domingo, 28 de fevereiro de 2021

Álibis, cada forma e cada um a seu tempo

Há muito a “justificação ou escusa aceitável” tornou-se, em muitos casos, instrumento falacioso, meio de enganar e tapear afirmando não fazê-lo. Daí, sob este prisma, torna-se sinônimo de farsa e engodo.

No curso da História a farsa montada para corresponder a interesses e propósitos tem sido a tônica de governantes sem escrúpulos. O incêndio de Roma pelos “cristãos” ao alvitre de Nero; o do Reichsteig pelos “comunistas” ao sabor de Hitler; as “armas químicas” desenvolvidas por Sadan Russein para alegria de Bush Jr. Por aqui o Plano Cohen, dos “comunistas” para garantia do Estado Novo de Vargas. Até mesmo a tentativa terrorista de explodir o gasômetro do Rio de Janeiro pelos “comunistas” de sempre como o queria o brigadeiro João Paulo Burnier, em 1968 (Wikipedia).

A prática perdeu em si o controle. Todos, de uma forma ou de outra, a utilizam. Que o digam os denominados fake news tão em moda.

Portanto, caro e paciente leitor, os fatos adiante analisados para uma reflexão.

O primeiro deles

Matando coelhos com uma ou duas cajadadas. Assim vai levando o político Gilmar Mendes em seu permanente mister de fazer o jogo a favor dos amigos utilizando-se da toga.

Sua Excelência diz que tem o voto “praticamente pronto” (247) mas a cada dia vai acrescendo ao mesmo o que lhe chega de informações da vaza jato ora admitidas pelo STF no caso Lula.

Sabido e consabido que o ilustre ministro, formado no PSDB, dentro de um projeto de amparar o partido em nível de STF  como hoje sonha a caserna tupiniquim  tem em seu currículo (nada pequeno) uma infinidade de decisões eminentemente políticas beneficiando o PSDB.

O PSDB que sonha com um candidato que atenda aos seus reclamos, da linha Luciano Hulk e quejandos.

Qualquer atraso na decisão do STF que venha a inviabilizar uma candidatura de Lula em 2022 abre espaço para que a direita pátria fique mais à vontade e disponha de alguém que seja o contraponto ideal ao inquilino do Alvorada (fortíssimo candidato à reeleição), que se utilizará do auxílio emergencial no instante necessário, em doses suficientes a lhe assegurarem um pouco mais que acresça ao terço dos votos encrustados no pentecostalismo católico e evangélico, dos ‘cientistas’ terraplanistas que vestem amarelo, do militarismo miliciano, dos militares de pijama garantindo o controle de sinecuras.

O jogo duplo de Gilmar Mendes se apresenta  depois de haver declarado que o habeas corpus só assegura efeito no processo do tríplex e não no de Atibaia – muda de rumo, em dimensão menos desgastante: protela o voto, retarda a possibilidade de candidatura de Lula e sem que lhe ponham a culpa abre espaço para o conservadorismo tupiniquim permanecer no poder. Para tanto até com alguém da caserna, em último caso.

Por que dizemos que faz jogo político o ministro? Por uma simples razão: se o escândalo judicial (mundial, a teor de articulista do NYT) encastelado na lava jato (capitaneado por Moro, Dallagnol e asseclas outros) escancarado está e provas há mais que suficientes para atender ao pedido da defesa de Lula por que razão carece o ilustre e ilustrado ministro de gastar tempo inserindo novidades que lhe chegam?

É que na esteira de ‘novidades’ termina o século e as mesmas não se esgotarão.


E Mendes vai administrando seu projeto, utilizando de um álibi: ilustrar mais e mais o voto que proferirá diante das câmeras da TV Justiça.

O segundo

Para o caso de o resultado eleitoral não lhe ser favorável o inquilino do Alvorada vai preparando o terreno, as minas e casamatas para fazer valer o estilo Capitólio tupiniquim.

Inspirou-nos à avaliação posta adiante de material que circula no facebook, postado por Waldir Landim, como adaptação livre do poema Quatro Armas, de Xanda Boni

                                                                Poema seis armas

            

Seis armas de fogo para cada macho ciumento

Seis armas de fogo para cada homem inconformado com o fim do relacionamento

Seis armas de fogo para cada motorista birrento

Seis armas de fogo para cada jovem suicida sem alento

Seis armas de fogo para cada criança cujo pai é desatento

Seis armas de fogo para cada amigo briguento

Seis armas de fogo para cada aluno indisciplinado e violento

Seis armas de fogo para cada traficante que faz coleção de armamento

Seis armas de fogo para cada playboy boçal e marrento

Seis armas de fogo para cada comerciante assaltado e desatento

Seis armas de fogo para cada cidadão de bem inseguro e sem treinamento.

Seis armas de fogo para cada evangélico do velho testamento

Seis armas de fogo para cada eleitor fascista e jumento

Muito a propósito dos que enxergamos aí está o busílis.

Considerando que o limite liberado recentemente pelo inquilino do Alvorada é individual presuma-se que cada membro de uma família possa dispor de seis armas: marido e mulher = 12; mais um filho adulto + 6; se outro filho adulto... = 6. E lá se vai quase meia centena delas.

E há quem diga que não está em andamento um golpe armado para manter o inquilino do Alvorada no Poder.

“Para conter isso” a ministra Rosa Weber “pediu” explicações ao governante sobre o decreto publicado.

Como fazemos questão de frisar, a ministra “pediu”. Ou seja, nada vezes nada é igual a nada elevado ao cubo igual a nada.

Quando a sociedade de malucos armada estiver o STF é a mira por excelência, com Rosa Weber e tudo.

Álibi não faltará. 

domingo, 21 de fevereiro de 2021

Dois instantes por trás de biombos

Cena 1Bem melhor o ‘bom menino’ de Carequinha

O ilustre nada a braçadas largas. Como gosta. Entrevista aqui e ali. Mídia. E vai burilando os fatos à sua versão de bom menino. O bom menino que defende a democracia. O bom menino que combate a corrupção. O bom menino que defende as instituições etc. etc.

À BBC News Brasil Sua Excelência, ministro do STF, Gilmar Mendes descobriu o que ninguém sabia: o conluio criminoso entre juízes e procuradores da ‘lava jato’ que derrotou Lula em sua pretensão de tornar-se candidato (aí com singular ajuda do STF), a manipulação do processo eleitoral e, consequentemente, a ascensão do inquilino do Alvorada ao poder.

Tratamos de hipocrisia no dominical passado razão por que o dito cujo  já sabemos  vestirá muito chumbo para ocupar uma nova vala a ser aberta no oitavo círculo do Inferno de Dante destinada apenas a ele.

Mordendo e soprando vai tecendo sua função política ao sabor dos interesses da classe dominante a quem sempre serviu desde que encastelado no PSDB de FHC, que o guindou ao STF sob profundas críticas de personalidades do mundo jurídico. Basta  para que percebamos quem é o indigitado , o que sobre sua indicação escreveu o jurista Dalmo de Abreu Dallari, na Folha de São Paulo, em maio de 2002:


Se essa indicação vier a ser aprovada pelo Senado, não há exagero em afirmar que estarão correndo sério risco a proteção dos direitos no Brasil, o combate à corrupção e a própria normalidade constitucional”.

Não fosse quem é e o que representa bem melhor seria que o ‘bom menino’ Gilmar Mendes liderasse seus pares numa cantiga de roda e diante de um quebra-nozes qualquer apenas ouvisse Carequinha: “O bom menino não faz xixi na cama...”.


Cena 2: Gáudio

Assim observamos certas coisas que andam a nos acontecer. O imediato sempre a tônica da interpretação. Nunca as razões por quê.

Nesse (des)andar o deslumbramento cívico ocupa algumas mentes ‘cidadãs’  não poucas  por que a Câmara reconheceu prisão de um deputado decretada pelo STF.

O que não estão refletindo diante de tamanho júbilo cívico diz respeito ao porquê de tudo acontecendo.

A dimensão energúmena da figura grotesca alçada à Câmara graças a uns trinta mil admiradores não encontra deste provinciano cronista o menor respeito. Como também a tantos outros.

No entanto, imaginar que o dito cujo promoveu arroubos sponte propria nos soa pueril. Mesmo porque viu uma colega de valentia ser levada às grades por fatos semelhantes. Mas o fez.

Euforia com a possibilidade concreta de perda do mandato depois que os colegas mantiveram respeito à decisão que levou à cadeia. Não escapará de processos e condenações judiciais. Até para servir de exemplo a outros também afoitos de que os He-Man e o seu “eu tenho a força” estão vivos.

Mas eis o busílis: o que ganha a democracia brasileira com o fato centrado nesta figura abjeta? Tende o país à segurança diante de concretas rebeliões alimentadas por milicianos, a pataiada vestida de amarelo e armada em defesa do pato, parcela de policiais civis e militares em permanente estado de alerta, a gloriosa UDR armada até os dentes, a milícia religiosa de Edir Macedo desfilando pretorianamente e quejandos outros e mesmo aquele punhado de imbecis que arranjarão uma garrucha dois tiros e uma carreira para defender os seus ideais?

Claro que não, caro e paciente leitor. Tudo permanece como d’antes no quartel de Abrantes.

O risco que temos aqui denunciado mais se consolida e a fogueira que o alimenta a cada dia recebe mais combustível.

O energúmeno que motiva toda esta estesia não só tem aquelas três dezenas de milhares de admiradores que o elegeram no Rio de Janeiro atingindo múltiplos orgasmos quando o brutamontes arrancou e quebrou uma placa de rua que homenageava a vereadora Marielle Franco (uma história mal resolvida porque gente ocupando altos escalões no Planalto Central está envolvida).

Não, caro leitor, o perigo reside justamente aí: quando o Estado não se impõe ao respeito a coisa não anda nada boa.

Lembramos na edição passada (não custa relembrar) do pacote em andamento contra a civilização tupiniquim:


“Ampliação do direito ao porte de armas; propaganda de armas na televisão, rádio, revistas e jornais, redes sociais e aplicativos; a excludente de ilicitude (que visa beneficiar policiais, que passariam a matar “em legítima defesa”); redução da maioridade penal; exploração mineral em terras indígenas; ensino domiciliar na educação básica etc.”

Não esqueçamos da vocação a gendarme tupiniquim que norteia o militarismo brasileiro desde os primórdios da campanha republicana nos estertores do Império: pretendia ele ser o “grande pai da pátria”, o poder moderador ao qual todos e tudo pestassem vassalagem; que essa mesma gendarmeria protegeu o inquilino do Alvorada e deixou de expulsá-lo da corporação por terrorismo preferindo reformá-lo e mesmo deixou-o se lançar candidato de dentro da Academia Militar das Agulhas Negras; a corporação que fez inserir na Constituição tal vocação no Art. 142.

Sem pretender minimizar o fato que levou à prisão do deputado  justa em si, ainda que proferida por um STF que tem se calado ou mesmo praticado absurdos contra o direito, inclusive alimentando toda a tragédia que vivemos  enquanto aplaudem a canja de oxigênio para as instituições o que está sendo preparado contra elas é coisa de ser aplaudida efusivamente por Satanás.

Não, caro leitor, a coisa não é tão simples. Está tudo armado (em planejamento e materialmente) para que tudo permaneça, incluindo um governo que já abriga cerca 4% da tropa em escalões governamentais que garantem sinecuras singulares.

Por isso voltamos ao dito cujo: não está só. 

Assim, trilhemos a vocação inversa e não sejamos hiena (ri, ainda que coma carniça), não tenhamos como terra firme o pântano em que pisamos.

O problema não está nos idiotas travestidos de representantes do povo, mas em quem se esconde dizendo não fazer política e o faz diuturnamente.

E, diz a velha sabedoria, muito apropriada ao instante: canja de galinha e cautela nunca fizeram mal a ninguém.

Também não esquecer que biombos existem para esconder alguma coisa.


domingo, 14 de fevereiro de 2021

Na pátria da hipocrisia uma pá de cal no sonho de democracia

 

Eis-nos diante de um ministro do STF, fisionomia condoída, “perturbado” e querendo entender “como permitimos isso acontecer”, o que “fizemos de errado para que institucionalmente produzíssemos isso, um setor que cria sua própria constituição e opera seguindo seus sentimentos de justiça”.

O posto no primeiro parágrafo colhemos de Eric Nepomuceno no 247. O excelentíssimo em tal estado de inocência perplexo com o que se tornou a ‘lava jato’ — reconhecido pelo articulista Gaspard Estrada, do NYT, como “o maior escândalo judicial da história” — tem nome: Gilmar Mendes.

Promovido o intróito que nos leva a este dominical, convocamos o caríssimo e paciente leitor a ratificar conosco o significado de hipocrisia através no atual “pai dos burros”, a Wikipédia:

 

Hipocrisia é o ato de fingir ter crenças, virtudes, ideias e sentimentos que a pessoa na verdade não possui, frequentemente exigindo que os outros se comportem dentro de certos parâmetros de conduta moral que a própria pessoa extrapola ou deixa de adotar

 Vivesse Dante Alighieri nesta terra brasilis (de onde divisaria as quatro estrelas que diz ter visto quando deixa o Inferno para buscar o Paraíso), realizaria uma Divina Comédia rica em círculos. Não lhe bastariam nove no Inferno, onde desdobrou o oitavo em dez. Na sexta vala deste oitavo círculo reservou-a para os simoníacos, rufiões, sedutores, hipócritas etc.

Mas Dante não conheceu algumas peças desta singularidade chamada Brasil. Muito provável que criasse/arranjasse uma vala muito especial, dentro do oitavo para o “perturbado” Gilmar Mendes, porque sua conduta exigiria muito do chumbo existente na Terra para vesti-lo.

Por que o ilustre ministro do STF nos serve de apoio ao presente texto? Porque para nós é ele o expoente singular da hipocrisia encastelada no STF, representando uma parcela considerável dos que ali estão.

Ilustremos o raciocínio por etapas.

Noticiado o absurdo. Cômodo, porque conveniente, explorar a mesquinhez funcional (pautada no que se tornou comum entre parcela considerável do Judiciário, do Ministério Público, sem falar no papel decisivo de Procuradores da República em todos os níveis: atuação político-partidária) exposta por uma procuradora, Carolina Rezende: “Precisamos atingir Lula na cabeça (prioridade nº 1)”.

Partindo de uma indagação primária: teria ela, em si e funcionalmente, competência institucional para materializar o que disse? Claro que não. Sabia-o, no entanto, que não estava só. Tinha do juiz de Curitiba ao STF, passando por TRF-4, STJ, Procurador-Geral da República e quejandos outros, o apoio à sua pretensão. Apenas mera agente do absurdo por cometer.

Um general do exército (não o de Caxias, razão por que com letra minúscula, revisor!) confessa — sem qualquer preocupação com a Constituição da República, tampouco com as instituições jurídico/judiciárias — que pressionou, depois de decisão conjunta do alto comando da arma, para que o STF julgasse contra o Direito e negasse um habeas corpus a Lula em 2018. (247)

Um vice-presidente (também com minúscula, revisor!) confessa que tramou contra a instituição republicana para ascender ao poder (o que certamente lhe assegurou lugar cativo no nono círculo do Inferno).

No imediato da declaração do general sublevador, o ministro Lewandowsky publicou artigo na Folha, do qual destacamos, a partir do 247:

 

“E mais: para desencorajar possíveis tentações autoritárias, a Lei Maior prudentemente prevê que o chefe do Executivo e seus subordinados respondem por crime de responsabilidade, ou mesmo comum, pelo cometimento de eventuais excessos no exercício dos poderes extraordinários".

 Ironia para o instante, considerando a ponderação de Sua Excelência: quem vai pôr o guizo no gato?

Ultrapassemos a decantada hipocrisia e acolhamos a preocupação de Lewandowski. Partamos para a realidade, em torno da qual uma nada velada vocação do inquilino do Alvorada para perpetuar-se no poder se possível, não custa tentar não está em horizonte distante.

No imediato da vitória retumbante, elegendo presidentes da Câmara e do Senado, tudo começou a andar e de lambuja a autonomia do Banco Central foi sacramentada na Câmara Federal (339 x 114) mesmo em dia em que a casa não estava cheia (faltaram 60 deputados). Com nada mais, nada menos que 75% dos votos presentes a vitória do sistema financeiro-bancário poderia ser bem maior.

Este escriba de província indignado com os hipócritas (políticos, magistrados, ministros, procuradores etc.) a serviço da tragédia que se abate sobre o país indaga, altaneiro: quem duvida de que a pauta sonhada pelo inquilino do Alvorada não se materialize?

Ampliação do direito ao porte de armas; propaganda de armas na televisão, rádio, revistas e jornais, redes sociais e aplicativos; a excludente de ilicitude (que visa beneficiar policiais, que passariam a matar “em legítima defesa”); redução da maioridade penal; exploração mineral em terras indígenas; ensino domiciliar na educação básica etc.

Por razões tais não cremos em dias melhores. Cidadãos armados e polícias amparadas em suas ações letais (que se tornarão “legítima defesa”) tenderão a assegurar o golpe maior: tornar o país uma ditadura militar, ampliar o poder das milícias e calar qualquer voz contrária. Afinal, as mordomias e sinecuras, incluindo alimentares, não podem ser privilégio apenas do Judiciário e devem manter-se nos quartéis.

Na esteira da fala de um general golpista e do temor revelado por um ministro do STF (que não tem quem ponha o guizo institucional onde devido), temos que um outro ministro do STF está vitorioso no que tanto buscou ainda que “perturbado” e, sem dúvida alguma, trouxe para a pátria da hipocrisia aquela primeira pá de cal que acaba de ser lançada no sonho de democracia.


domingo, 7 de fevereiro de 2021

Em meio à vitória avassaladora Mourão é a solução

Temos, neste espaço, levantado permanente dúvida sobre a saída forçada do inquilino do Alvorada amparada em impeachment. Temos afirmado que sua presença à frente do governo atende aos interesses mais comezinhos, tanto da classe dominante local como de além mar.

Também levantado indignação crítica à forma como a denominada oposição ao inquilino se porta, já que limitada ao ramerrão da denúncia midiática que em si mesma não alcança o real objetivo (justamente porque interpretada aos olhos e ouvidos do homem comum como apenas ‘coisa da oposição’, de quem perdeu o poder), sem meios e força para enfrentar ou competir com os discursos de ódio, com a mensagem evangélica. Ou seja, o discurso levado a termo pela oposição não conseguiu, em dois anos de descalabro, reduzir o BOM(!) e ÓTIMO(?) de avaliação do inquilino para menos de 30%. Simplesmente por incrível que pareça dispõe ele de 1/3 de apoio até agora imutável.

Salvo esparsas vozes sem a penetração necessária na base da sociedade a experiência recente deixa no ar que a oposição não aprendeu a lição de que não precisa agredir ou perseguir mas não pode confiar em projeto nacional amparado na burguesia. Sua postura nesse instante parece demonstrar apenas a realidade imediata: a retomada do poder. Para tanto ataca o inquilino do Alvorada e esquece (e não o combate) a razão que a afastou do poder: o projeto neoliberal, com o qual de certa forma conviveu e tolerou. Parece não atentar que o que está em jogo permanece sendo uma luta de classes em torno da qual não se situou além do discurso.

Reconheçamos (demonstrado está) que não conta a oposição com a força e os meios de que dispõe o projeto espúrio do pentecostalismo (evangélico e católico); que perdeu muito de suas bases e está a reboque dos erros do inquilino do Alvorada. E este, com uma simples canetada, contornará os problemas em relação às bases desprotegidas da sociedade (fonte de votos), basta-lhe acenar com um “auxílio emergencial” no instante necessário, que mesmo castrado no momento ressurgirá próximo ao processo eleitoral, até porque (acuada) é esta oposição quem o defende (o que lhe é natural).

Dirá o paciente leitor que caminho outro não há no momento.

Este o busílis: o momento. O momento cobra ser compreendido. E a compreensão exige olhar o processo histórico por que passou o país e sua gente sob o tacão da classe dominante (escravidão e espoliação). Imperativo entender que essa classe que constitui a burguesia nacional é colonialista: servindo a quem quer que seja além desde que assegurados seus históricos privilégios e sinecuras às favas, dirá ela, os pruridos pátrios, o que inclui a democracia.

No fundo, uma classe dominante já muito bem espelhada por Gregório de Mattos Guerra no século XVII, por ele cognominada de “canalha infernal”, que não encontra para corresponder aos seus desígnios ninguém melhor que o inquilino do Alvorada.

Caso alguém duvide não custa fazer uma pausa para analisar o resultado das eleições para mesa da Câmara e do Senado: traduzem acordos espúrios, nada a favor da nação. 

Mas, caríssimo leitor – deixados os pruridos ao largo, fato concreto – o inquilino do Alvorada alcançou uma vitória retumbante, maior que a da sua própria ascensão ao poder. Não precisou de Moro, de procuradores da Lava Jato, da rede Globo, da Polícia Federal, da PGR, do TRF-4, do STF, de ‘marrecos’ nas ruas. Obteve-a a partir do projeto a que serve, do controle que soube exercer sobre seus correligionários e admiradores. Soube usar do que dispunha diante de um congresso (com letra minúscula, revisor!) fisiologista, emprenhado por bancadas que se digladiam em busca de cargos mas unida em torno de quem possa ‘ampará-las’.

No imediato do resultado os primeiros desdobramentos: uma deputada (processada judicialmente) famosa por seus fake news e deboche em relação ao combate ao Covid-19 assume a Comissão de Constituição e Justiça, o que significa que dispensada pelos pares está de conhecer a Constituição e muito menos a Justiça. Mas atenderá aos reclamos do inquilino do Alvorada.

A Comissão de Constituição e Justiça é a mais importante das comissões no Poder Legislativo. A primeira a apreciar em qualquer instância federativa (União, Estados, Municípios e Distrito Federal) analisa propostas de emenda à Constituição (ou à Lei Orgânica), a legalidade de projetos de lei, e tem a prerrogativa de mesmo segurar denúncias por lacunas jurídicas ou barrar o andamento de cassações de políticos e processos de impeachment.

Não se negue: uma vitória avassaladora!

O que acontecerá ao país aguarde o leitor: muito provavelmente tentativa de federalização das polícias militares o grande projeto do inquilino que tende a ser posto em discussão levantando os policiais militares do país em defesa do projeto de fechamento do regime para garantia de uma nova casta castrense (superam 400 mil que podem somar-se a outros 300 mil policiais civis), a partir de qualquer estado da federação, capaz de fechar o país e torná-lo império do inquilino, tão habituados estão a movimentos paredistas.

Não, caro leitor, este escriba de província não acredita como muitos o imaginam que o inquilino do Alvorada será defenestrado. Já acena com o que eles querem: privatizações... privatizações... da Eletrobras, da Petrobras; Banco do Brasil, CEF e Correios logo, logo etc. E quem poderia afastá-lo a quem incumbe, o Congresso enquanto participar do butim lhe dará sustentação. A não ser que o pedido extrapole as disponibilidades...

No mais, que Deus tenha pena de nós! Porque a oposição, presa ao torreão do castelo a que lançada, continuará pedindo por um impeachment que não ocorrerá.

E para completar o atual projeto das classes dominantes locais, considerando a possibilidade concreta de a suspeição de Moro ser declarada e anulados os processos da Lava Jato por ele manipulados em conluio criminoso com os procuradores da Lava Jato, reconheçamos a perseguição a Lula, anulemos as sentenças que o condenaram mas mantenhamos a suspensão dos direitos políticos (absurdo! absurdo! se anulada a sentença principal também o será a acessória) não o deixemos ser candidato, castremos seus direitos políticos.

Porque Lula é ainda o pavor desta classe dominante.

No mais muito provável que os mesmos se unam aos mesmos que hoje se concentram no inquilino do Alvorada: este mesmo STF conivente com o golpe por vingança ou temor a Lula (não sabemos por quê!) detém em mãos o cordel: acolhe um pedido e anula todo o processo contra o ex-presidente mas mantém o outro que o mantém inelegível.

Diante desta podridão a classe dominante (STF, Congresso, “elite branca” empresarial, latifundiária e financista) tem inegavelmente o seu melhor representante.

De nossa parte considerando o quão responsável pelo o golpe o foi o STF não duvidamos do alto nível de sordidez judiciária ali encastelada. Somente isso para lermos o que anda ‘vazado’ a Mônica Bérgamo por integrantes do STF de que com base na sentença do sítio de Atibaia aquela do ctrl-C ctrl-V da juíza Hardt, que substituiu Moro e deu seguimento ao ‘projeto’, e copiou e colou a partir da sentença do apartamento Lula permanecerá inelegível.

Pela teoria dos frutos da árvore envenenada (fruits of the poisonous tree) se são o juiz e seus acólitos procuradores a razão contra um réu tudo que viciado o seja partindo deles em relação a este réu o será por consequência. E foram Moro e seus procuradores a promovê-lo em relação ao sítio de Atibaia, inclusive usurpando competência territorial.

Esperar apreciação de cada um processo para o mesmo final apenas assegura a certeza da sordidez que norteia o STF e confirmará o fato de que Sérgio “Com Supremo, com tudo”  Machado tinha razão. Este STF que tem medo até de General de pijama e não resistirá ao cerco que lhe fizerem policiais amotinados.

Por quejandos tais afirmamos esperando estar errado que a vitória do inquilino do Alvorada foi avassaladora.

Na esteira dos fatos concretos para demonstrar o quão perdidos estamos há quem imagine que Mourão é a solução.