Estamos vivendo tamanho desencontro no plano
da solidariedade humana, cada vez mais afastados da discussão civilizada, da
salutar troca de ideias e raciocínios que não duvidamos de mais nada neste
país.
Lamentável que tenhamos desenvolvido (não que o devêssemos) uma cultura
não do ódio a determinado fato, mas do odiar como meta humana. Dizer que tal
conduta é incompatível com o mais remoto conceito de civilização de logo levará
a que sejamos julgado/tachado de comunista, petralha e adjetivos que engordam o
vocabulário desta parcela de ‘modernidade de pensamento’.
A especulação financeira — prática híbrida de capitalismo, nada
gera ou distribui da riqueza produzida socialmente, incompatível com o mais
elementar conceito do liberalismo clássico, que a tornava meio de acumulação
pelo reinvestimento na produção — tornou-se em sua versão neoliberal
ampliada na vertente da ‘gloriosa’ globalização, na bíblia dos idiot savant que integram parte da contemporânea
intelectualidade, que vê em tal aberração a alavanca propulsora do que denomina
de desenvolvimento. Coisa assim do tipo — crítica pessoal — daquele que se diz
cristão e busca no Deuteronômio e no Talião a vocação e a expressão de sua fé
no Amor.
Assim anda nossa gente em sua augusta
atualidade: não faça ao outro o que gostaria que não lhe fosse feito, mas pratique
o olho por olho dente por dente. Não compreenda, não seja semelhante a Cristo
mensageiro do Amor como redenção do homem; apunhale o próprio filho, porque o
‘deus’ que você acredita é aquele que pode sustar a adaga como o fez com Abrão,
antes de torná-lo Abraão.
E dessa forma aplaude o Estado que mata o
semelhante. Afinal, a morte é a festa, que já conta com mais de 400 mil
participantes. Dos mais de 500 mil antes do final de junho.
Temos exercitado a leitura deste
universo tupiniquim, desde que o compreendemos como instrumento de exploração
tal que o faz pátria da desigualdade social elevada ao cubo. Aprendemos que
as razões históricas que assim o tornam até o momento não foram enfrentadas. E mesmo quando o é não foi compreendida pelos próprios
beneficiados.
As raízes de tal mazela se encontram
fincadas na condução do processo, em razão de uma classe dirigente que, de uma
forma ou de outra — com raríssimas exceções — se apega ao patrimonialismo e ao
compadrio como política pública e faz do Estado seu instrumento de atuação, diferindo,
tão somente, em relação aos destinatários, conforme a ideologia que a norteie.
Desta forma permanecemos no embate
histórico de uns lutarem para reduzir a desigualdade e outros para que se
amplie. A vitória dos últimos tem sido mais permanente. Assim, afastada a
conformação de uma unidade nacional beneficiada pelas riquezas imensuráveis
presentes no território pátrio, cada dia mais distante da base da pirâmide
social (mais e mais achatada) e mais concentrada naquele punhado de
insignificância aritmética.
Sob essa vertente, a atuação
político-eleitoral — como instrumento de ocupação do poder
estatal — não alcançou em nível de resultados o
mínimo que se possa esperar para uma terra que ultrapassa cinco séculos de
existência.
Construímos no curso de dois séculos
de independência política a dependência subserviente. E quando anunciamos
posições contrárias a ela não o fazemos sob a égide da compreensão do por que
ocorre.
Abaixo alguns trechos de dezenas dos
que escrevemos neste espaço abordando o fato acima posto em relação à discussão
da atualidade:
“A esquerda — tomando-se o
PT como referência — enquanto no poder não interpretou os fatos à luz
da experiência histórica. Não leu os almanaques e alfarrábios da política e do
poder no curso da história, pelo menos da recente.
Não dimensionou a geopolítica como
instrumento de hegemonia.
Não leu a cartilha estadunidense, em
que pese alertado por entrevista de Moniz Bandeira, em 2013 (queremos crer que
não tenha lido, para não ficarmos com a ideia de que foi burra) quando afirmou
que os Estados Unidos não tolerariam o protagonismo do Brasil.
Não viu a ‘primavera
árabe-tupiniquim’ batendo às portas em 2013 sob o álibi das tarifas em São
Paulo; tampouco dimensionou que a diplomata estadunidense presente quando
derrubaram Lugo no Paraguai se mudara de mala e cuia para Brasília (lá e cá o
mesmo método, congresso-judiciário).
Sempre afirmamos que o jogo é bruto.
A desgraça se voltando para o Brasil
começou com a descoberta e prospecção do pré-sal. Estados Unidos (CIA e Departamento
de Estado) abertamente espionando. O esquema Petrobras foi todo manipulado a
partir dos Estados Unidos em conluio com a república de Curitiba. Pepe Escobar,
Assange divulgaram os fatos.
...
Por enxergar detalhes
tais — como já escrevemos recentemente — só acreditamos na
candidatura de Lula se houver por parte dele garantia para o mercado/classe
dominante (que se apropriou do país recentemente) de que não haverá ‘quebra de
contrato’. Ou seja, o que fizeram/compraram/espoliaram/queimaram será
respeitado.
Caso contrário é ficar com as euforias e fazer de
conta que não se vê o caminhar da juristocracia e dos que ora dela se
beneficiam.
(in
Euforias a reboque).
“Ainda que seja ele o único capaz
(como o fez quando governou) de perder os dedos para não perder os anéis. Os
milagrosos anéis das políticas de governo petistas voltadas para os menos
favorecidos.
Se o sistema o permitir, recomporá a
credibilidade e o respeito do país.
Até outro golpe.”
(in Lula, a bola da vez...).
“[...] sua presença à frente do
governo atende aos interesses mais comezinhos, tanto da classe dominante local
como de além mar.
Também levantado indignação crítica à
forma como a denominada oposição ao inquilino se porta, já que limitada ao
ramerrão da denúncia midiática que em si mesma não alcança o real objetivo
(justamente porque interpretada aos olhos e ouvidos do homem comum como apenas
‘coisa da oposição’, de quem perdeu o poder), sem meios e força para enfrentar
ou competir com os discursos de ódio, com a mensagem evangélica. Ou seja, o
discurso levado a termo pela oposição não conseguiu, em dois anos de
descalabro, reduzir o BOM(!) e ÓTIMO(?) de avaliação do inquilino para menos de
30%. Simplesmente — por incrível que pareça — dispõe ele de
1/3 de apoio até agora imutável.
Salvo esparsas vozes sem a penetração
necessária na base da sociedade a experiência recente deixa no ar que a
oposição não aprendeu a lição de que não precisa agredir ou perseguir mas não
pode confiar em projeto nacional amparado na burguesia. Sua postura nesse
instante parece demonstrar apenas a realidade imediata: a retomada do poder.
Para tanto ataca o inquilino do
Alvorada e esquece (e não o combate) a razão que a afastou do poder: o projeto
neoliberal, com o qual de certa forma conviveu e tolerou. Parece não atentar
que o que está em jogo permanece sendo uma luta de classes em torno da qual não
se situou além do discurso.
(in
Em meio à vitória avassaladora...)
Esta angústia que se nos acomete resulta de
não vermos a saída necessária e imprescindível ao trágico que vivemos com um
resultado eleitoral que sonhemos. Porque não bastará o discurso, a retomada do
poder, o retorno às políticas de redução das desigualdades ora destruídas se
tudo pode voltar a acontecer.
Sabemos — e parece que nos portamos
indiferentes — diante de fatos comprovados – que:
“o Departamento de Justiça (DoJ) norte-americano – órgão
equivalente à Procuradoria-Geral da Justiça brasileira, com a diferença de que
seu titular é ministro de Estado e, como tal, é demissível pelo presidente da
República – recrutou e treinou a malta curitibana, ainda no início da segunda
década deste século.
Em suma, a
tarefa consistia em desencadear a 'perseguição constante e sistemática ao
‘rei’…', para usar as palavras de Karine Moreno-Taxman, a “especialista” da
embaixada ianque, que inculcou aos seus aplicados alunos o método por eles
executado estritamente, como se viu nos anos seguintes: adoção de task
force; doutrina jurídica das “delações premiadas”; e 'compartilhamento
informal' de informações com o DoJ, por fora dos canais oficiais.
E, o
principal: criação do clima de ódio ao alvo da perseguição, mediante intenso
uso dos meios de comunicação de massa, de modo a articular na chamada opinião
pública, a demanda por sua condenação. A propósito, sempre é bom recordar o
motivo do especial empenho dos agentes do Império nesta empreitada – a
diplomacia “ativa e altiva” dos governos petistas, inclusive a atuação das
empresas brasileiras no mercado internacional de infra-estrutura, exercendo
forte concorrência às congêneres ianques.”
(Carlos
Frederico Guazzelli, in Sul21)
Precisamos reler os fatos. Mensagem de Pepe
Escobar (na TV247) reitera — com todas as letras — o que
temos dito. E não vemos discutidos, tampouco enfrentados publicamente.
Não por falta de aviso.