domingo, 26 de setembro de 2021

Por um torrão de açúcar nem a mãe escapa

 

Muito provavelmente o atestado de óbito da mãe do empresário Luciano Hang foi fraudado para esconder sua morte em decorrência de Covid-19 (247) a fim de que o tratamento recomendado pelo ‘mito’ não alimentasse as estatísticas contra ele. Sua paixão pelo ídolo fê-lo esquecer da Ética e da Moral.

Dirigente de empresa fraudadora declara haver ficado “eufórico” com a possibilidade de tratamento precoce reduzir as internações (247).

Caro e paciente leitor, onde se lê “internações” leia-se ‘custos’. Naturalmente quando se reduz custos aumentam-se os lucros. À conta deles nada além que o material, o vil metal. 

Ao filho, para corresponder ao ‘idealismo’; à empresa, o lucro, fazendo renascer Joseph Mengele, o mito comum de muitos.

Em meio a tudo isso ao largo simplesmente uma insignificância como fichas no cassino: vidas humanas. Tornadas cobaias para legitimar o tratamento precoce através de experiências não autorizadas, que o MP pretende apurar (247). 

O que leva um médico que jurou por Hipócrates a servir de capataz para o capital que explora não o difere de carniceiros. Assim como o filho que esconde a causa da morte materna se alinha e uma espécie de antropofagia contemporânea, causada por uma patologia psicológica definida como delírio, também denominada ‘transtorno delirante’.

Não são os fatos, caro e estimado leitor, mas o que revelam desde o recôndito dos tempos.

Jessé Souza diz o que a eleição do inquilino representou: “Só o racismo explica” sua “chegada ao poder”. Para ele um “racismo invisibilizado” (Carta Capital).

Perdoe-nos o ilustrado estudioso. Sua análise  ainda que amparada em pesquisas que fez  precisa se pautar mais no que escreveu (“A elite do atraso”).

É essa elite que cultua todas as formas de preconceito, onde o racismo configura uma das pontas de sua ‘rosa dos ventos’.

A “triste figura”  em nada condizente com personagem de Miguel de Cervantes  é a mais pura, legítima expressão do capataz do senhor de engenho, posto a espancar negros no tronco e na senzala ou do que fiscalizava a produtividade escrava nas minas e definia se ‘tigela inteira’ ou ‘meia tigela’ de comida para os desgraçados.

O ‘senhor de engenho’ hodierno é o capital especulador, que se apropria dos estados nacionais sem força geopolítica, de onde extrai as riquezas alheio às gentes. Onde houver, ouro, diamante, petróleo, nióbio, urânio etc. etc. lá está. E como não pode ocupar às escâncaras, como todo bandido e chefe de criminosos se vale dos ‘capos’ de sua confiança, que correspondam ao que deseja. Se necessário o racismo ponha-se o racismo em prática. Se necessário o discurso moral de combate à corrupção, seja este o discurso; se necessário o ódio e a divisão, odeie-se e divida-se; se necessário derrubar governos legítimos, derrube-se (inclusive com a conveniência do Poder Judiciário, peça fundamental para a coroação de seus projetos para legitimar sob a égide do pacta sunt servanda contratos criminosos, anistias, isenção de impostos, levar à prescrição crimes todos e golpes institucionais etc. etc.).

E os ‘capos’ se disputam em sê-lo na podridão de uma ‘elite  branca’ (Cláudio Lembo) ou da ‘elite do atraso’ (Jssé Souza).

Não se bastando essa gente em seu estágio delirante também se torna criminosa. Gente que saliva pavlovianamente quando o capital estala os dedos e lhes mostra um torrão de açúcar. Que se reproduz como cabelo de Medusa e controla os meios de convencimento e conversão de todos à sua verdade.

Aí está ela encastelada na burguesia (e mesmo pequeno-burguesia) nacional.

Há muito desacreditamos naquilo que muitos orgulhosamente denominam de Civilização Brasileira como expressão da Civilização dos Trópicos, conceito que elevava aos píncaros a utopia nacionalista de Darcy Ribeiro.

A construção de um conceito de ‘civilização’ nórdica (Suécia, Finlândia, Noruega) ou canadense, não se tornou objeto de currículo por aqui. Tampouco essa gente aceita desenvolver um pacto político que edifique em plenitude um Estado de Bem-Estar Social.

Orgulha-se tal segmento de ser arauto do nefando fiscalizar a tigela, ainda que careça de carniceiros.

Porque nem a mãe dessa gente escapa diante de estalo de dedos e de um torrão de açúcar.


domingo, 19 de setembro de 2021

Confessa a juristocracia aos palhaços que somos todos nós

 

Nossa lucidez começa a impor a afirmação: “Nada temos contra o inquilino do Alvorada”; apenas sobreviver por mais um ano e alguns meses. Certo que a altivez e orgulho próprio nos levam ao 'apenas'. Como condenar quem pratica a cada minuto uma agressão e permanece onde está, alcançado por comedidas opiniões desta augusta classe dominante? Sempre vocacionada não a destruir o país, mas a aprofundar a destruição que causa há cinco séculos.

A indignação que move este escriba de província mais se aprofunda diante do processo de reação às ‘sutilezas’ do dito cujo: o mesmo ramerrão, o mesmo ‘deixar sangrar’ para assegurar espaço que não soube manter. Não podemos e não seríamos justo – cobrar o passado incompreendido, mas não é suportável ausência de demonstração de que compreendeu o nível dos pecados.

Dia destes um paciente interlocutor levantava a conformada ponderação: “O Brasil precisava passar por tudo que está passando”. "Não tanto" – dissemos. Afinal, escravos não mais negros, índios; mas toda a geração que nasceu e está nascendo e que não integre o alto extrato da burguesia nacional. E que a dimensão da tragédia é tamanha que se torna exagero admiti-la como ‘aprendizado’.

As coisas erradas sendo aquecidas para o caldo do esquecimento e admite-se tergiversações em torno delas.

O ministro Gilmar Mendes, por exemplo, reconhece/confessa haver impedido a posse do ex-presidente Lula como Chefe da Casa Civil pautado na hipótese de que havia sinais de ‘desvio de finalidade’ (247). Ou seja, ‘havia sinais’, não provas ou indícios, tanto que admite ter sido induzido a erro. O famoso ‘eu acho’ que norteia esta singular juristocracia pátria (aqui). Presumiu (confessa) enxergar um “desvio de finalidade” (que lhe caberia avaliar a posteriori) em ato próprio inerente à competência de um chefe de Poder Executivo (no caso, da Presidente da República) de nomear e exonerar no que diz respeito aos cargos de livre nomeação, aqueles denominados ‘de confiança’. Esqueceu Sua Excelência de dizer que a petição por ele despachada fora subscrita por gente vinculada ao seu Instituto, o que leva o autor a “presumir” (achar) que foi orientada pelo indigitado ministro.

É isso ‘cara pálida’. Fala como se nada de errado houvesse cometido e nem se curva ao fato de que tal postura é uma das peças que desencadeou a tragédia que aí está, tudo a partir de uma escuta clandestina efetivada por um juiz envolvido no “conserto” com o ministério público para fazer política.

E mais disse Sua Excelência: “O Brasil precisa repensar seu sistema de Justiça” a partir de análise do Mensalão e da Lava Jato, processos considerados por ele como um modelo autoritário (ah! augusta juristocracia!).

Antes, em seu voto no julgamento do Mensalão o ilustre ministro Gilmar Mendes fazia referência à existência de dinheiro público, ainda que o inquérito 2474, requisitado pelo relator Joaquim Barbosa, desmentisse isso, tanto que o escondeu dos pares. Mas sua Excelência ‘achou’ que havia ‘dinheiro público’ e condenou por corrupção quando deveria fazê-lo por caixa 2.

E nesse diapasão tudo aconteceu no palco daquele surrealismo jurídico-midiático. Incluindo o histriônico voto da ministra Rosa Weber afirmando que não via ela prova contra José Dirceu, mas a ‘literatura jurídica’ a autorizava condená-lo. Arre!

Aparece um jornalista investigativo e demonstra (o que para os lúcidos sempre foi visível) que aquela ‘facada’/fakeada fora programada etc. etc. Não falta representação na imprensa para ‘desmentir’.

Rachadinhas aqui e alhures, milícia, corrupção em ministérios etc. etc. Genocídio se aproximando de 600 mil mortos por Covid-19 e não temos nem 20% da população vacinada com duas doses. Atividade econômica despencando quando comparada com a década anterior. Inflação e custo de vida nas alturas, desemprego e fome.

É dose para leão, caro e paciente leitor, conviver com tanto cinismo. O povo não participou, portanto ‘não precisava passar por isso’ disse ao nosso interlocutor. Tanto que parte dela, convencida pelos áulicos de sempre, que votou no inquilino do Alvorada, hoje declina de repetir o erro.

No entanto, a classe dominante encastelada em todos os segmentos de poder (ou pela força do dinheiro ou dos interesses individuais os quais defende com unhas e dentes) transita faceira por entre os escombros, lamentando apenas não estar faturando mais. Encastelada no Congresso porque controla a maior parte da representação; no Judiciário (especialmente em suas altas cúpulas) para que tenha decisões e interpretações que lhe sejam favoráveis. Para ela, detentora do poder econômico, nada mais existe que seu próprio umbigo, elevado aos píncaros de deidade.

Presidente da FIESP (golpista de primeira hora) ajustando o freio de arrumação mais visando a manutenção das atuais políticas econômicas.

Assim, sentimo-nos insignificante diante de tanto apoio ao inquilino. Na realidade, como diz o ex-ministro Eugênio Aragão (o acerto de Dilma nos estertores depois de errar durante anos com José Eduardo Cardozo no ministério da Justiça), no momento as ‘elites brasileiras’ puseram uma ‘coleira’ no chefe do governo ao fazê-lo divulgar a missiva elaborada por Michel Temer (247).

Verdade absoluta: afinal, traduz ele, em plenitude, a mais perfeita representação do que é essa “elite branca” (Cláudio Lembo), “do atraso” (Jessé Souza). A ‘elite’ que de modo algum demonstra não desejar a permanência do presidente que ‘elegeu’.

E assim estamos aprendendo a não ter nada contra o inquilino do Alvorada. E sim contra os que o sustentam direta ou indiretamente.

Que invadem nossos lares através dos meios de que dispõem e controlam nos fazendo de palhaços.

E mesmo confessam posturas espúrias, como a existência de uma velada juristocracia. 


domingo, 12 de setembro de 2021

Aos da farinha do mesmo saco “as batatas” e o apelo a crer na “boa fé”

 



Guimarães Rosa cunhou, através de Riobaldo: “viver é muito perigoso”; Mafalda, personagem do cartunista argentino Quino, estende a uma outra vertente o perigo: “Viver sem ler é perigoso, te obriga a crer no que te dizem”.

Entre os sertões e veredas de Riobaldo e esta contemporaneidade não descuramos de perceber a acentuada visão posta por Mafalda. Que se agrava diante de um fato singular: há gente que se imagina capaz de entender porque estudou. Aí o busílis: ler (quando lê) e não entender o que leu. Daí para aquele universo levado a “O delírio e ‘vade retro satana’” nenhum óbice.

Mas o que deve ser criticado não é somente o que não lê, mas o que lê e não entende. E o pior deles, o que se dizendo lido promove severa discussão com quem não lê para provar que o supera por haver lido. Confuso, parece!

Na esteira da tirinha que trazemos de Mafalda podemos acrescentar: é muito mais perigoso ler sob encomenda e fazê-lo sem dispor da mínima condição de dialetizar, de comparar fatos  em busca de uma conclusão, de desconhecer o passado como lição e o presente como passo para o futuro.

Mas, caro e paciente, leitor enveredamos por este trilhar diante dos esgueirares de membros do STF e o inquilino do Alvorada no curso desta augusta semana em que as instituições entraram no ringue e dele saltaram para o terreno da galhofa. Trocaram farpas aqueles, sentindo-se feridos por este.

Dispensamo-nos por respeito ao leitor do registro de Carl Jung em seu livro de memórias (Memórias, Sonhos, Reflexões), mais ou menos nos seguintes termos: ‘Aprendi a não dizer aos outros o que não podem entender”. Eis um caminho para os que cultuam a sensatez. Mas não o somos a contento.

Em meio às diatribes na troca de farpas entre o inquilino e membros do STF temos que aquele se sai vencedor, ainda que desmoralizado e acovardado. Não porque tenha formação intelectual e nesse terreno os tenha superado, mas por ter sido competente em trazer para seu palco de batalha algumas daquelas singulares Suas Excelências.

O que as levou a caírem no fosso deixa a pensar! No palco deste não menos singular mambembe esculachar é aula de Latim e Grego, partitura de Beethoven, texto de Machado de Assis. Essa gente não lê Milton Santos, Celso Furtado porque são comunistas tampouco interessa saber quem foram e o que fizeram D. Hélder Câmara, Dom Paulo Evaristo Arns etc. etc.

E olha lá um deles (das Excelências!) com toda a empáfia que a transmissão televisiva permite voltando a justificar a segurança do processo eletrônico-eleitoral do Brasil. Depois de ‘vencedor’ com a queda do projeto no Congresso insiste em provar.

Provar o quê? Que a dúvida persiste, caro leitor. Inclusive nele.

Fazemos de nossa parte a leitura que outros não fazem: das responsabilidades de cada um no atual processo de desagregação e desestruturação institucional do país regido pela cegueira mental, que é a pior forma de cegueira.

Os que desceram do patamar para guerrear na planície formaram turbas/tribos diversas, mas – pelo nível da logística e da estratégia da batalha – tornaram-se farinha do mesmo saco.

Não precisa ser doutor (bastam os bons autores e as boas obras) para entender que de priscas eras formou-se no Brasil uma classe dominante que disputa com igual tear mundo a fora para saber quem mais medíocre na capacidade de olhar para o próprio umbigo como se fora ele a origem do mundo. “Elite branca” (Cláudio Lembo) ou “Elite do atraso” (Jessé Souza) fez dela derivar uma classe média – mais pequeno-burguesa que outras tantas – que alimenta no curso da história uma sub-intelectualidade boçal, iletrada, desinformada, invejosa e odienta, em especial diante daqueles que a superem em informação e conhecimento.

No fundo, um conflito de classes dela se origina sem que disponha do minimo minimorum em nível de informação absorvida. Sua burrice, em muitos casos, deriva da exploração alheia até no fazer provas antigamente às custas de colas fornecidas pelos menos favorecidos. Resulta daí o ódio por aquele que aspassou mas que não é da mesma classe.

E não se trata, caro e paciente leitor, de transitarmos por níveis de escolaridade. Este é o biombo que também se expressa naquilo que denominamos de “cultura da certificação”. Ou seja, de o ‘certificado’ falar por si, ainda que quem o detenha possa tê-lo conseguido por vias pouco escrupulosas, alguns, inclusive, respondendo a apurações criminais. Muitos frequentaram altos níveis de escolaridade mas somente sentaram nos bancos escolares e responderam avaliações em limite mínimo necessário à aprovação, que nesta terra brasilis em geral é 5,0.

Eis que descobrir o ‘conhecimento’ das coisas, interpretar o que diante de si exista, trilhar por saberes lógicos e racionais incomoda aos que negam o pensamento crítico como meio de pensar e ver o mundo que não lhes interessa porque lhes foge a capacidade de desenvolver qualquer liame de uma consciência crítica.

É a turma que não aprendeu, portanto não sabe, e crê em qualquer coisa que lhe digam sem pestanejar. Formam uma enciclopédia de páginas vazias sem capa.

Caro e paciente leitor, estamos sob permanente estado de vigília. Bem que podíamos – parodiando Guimarães Rosa, “acordar de alguma espécie de encanto” outro, não este que nos acomete e atordoa. Deixarmos de estar “no meio da travessia”. Afinal não custa esperar “Deus é paciência. O contrário é o Diabo”. O que não podemos perder é “a vontade de ter coragem”.

Mas, duro mesmo é ouvir de Sua Excelência, o ministro Gilmar Mendes, do STF (um dos artífices de tudo que aí está) não sabemos se por autocomiseração, velado pedido de perdão e quejandos outros que lhe são próprios, quem sabe(?) uma vocação masoquista declarar que “é preciso acreditar na boa fé” do inquilino do Alvorada. Como desconhecemos nele qualquer veia humorística temos que sucumbe à delirância.

Para esse “campo de batatas” em que se tornou a terrinha de todos nós, em nível de rés do chão — sem Rubião como interlocutor — convergem não só “duas tribos famintas”, mas, em desespero por mais espaço, militares fora dos quartéis, pentecostais e carismáticos longe das igrejas, e loucos de todo o gênero longe dos hospícios que passaram a formar uma estranha consciência de um pensamento inusitado que assola o país.

Decididamente “viver é muito perigoso” em meio a certas expressões/personalidades que povoam esta que já foi ‘terra de Mãe Preta e Pai João’. “Navegar” não mais “é preciso”  negam, os da lagosta e caviar, o repensar de Fernando Pessoa, que trouxe ao seu idear o "Navigare necesse; vivere non est necesse" proclamado por Pompeu (general romano, 106-48 a.C.)  bastando “acreditar na boa fé”!  

A eles “as batatas” diria Quincas Borba. Mais sadia a Humanitas do ‘bruxo do Cosme Velho’ que a “boa fé” desta contemporaneidade.


domingo, 5 de setembro de 2021

Voto impresso versus juristocracia — Conclusão

 

Diante das observações anteriores temos que uma última premissa se impõe analisar, qual seja o porquê da celeuma em que se tornou o ‘voto impresso’: cavalo de batalha, cavalo de Troia, biombo para um jogo no campo político-eleitoral.

Dois lados conflitam em relação ao ‘voto impresso’: um, contra; outro a favor. E cada um manuseia o biombo conforme seu interesse. Nenhum preocupado com a Democracia que diz defender. Razão por que por trás de cada uma das posições no atual processo de discussão não está em jogo qualquer dimensão que a tenha sob a ótica democrática ou o mais importante instrumento de legitimação do processo eleitoral quando salvaguarda o direito à irresignação (pedido de recontagem) ou de auditoria do sistema, o que seria apenas mais uma forma de controle externo dos vários existentes no país.

Sob esses aspectos que deveriam ser o crucial centro de atenção todos os atores que se fizeram presentes no palco da discussão passaram ao largo dele.

Cabe-nos aqui ponderar em torno dos contra uma vez que os argumentos a favor (negados em nível de discussão) já foram expostos anteriormente. Aliás, fácil vislumbrar que os argumentos utilizados por aqueles que são contra não se fazem permeados da lucidez jurídica imprescindível quando se afastam (ou afastam do tema) fundamentos e princípios inalienáveis de Direito.

Assim, alheados da realidade o que os norteia remete-nos então por indagar em torno daquele famoso “a quem” ou “a que interessa”.

Da mídia e da FIESP nada a comentar, sabido e consabido os interesses que defendem. E seus interesses estão sempre vinculados à conquista do poder e sua manutenção, ou seja, manutenção de quem possa assegurar históricos privilégios.

No entanto o ministro Roberto Barroso (STF/TSE) ‘democrata’ como poucos, dirão os encantados pela naja liderou a contrariedade à proposta justificando-o em defesa do processo democrático. Justamente uma figura à qual cabia entender razões principiológicas que norteiam o Direito, uma vez que está claro que no atual sistema não há qualquer possibilidade de recontagem, tampouco de auditagem do resultado (não confundir com auditagem da urna), o que nega o direito recursal em qualquer de suas formas.

Dizemos isso porque não queremos crer que sua posição (do Ministro) tenha se originado do fato de a ela haver aderido o atual inquilino do Alvorada (aliás, o maior cabo eleitoral contra ele mesmo), que insiste no mesmo método levado a efeito pela extrema-direita estadunidense e de logo prepara o espírito para uma fraude em 2022 (caso perca as eleições, naturalmente).

De Sua Excelência (que não lembra por conveniência) não esquecemos que defendeu o impeachment sem crime da ex-presidente Dilma Rousseff porque a tramitação na Câmara se fazia correta para o seu augusto entender. Ou seja, negou o que qualquer aprendiz de feiticeiro em Direito sabe, de que em casos tais o formal (o processo de impeachment) carece do material (crime); sem crime o processo pode ser obstado por falta de justa causa, o que um simples habeas corpus assegura, mas os senhores do STF (em maioria) disseram que não.

O que nos deixa com aquela pulga atrás da orelha diante da posição de Sua Excelência é o fato de negar o escorreito em favor de quê? Ao alimentar a dúvida não há certa confissão de que o sistema atual apresenta falha (fato comprovado e pouco divulgado)?

Cumpre ressaltar que a presença do inquilino do Alvorada entre os que defendem o ‘voto impresso’ gera um posicionamento muito ‘contra ele’. E a antipatia que tem gerado no seio de segmentos sociais leva à defensiva.

No entanto, não vemos no 'inquilino do Alvorada' nada além do que ele é. O que diz sobre o tema gira apenas em ver repetido o que o 'grande pai do Norte' ensinou (e voltou aqui através de agente estatal para discutir, entre outros, temas de seu interesse).

Outrossim, não se diga que o contingente contra o voto impresso se limitou a searas à direita porque a esquerda enveredou de corpo e alma na função de ópera bufa em que se tornou a discussão: ser contra ou não. No caso dela, contra porque o inquilino a proclamava.

A opinião deste escrevinhador de província vai mais além, no campo prático: fizeram o jogo do 'inquilino do Alvorada' os que atribuíram a ele possível caos com implantação do voto impresso para fins de conferência de resultado/recontagem. Até porque o indigitado não é salvo prova em contrário em termos de sanidade e competência, capaz de entender a realidade sob o prisma do 'direito à irresignação'.

Finalmente, fizeram o jogo do inquilino os que o combateram no campo por ele posto, nivelados a ele. Poderiam tê-lo deixado a ver navios, sem qualquer argumento para mobilizar o seu 'exército' em defesa de um golpe. Diluiriam seu argumento, bastando aceitar algo que é lógico.

No entanto, deram-lhe o argumento que não tinha e palanque para ameaças às instituições e ensaiar o ‘seu’ golpe.

No caldeirão ou na rede caíram todos. Engambelados pelo argumento vazio de que o voto impresso constituía retrocesso diante dos avanços do processo eleitoral se não regido por ‘sua excelência’ a urna eletrônica elevada à categoria de ‘divindade’ com todos os seus atributos: onipotência, onisciência e onipresença.

Por fim, os que acreditam nos postulados à esquerda de defesa de uma sociedade mais igualitária costumam confundir o que acreditam como o que se faz para por em prática o que imaginam acreditar.

Essa a razão por que muitos embalados de mala e cuia na defesa que a esquerda fez do processo eletrônico como existe nesta terra brasilis, a ponto de negarem o mais sagrado dos princípios: o da irresignação jurídico-processual.

Em meio aos avanços encetados pela sociedade brasileira de exercer o controle externo de instituições várias (inclusive do Judiciário) estranha a insistência do TSE em ser — em nível de eleições — uma típica empresa “única no mundo” que “projeta, fabrica, transporta, instala e opera urnas, organiza eleições, controla o eleitorado e os partidos e julga o próprio desempenho”, como observou comentário na internet (GGN).

Cremos que enquanto persistirem dúvidas sobre o processo eleitoral no atual formato a inteira impossibilidade de recontagem ou auditagem do resultado no sistema eleitoral brasileiro torna a alta cúpula do Poder Judiciário no ‘poder’ capaz de decidir quem deve vencer uma eleição.

Passível de manipulação que provem tal impossibilidade, basta admitir a auditagem na forma que venha a ser prescrita em lei cremos ser este o torreão que alimenta a resistência do STF/TSE em dispor de um processo transparente e confiável. Ele, que não demonstrou interesse no aperfeiçoamento quando pôde fazê-lo, a partir das eleições de 2002, vigorando a Lei 10.408/2002, que criara o voto impresso (revogados por Lula, em 2003, os dispositivos que o instituíam) e 6,18% do eleitorado o exercitaram na totalidade das seções eleitorais do Distrito Federal e do estado de Sergipe.

Não fugimos a perceber a existência de ‘gato na tuba’ desafinando a seriedade que se exige do processo eleitoral no quesito conferência ou auditagem do resultado, forma elementar de controle externo.

Além do horizonte vemos na postura do STF/TSE uma velada e nada disfarçada vontade de juristocrizar este país.

Sinais os há: STF manipulou o ‘caixa 2’ (crime eleitoral) e o transformou em corrupção (inclusive com Joaquim Barbosa escondendo dos pares o famoso Inquérito 2474 que ele mesmo requisitara a Polícia Federal para comprovar a existência de recursos públicos oriundos do Banco do Brasil, fato que o inquérito não encontrou e que inocentava a todos por crime de corrupção diante da ausência de recursos públicos); o mesmo STF que ‘inventou’ prisão com condenação em 2ª entrância ainda que a Constituição afirme o contrário; que referendou os atos praticados pela Lava Jato em desconformidade com a lei no tempo em que deveria tê-lo feito; o mesmo STF que se omitiu diante das aberrações que envolveram o impeachment e a destituição de uma presidente da República; inclua-se o TSE e sua temerária omissão diante de crimes perpetrados no curso de eleições, em especial aqueles cometidos por quem se tornou vencedor em 2018.

São sinais evidentes de que ‘quando eu quero eu faço’, ‘tenho o poder’ etc. etc. Para nós traduzidos em uma palavra, simplesmente: juristocracia, que significa


Sistema de governo, normalmente não democrático, baseado em decisões de juízes, magistrados, desembargadores, etc. Onde qualquer juiz de qualquer instância pode decretar o que bem entender se utilizando de mecanismos judiciais casuísticos para impor à sociedade, à (sic) um indivíduo ou instituição a sua percepção pessoal, ou servindo a uma ideologia ou grupo político em prejuízo da Ética, da Legalidade Moral ou dos anseios populares.” (Dicionário Informal)

Eis o porquê daquele jogo anteriormente referido (aqui) relacionado a “ um poder” que não quer se “bastar às suas funções institucionais”, pretendendo ser “capaz de investir não somente em temas originários do Poder Executivo ou do Poder Legislativo”, mas de tornar-se “contraponto ao defendido ‘poder moderador’ das forças armadas”, com força “capaz de interferir” na política, basta que municiado de apoios que não dialetizam a realidade.

Não lhe faltam os apoios da classe dominante e seus instrumentos (mídia e quejandos). E ganha (esperamos que tenha prazo) o valioso apoio da esquerda.

E assim, no jogo da juristocracia, a esquerda (de joelhos) confia nas instituições não confiáveis. As mesmas instituições que a afastaram (e às suas valiosas políticas públicas) do exercício do poder, não só alimentando (pela omissão) um golpe como inviabilizando a candidatura de um candidato oriundo de suas hostes praticamente eleito.

Mas, ainda há gente que prefere acreditar em Papai Noel e esquecer do que dizia Leonel Brizola sobre o sistema eleitoral eletrônico brasileiro sem voto impresso. Ele que sabia das coisas, desde que o Proconsult ministrou-lhe lições em 1962.