domingo, 26 de maio de 2019

Saúde mental


Aluguel social
Aos que estão acostumados com aquele maluco da esquina que atira pedras nos passantes, forçando-os a se abaixarem para não se ferirem, também se agacharão quando ele lhes jogar uma pluma. O gesto, o movimento do arremesso define por si, inserido que está no inconsciente. A reação é instintiva.

Sob esse viés vemos, no imediato, a fala do hóspede do Palácio da Alvorada. 

Sem nenhum projeto, sem nenhuma proposta racional já se tornou reconhecido e identificado como atirador de ‘pedras’, o que se materializa nas ameaças e loucuras várias e gestos nada recomendáveis a quem exerce a mais alta magistratura da nação. 

Tudo estamos a dizer porque andou falando em ‘aluguel social’, o que, de imediato, nos cheirou a mais uma pedrada. Inclusive houve quem nela embarcasse, criticando-a, sem analisar a profundidade nela contida, caso aplicada em consonância com a sanidade.

Não deixa de ter razão quem assim pensar.

Certamente o dito cujo nem sabe quem foi o arquiteto e urbanista Affonso Eduardo Reidy, tampouco o que representa uma coisa chamada Projeto do Pedregulho, no Rio de Janeiro.

Destinado a atender a demanda de moradias pelos funcionários públicos do estado continha o princípio que norteava a arquitetura de Reidy: Habitar não se resume à vida no interior de uma casa

Assim, no Conjunto Habitacional do Pedregulho, nos idos de 1947, o conjunto da obra correspondia ao pensamento do arquiteto que o planejou e executou. Praças, aproveitamento do espaço respeitando a natureza, igreja, escolas, parques, reserva, teatro, construções em consonância com o ambiente etc.

Não havia aquisição do imóvel, mas a utilização remunerada.

As ideias de Reidy, Niemayer, Lúcio Costa, Burle Marx e outros estavam inseridas na concepção humanística para uma reforma urbana (uma daquelas anunciadas futuramente por João Goulart no bojo das ‘reformas de base’) compatível com a realidade do homem e não do mercado imobiliário, razão por que por este sempre foi combatida.

Tanto que, para enfrentar o ideário daquela gente, no imediato do golpe de 1964, houve por bem o governo de desenvolver a ideia da moradia própria como única forma de alimentar a autoestima para o morador: ser proprietário importava mais que morar bem. 

Para corresponder ao 'sonho' foi criado o Sistema Nacional de Habitação e o famoso estilo dos conjuntos financiados pelo denominado sistema BNH, um punhado de cortiços ofertados como se fossem versões do Palácio de Versalhes.

Para quem precisa de um teto três caminhos respondem ao anseio: aquisição, aluguel ou comodato.

O tema apresenta complexidade em dimensão de análise, mas, de imediato, aqui nos colocamos diante do anúncio de substituição de faixas de financiamento de imóveis pelo Minha Casa, Minha Vida por ‘aluguel social’. Ou seja, em vez de financiar a aquisição o governo construiria para alugar. 

Os desdobramentos embutidos – justamente por falta de estudos, pelo menos não apresentados – podem tornar temerária a pretensão, inclusive pelo uso político-partidário. Mas, a ideia não é ruim. Bem aplicada é excelente, desde que os investimentos do Governo federal sejam efetivados (e dúvida fica à conta de ser anunciado por quem anda economizando em educação etc. etc.) venha a dispô-los para a construção, não fora a garantia para o locatário de efetivamente pagar um aluguel compatível com suas condições financeiras.

Ariano Suassuna dizia-se encantado pelo doido em razão de sua ‘lucidez’.

Pelo menos ocorre neles, aqui e ali, um lampejo de lucidez.

O risco é quando voltam ao ‘normal’.

Voltando ao 'normal'
Mal iniciada a administração o administrador convoca a sociedade para uma passeata de apoio.

Não fora a singularidade de pedir apoio para projeto nenhum em andamento fica uma outra singularidade: o número de apoiadores que acorreu ao convite.

Também cheira a coisa daquela gente 'lúcida' de fala Suassuna.

E a caixão e vela para a imagem 'gestora'. 

domingo, 19 de maio de 2019

Palco de ópera bufa


Tudo a ver, ou não!  I
Texas, Arizona, Oklahoma... são nomes nunca esquecidos. Palcos de duelos, terras onde a lei do mais forte se impunha. Armas na cintura davam a dimensão da sociedade daqueles confins em fase inicial de exploração e conquista.

Determinado país, que retoma políticas de faroeste, anuncia seu dirigente no Texas para homenagem.

Tudo a ver, ou não!

Os tempos são outros. Ainda que o faroeste pretendido seja o mesmo.

Tudo a ver, ou não!  II
Não teria havido homenagem. Autoconvite apenas. Vergonha internacional. 

Nem o prefeito da cidade aceita 'anfitriã' receber um ‘presidente’ de um país que exalta o seu país (dele, prefeito).

Quem está a perder a ‘dignidade’ é o próprio país, chamado Brasil, aplaudido pelo ‘Brazil’ de quem o chefia.

Este o país singular que em meio a tudo que já fez por merecer ser conhecido e reconhecido revela ao mundo sua nova invenção: não-convite para um não-evento.

Campeão 
O mandatário acaba de alcançar reconhecimento internacional. Quem o diz é o jornal londrino Financial Time: ‘personalidade’ indesejável no meio diplomático.

Da pior espécie de leproso na Galileia.

Só há uma solução: a volta de Cristo.

Talvez o consiga valorosa ministra que conhece o Salvador de perto, quando o viu 'naquela' goiabeira.

No misto de carta-testamento e renúncia de Jânio resta uma ópera bufa
Outra mentira veiculada pela internet ‘agrada’ aos que sonham com o endurecimento do regime. Cabe, de imediato, registrar que o que está por dentro do endurecer em 2019 não repete 1968 (golpe dentro golpe), mas a implantação, pura e simples, de uma ditadura capitaneada por aquele que não tem condições, tampouco capacidade, de governar a nação mas se acha ungido (como monarca absolutista) e legitimado em razão dos votos que o elegeram.

A atuação governamental – incluindo a organização dos órgãos de governo – aliada ao ideário posto em andamento em nada se assemelha a outras situações pretéritas por que passou o país. No entanto, o panfleto embute elementos de dois instantes peculiares: o que antecede o suicídio de Vargas e o da renúncia de Jânio. Tudo posto nas palavras publicadas de um ‘anônimo’ em defesa do governante.

Assim os mesmos ‘grupos poderosos’ referidos por Getúlio como as ‘forças terríveis” ocultas de Jânio Quadros estariam presentes para inviabilizar as ‘boas intenções’ do governante. 

Não carece perguntar em que se materializam essas ‘boas intenções’ nestes nem completados cinco meses.

Sabido e consabido que nenhum vocacionado a ditador, em qualquer parte do planeta, convive com regras atinentes a uma democracia, porque incompatível com o mandonismo que o norteia.

Em 1968 Burnier tentou explodir o gasômetro do Rio de Janeiro para, nos moldes do Plano Cohen, de Vargas em 1935, lançar a culpa sobre os comunistas.

De terrorismo não se diga que não o entende o presidente, haja vista a ameaça de explodir a adutora do Guandu, no Rio, em 1986, como amostra da luta por melhores soldos para os militares, o que lhe valeu (ao hoje presidente) cadeia por 15 dias e a reserva/aposentadoria aos 33 anos, em 1988, porque a condenação não convinha aos interesses de cúpulas militares à época, naquele imediato de redemocratização e de possível caça às bruxas inversa atiçada pelos ares da liberdade recém conquistada.

No fundo, no fundo uma tentativa em andamento – que nos soa desesperada – de permanecer no cargo por meios nada ortodoxos, alheios àqueles que o levaram a onde está.

As corporações de que fala o apócrifo remete a circunstâncias previsíveis no futuro imediato: suicídio, renúncia ou impeachment.

Mais fácil – coisa natural aos descompensados – a renúncia com vistas a mobilizar os grupos de apoio pela internet (o que Jânio não dispunha) para armar-se e enfrentar o Belzebu. Para tanto, fechar o Congresso, o STF etc. etc. etc.

Aí entra a ‘preocupação’ posta no panfleto: salvar a pátria através do seu ‘divino’ de plantão, mesmo que isso represente a plenitude da destruição institucional, porque a econômica já se materializou.

De certa forma nos vem à mente Luis XVI, de França, quando pensou buscar fora do país o apoio de monarquias para fazê-lo retomar o poder em plenitude. 

Para tanto, fugiu de Paris numa certa noite.

Pensou Luis XVI, naquela que se tornou a famosa Nuit de Varennes, que retomaria o poder absolutista depois de organizar-se no estrangeiro, ele que não aceitava a monarquia constitucional implantada pela Revolução.

Por aqui, a fuga para o vazio na tentativa de reunir suas ‘milícias’ para assegurá-lo salvador de todos.

Mas a caixa de Pandora aberta por tão singular Epimeteu lança contra eles muitos dos que o apoiaram e hoje temem por sua continuidade. Inclusive os ‘poderosos’ ao seu lado.

Há cheiro, concreto, de queda do governante: por iniciativa própria ou de terceiros. Afinal, até os sonhos nos contos de fadas têm fim. Às vezes, deles resta um texto, um poema, um romance, um balé para registro.

Os sinais presentes nos rementem a concluir: buscasse o balet famoso, e se dele personagem o fosse, estaria no limiar da morte do cisne.

Sim, caro leitor. Aquele 13º movimento de “O Carnaval dos Animais” (1886), de Camille Saint-Saëns, coreografado por Mikkail Fokine a pedido de Ana Pavlova, que o estreou na primeira das 4.000 apresentações, em 1925.

Certo, dirá o atento leitor, que o nosso personagem parece estar longe das artes e como não possui a graça desta inspiração.

Mas, não esqueçamos do inovador não-convite para um não-evento, o que nos remete a uma novidade de ser levado um novo espetáculo ao palco: a morte do urubu.

Caso o tema não seja adequado a um balé, muito provável apenas o que já escreveu(?) até agora: ópera bufa sem comicidade alguma.

domingo, 12 de maio de 2019

"Por quem os sinos dobram"

Para estudo
Temos visto/lido manifestações pró e contra a condenação de Lula no caso do tríplex de Guarujá. Os que acompanhamos várias fases do processo, incluindo ouvida de testemunhas (onde nenhuma, inclusive das arroladas pela acusação, implica o ex-presidente) nunca entenderíamos a razão por que da condenação sustentada em ilações e delação premiada não fora um projeto hegemônico, em nível mundial, que está por trás de tudo, haja vista o que ora testemunhamos em nível de entrega do país.

Mas, do comentado nada seria estranho desde que amparado no noticiário, inteiramente descompromissado com a verdade factual. Tampouco do julgador em si, compromissado em efetivar o que efetivou.

Mas, ainda que este universo de juristas (brasileiros e estrangeiros) afirme que não há fundamentação jurídico-probatória para a condenação poderíamos tê-los, todos, como “lacaios de Moscou”, “comunistas”, “petralhas” e quejandos tais, que adjetivam os comentários.

No entanto, difícil de entender que advogados se deixem levar pela paixão ao comentar dito processo.

Alheio às paixões disponibilizamos a íntegra dos embargos de declaração interpostos pela defesa de Lula (GGN), onde todos os argumentos expendidos podem alimentar a interpretação em torno da verdade factual. Ei-los para a devida contraposição.

Faça a conta
O entreguismo pátrio, em sua versão mais nefasta – a atual – está em fase de permanente orgasmo por entregar a Petrobras às petroleiras estrangeiras aqueles 5 bilhões de barris de óleo adquiridos ao pré-sal por 42 bilhões de dólares, para exploração por 40 anos, ao tempo em que a moeda estadunidense estava a 1,75.

A euforia gira na possibilidade de caixa para a Petrobras de cerca de 106 bilhões de reais desta cessão que será levada a leilão.

Faça a conta o leitor: aqueles 42 bilhões de dólares pagos pela Petrobras hoje representam 168 bilhões. Ou seja: venderá por menos do que comprou, apurando em torno de 2/3 do dispendido à época.

Agora, outra continha: aqueles 5 bilhões de barris representam hoje (barril a 75 dólares) o equivalente a 1,5 TRILHÃO DE REAIS.

Assim, a Petrobras entrega/vende/doa 1,5 trilhão de reais por apenas 106 bilhões, entrega 100% por 8%.

Agora, imagine o leitor que as estimativas de reservas do pré-sal chegariam a, por baixo, 200 bilhões de barris (em torno de 130 bilhões já admitidos), ou seja, 15 trilhões de dólares ou, simplesmente, 60 trilhões de reais, o equivalente a 15 PIBs brasileiros.

Ressalte-se, por fim, que o custo de extração pela Petrobras varia entre 8 e 14 dólares.

Senso de justiça de Cármen Lúcia
O réu, condenado por crime ambiental, flagrado pescando em época de defeso, ainda que nenhum peixe houvesse pescado, não obteve habeas corpus, impetrado em fevereiro último, denegado pela ministra Cármen Lúcia, do STF, denuncia Luis Nassif

Morreu aos 33 anos, na cadeia, deixando sete filhos. 

A mesma Cármen Lúcia, que deixou prescrever procedimento por crime atribuído a Aécio Neves. 

Não sabemos para quem Ernest Hemingway  dedicaria sua obra famosa: se aos filhos do falecido (todos crianças) ou se à ministra, enquanto se regala com um medalhão de lagosta e vinho importado. 

domingo, 5 de maio de 2019

Pilatos


Um detalhe...
O valor final do contrato para aquisição de medalhões de lagosta e vinhos ficou em R$ 481.720,88, afirma-o a assessoria do STF.

O edital teria provocado desconforto entre ministros da Corte e indignado servidores do tribunal, o que levou um deles (ministro) a vazar, reservadamente (como natural à Corte) que a compra não fora discutida em sessão administrativa, daí não ter sido chancelada pelo colegiado. 

A licitação previa originalmente gasto de até R$ 1,134 milhão.

O valor final, ainda que mais alto que o preço vencedor, impedido de manter-se por razões técnicas (impossibilidade de contratar com o poder público) nos deixa um questionamento subjacente.

Aqui não nos incomoda a singular circunstância de uma gente adquirir, com dinheiro do povo, medalhão de lagosta e vinho para seus encontros.

É que cheirou à imoralidade o valor destinado à licitação (1.134.000,00) e tudo se materializou em cerca de 40%. 

Há um cheiro ainda mais estranho: por que valor tão alto fixado para o que poderia (como o foi) adquirido bem mais em conta?

Mas, ao que parece, estamos perdendo (se já não o perdemos) o olfato.

Cansativo I
Um punhado se esgoela. Não há quem ouça. E quem ouve faz de conta (como na ‘carochinha’) que não ouviu.

Folheamos os textos recentes (apenas deste emblemático 2019) e pudemos observar – ainda que pequena a amostragem – o quanto aconteceu de aprofundamento do buraco em que nos metemos. Ou melhor, em que fomos autolançados, por ‘escolha democrática’.

Um punhado se esgoela. E vai ficando no esgoelar. E mais: ‘coisa’ de esgoelado. Ou seja: estereótipo de uma realidade alienada.

A gravidade embutida em tudo que está acontecendo em detrimento do futuro do país e de seu povo (desmonte da educação, da saúde, entrega do patrimônio nacional, desconstrução das instituições e dos valores etc. etc.) parece não estar em andamento.

Enquanto os pedintes voltam às portas, o número dos desamparados aumenta sob as marquises, os desempregados e desalentados reocupando espaço que imaginávamos restrito aos alfarrábios de história o noticiário, a quem cumpria tratar com frieza os dados da verdade factual, apresenta um futuro cor de rosa para o país, mantendo sua linha de compromisso com aquela parcela da classe dominante a quem serve e sempre serviu.

Está se tornando cansativo escrever sobre isso. Por quê? Porque é o mesmo todo dia, toda semana, todo mês e o será em mais um ano que se repete recentemente.

Está ficando cansativo.

Ou, talvez, apenas estressante.

Cansativo II
E quem cabia parte considerável de responsabilidade para conter tal desastre a ele não podemos elevar nosso clamor, porque faz parte e mesmo se integra, com unhas e dentes, em cumprir sua parte para reservar espaço cativo no Nono no Inferno de Dante.

Inclusive servindo medalhão de lagosta e vinho.

Eis que mãos lavadas como as lavou Pilatos, aquele do Ecce homo (Eis o homem).

Mas, um comentário em texto veiculado pelo GGN deixa no ar a certeza de que este país e nossa gente não se fazem apenas da imprensa oficial que nos invade casa e mente a cada minuto do dia.