqueira, musicólogo, compositor,
professor e maestro fundou as principais orquestras brasileiras (a Orquestra Sinfônica
Brasileira, a Sinfônica do Rio de Janeiro, a Sinfônica Nacional, a de Câmara do
Brasil), criou a Ordem dos Músicos do Brasil, a Sociedade Artística
Internacional, o Clube do Disco.
Enquanto reconhecido nos Estados
Unidos, França, Canadá, Portugal, Itália, Holanda e Bélgica entre outros países
(onde regeu sinfônicas e lecionou) aqui foi proibido de lecionar, gravar e
reger.
Qual dos estimados e pacientes
leitores deste escriba de província conhece este respeitado brasileiro? Como o
próprio autor, poucos. Certamente os estudiosos que beberam em seus livros
didáticos ‘Canto Dado em XIV Lições’, ‘Música Para a Juventude’ (quatro
volumes), ‘Sistema Trimodal Brasileiro’, ‘Curso de Instrumentação’ etc.
Enquanto há brasileiros resgatando o
país quase estamos a nos acostumar com aqueles que tudo fazem para negar sua
existência. Sua gente de pouca valia para quem deveria cuidar dela. Um
paraibano educou. Há quem só não cumpra com o dever de educar como inova na
escola da corrupção tirando dinheiro de escolas, legando futuro nenhum para a
presente geração que depende de escola pública.
O tema ocupou espaços (alguns tênues) em
parte da mídia televisiva.
Referências ao inquilino do Alvorada
aparecem em gravações da Polícia Federal autorizadas pela Justiça Federal.
E agora, messias?
Já tirou o seu da reta, jogou no
acostamento para que o socorro o recolha para o depósito do esquecimento. Punha
o rosto no fogo por seu ministro. Este dizia agir conforme ordenava o superior.
Quando nomeado já encontrou montado um gabinete paralelo no ministério para
possibilitar o ‘ouremos’, forma nada velada de alcançar a ‘verdade’, que se
traduz em ter desde que tenhamos o poder.
Eis a explicação para o que muitos
estranham: a decretação de sigilo de até 100 anos de conversas entre um e
outro.
E o sabido e consabido em searas
tantas do governo agora se torna mais um escancarado processo de corrupção.
Para muitos ouvidos o escândalo implantado no MEC para favorecer – sob propina – pessoas que atendessem aos interesses do chefe com recursos do FUNDEB contém foros inimagináveis no quesito corrupção: tirar dos pequeninos para alimentar gigantes. Basta, para dimensionar, que os recursos desviados são os destinados à aquisição de livros didáticos e ônibus escolares, construção e implantação de creches etc.
– Ouremos!
O escândalo maior não mais à conta das
pérolas oriundas do ilustre Ministro da Educação, como afirmar que alunos com
deficiência atrapalhariam os demais, que a universidade deveria ser para
poucos, que professor seria a profissão para quem não conseguia fazer outra
coisa.
– Ouremos!
Quem ‘oura’ unido jamais será punido.
Muito provável que seja aplaudido por quem partilha e se beneficia do
‘ouremos’.
O sonho da chefia é a perpetuação no poder. Espelhado no obscurantismo. Como aquele – que tanto aplaude – que afastou do Brasil o paraibano José Siqueira e sua obra e esconder do Brasil os que fazem a sua história.
domingo, 19 de junho de 2022
Fadiga
“Da
guerra”, dizem os especialistas, referindo-se ao esgotamento do limite de
defesa ou ataque de uma das partes em conflito. O que ora ocorre na Ucrânia, cumprindo
seu papel de marionete no jogo bruto da geopolítica e da hegemonia buscadas
pelas potências, devastada a serviço do Ocidente, que nada mais faz que
endividá-la financiando-a com armamento para enfrentar uma potência.
Arrasada, a
Ucrânia tem servido à propaganda ocidental como bastião de luta por liberdade e
democracia. A grande verdade que Europa e mesmo Estados Unidos (estes o grande
vendedor de armas) esperam o fim da guerra, porque das proclamadas sanções que
atingiriam a Rússia na prática não traduziram a propaganda. Os russos, só com a
venda de petróleo já faturaram 90 bilhões de dólares a mais no período. E o
colapso alimentar alcançará patamares além da alta dos preços caso a Rússia não
admita liberar um corredor para escoamento dos grãos produzidos que, além de
garantir reservas para a Ucrânia, alimentarão milhões mundo a fora.
Não
bastasse, a Europa recebeu, até agora, em torno de mais 5 milhões de refugiados
(ucranianos) aos quais terá que garantir trabalho, comida, educação, saúde e moradia e já
se vê ameaçada com aumento de custos da energia.
Em nível de Brasil – pátria contemporânea de absurdos – a ‘fadiga’ que acomete a campanha de reeleição do inquilino do Alvorada não sinaliza qualquer compreensão ou respeito em torno da realidade, mas reação tresloucada de avançar sobre as barricadas adversárias como gesto de grandeza.
Na esteira da estratégia vem construindo os morteiros para consumar o projeto de continuidade ou continuísmo devorador da nação: as culpas alheias (sempre alheias), como pólvora, alimentam a ‘vontade’ de suspender as eleições (GGN) e assegurar através de um golpe a manutenção do status quo.
Em meio ao
cotidiano nosso de cada dia menos nosso, denúncias: advogado (com causas no
STF) custeia avião particular para ministro (Nunes Marques, indicado e nomeado
pelo inquilino do Alvorada) ir a Paris assistir final da Champions League,
Roland Garros e o Grande Prêmio de Mônaco (247); coordenador da FUNAI e policiais
militares envolvidos em arrendamento de áreas indígenas (Pragmatismo); imagem do país mais
piorada com a morte de indigenista e jornalista inglês e o presidente desvia a
atenção da gravidade do caso afastando a responsabilidade do governo (Noblat);
policiais pernambucanos abordam e agridem índio idoso que vem a morrer em
decorrência das agressões (GGN) etc. etc.
O
noticiário mais ameno pode ser traduzido através de outras agressões: inflação
em alta, desemprego, juros da SELIC avançando, outra alta para combustíveis etc.
etc.
O país está
esgotado. E aquele que o esvazia entende que ainda não concluiu seu nefando
papel a ponto de ameaçar eleições que podem pôr fim à continuidade de tão
trágico projeto. Não quer reconhecer que a decomposição por que passa o atual
governo está muito mais acentuada que aquela dos corpos dos assassinados na
reserva do Javari, no Amazonas. Mas a culpa é sempre dos outros: STF, imprensa,
Petrobras, oposição etc.
A “fadiga
da guerra” interna já exauriu o país. Mas o trágico é que a sua população miseravelmente atingida não
tem como migrar para outro como refugiada. Resta-lhe refugiar-se sob pontes e viadutos e
comer quando a misericórdia alheia lhe oferta a porção imediata, porque não há
esperança alguma para o dia seguinte. Migrar mesmo só para uma favela mais e mais distante.
O governo
causador de tantos males não sente a ‘fadiga’.
O povo,
sim!
domingo, 12 de junho de 2022
Brasil mangabeirado
Sempre oportuno o expresso por Otávio
Mangabeira: “Pense num absurdo, na Bahia tem precedentes!” Ou seja, o píncaro
do surrealismo não reside na arte, mas coisas que acontecem na Bahia em razão
da irrealidade. Frasista emérito, tido como o “filósofo da baianidade”, compreendia
a sua gente como ninguém e não se dispensou, como sói ao político, tão só cobri-la
de loas: “A Bahia está tão
atrasada que, quando o mundo se acabar, os baianos só vão saber cinco anos
depois”.
O
neologismo trazido como adjetivo ao título diz respeito, pois, ao “absurdo” em
sua dimensão de irrealidade como precedente, muito além dos limites da Bahia de
Octávio Mangabeira.
Assim,
diríamos que o Brasil não está abaianado (porque aqui não nos atemos aos modos
e costumes dos baianos, mas ao atribuído a uma de suas históricas lideranças no
passado), mas ‘mangabeirado’ a partir de tempos inimagináveis no plano do
respeito às instituições.
Não é que a coisa mais e mais se precipita para o inconcebível? Eis que o Ministro da Defesa, não importa o nome – que em si nada representa, por ser passageiro e temporário no cargo por mais que nele demore – e sim o Ministério em si, que é órgão do Estado brasileiro, envia ofício ao Poder Judiciário Eleitoral pedindo explicações em meio aos questionamentos panfletários que publicamente faz do processo eleitoral pelo viés da urna eletrônica sob argumentos(?) como o de estar em risco a soberania nacional. SOBERANIA, caro e paciente leitor – segundo a lente obtusa do ilustre – sob o crivo de um processo eleitoral que, criticável ou não (particularmente o questionamos por negar respeito ao sacrossanto direito à irresignação, ao recurso pela recontagem dos votos) que vem funcionando e elegendo mandatários e legisladores (em todos os níveis) desde 1996, inclusive os atuais, dentre eles o inquilino do Alvorada.
A sua missiva encerra o absurdo de
ameaçar veladamente:
“A todos nós não interessa concluir o
pleito eleitoral sob a sombra da desconfiança dos eleitores. Eleições
transparentes são questões de soberania nacional e de respeito aos eleitores”.
Claro que para o ilustrado subalterno caso
tenha havido o pedido do presidente do país para que um chefe de estado de uma
nação estrangeira intervenha para alterar o possível resultado eleitoral no
Brasil não constitui violação ao princípio da Soberania!...
Mas, voltando à vaca fria: a conclusão
do pleito está sob mira de baionetas e fuzis.
Muito da fábula “O Lobo e o Cordeiro”.
A busca de um motivo para exercício da força como argumento último e absoluto.
Afinal, o que há além da inconsequente e indisciplinada postura de um
subalterno a não ser criar no imaginário da sociedade brasileira a ideia de
fraude eleitoral quando o atual inquilino do Alvorada se afundar no resultado
das urnas, que ora assinala para que ocorra no primeiro turno.
Ou seja, se eu perder não aceitarei o resultado e como não há outro modo de fazê-lo se não através de um golpe vou preparando o terreno para – ‘amparado’ no artigo 142 da Constituição Federal – utilizar as armas para defender a ‘soberania’ nacional!
Qualquer ministro, secretário etc.
exercita competência para o exercício das funções a si delegadas na forma da
lei. Cabe indagar se o dito cujo exercita suas funções ou delas se utiliza para
ferir de morte os princípios democráticos que norteiam a nação brasileira,
dentre eles as eleições regidas por um ordenamento jurídico sancionado pelas
instituições amparado no regime da Constituição e das leis a que sujeito.
Sob este condão, eis a ‘mangabeirada’
sob o absurdo dos absurdos: anúncio antecipado de um golpe de estado para
frustrar o desejo do eleitor.
Pelo andar da carruagem o observador
percebe, com clareza meridiana, que o que está em andamento não é mais a
efetivação ou não de um golpe de estado, mas se dará certo. A cada nova
pesquisa que vai apontando a candidatura do ex-presidente Lula mais vitoriosa e
tendente a liquidar a fatura no primeiro turno intensificam-se os ataques do
inquilino do Alvorada ao processo eleitoral e ao Poder Judiciário no particular
da Justiça Eleitoral. E agora assumida de forma despudorada por um subalterno.
O processo – absurdo para padrões que sustentam uma democracia e um Estado de Direito – se encontra escancarado. Com propaganda institucionalizada e ampliando as bases armadas que venham a sustenta-lo/defendê-lo. Um corredor de contrabando de armas (Itaguaí) está sem fiscalização e uma pequena parcela fanática da sociedade civil se armando para apoiar militares golpistas.
Não esqueçamos – e nos fazemos aqui sob inspiração de Millôr Fernandes – que o golpe militar se sustenta em uma singular constituição, sim: ino Direito Constitucional Militar Imaginado, apoiado em fuzis e baionetas e aprovada e promulgada sob aplausos de todas as classes (naturalmente dominantes) por ele beneficiadas. Inclusive, por justiça, a dos próprios militares, sob rígido respeito à hierarquia, razão por que direito a salmão, botox, viagra, prótese peniana somente para poucos.
Deixemos para outro instante em torno
do ‘todos iguais perante o de sempre’: eleger-se. Sejam o inquilino do Alvorada
e seus apaixonados seguidores, sejam os que pretendem reeleger-se quando se
trata de deputanças federais. A ponto de defenderam absurdo com finalidade
meramente eleitoreira e com prazo de validade estabelecido até o final do ano.
Ali na vizinha Bolívia aquela
ex-presidente interina foi condenada a 10 anos de prisão por ter efetivado um
golpe contra Evo Morales em 2019. (UOL)
Mas, tenha certeza o paciente e
estimado leitor que aqui o ilustre porta-voz do golpe nem mesmo será
repreendido. Talvez até elogiado e condecorado por inventar o golpe previamente
programado e anunciado.
Mesmo porque a corte Eleitoral está pondo os devidos panos quentes para não causar incômodo aos que flertam abertamente com o golpe. A ponto de admitir estender às Forças Armadas parcela do que lhe cabe – por lei – na fiscalização do processo eleitoral (outra mangabeirada!)
Claro que se estivesse pelo menos na
Bolívia estaria processado.
Quando nada interpelado judicialmente
para explicar o porquê de haver se tornado arauto de um golpe de estado.
E dar nome aos bois que pretendem
acompanhar o toque do seu berrante.