domingo, 5 de junho de 2022

De prostitutas e de prostíbulos

 

No curso da semana ‘folheando’ a rede  descobrimos dois fatos aparentemente longe de se aproximarem: o dia 2, Dia Internacional da Prostituta, lembrado pelo leitor Lamberto Rocha, e uma postagem de Marta Almeida (ex-TV Santa Cruz), trazendo informações patrimoniais de determinado político brasileiro, advogado que, sem exercer a profissão, apenas vivendo de política e venda de chocolates, adquire mansão em Brasília no valor de R$ 6 milhões, com aumento no patrimônio recente de 397%.

O Dia da Prostituta é conquista de quase meio século, vinculado ao movimento encetado por mais de uma centena delas que ocupou a Igreja Saint-Nizier, em Lyon (França), naquele 2 de junho de 1975, protestando contra a precariedade de vida e o desrespeito a que submetidas.

Denominadas de ‘mulheres de vida fácil’  certamente por quem nunca viveu a decantada ‘facilidade’  ou, na ironia de Millôr Fernandes, mulheres “de consumo de massa”, são reconhecidas desde os primórdios da história da Civilização. Algumas, famosas: Victorine Meurent (a musa de Manet), Maria do Egito (a Santa Maria Egipcíaca), Teodora de Bizâncio (tornada imperatriz ao se casar com Justiniano, de Constantinopla), Mata Hari (de trágico fim, fuzilada como espiã), Madame Pompadour (a paixão de Luis XV), Maria de Magdala (a Madalena dos Evangelhos, que para alguns pesquisadores nunca teria sido prostituta, mas liderança inconteste na Igreja Primitiva).

Lupanares, bordeis, casa de tolerância, rendez-vous, assim denominados os espaços destinados à prostituição. Onde concentram os estigmas e preconceitos todos da sociedade e adjetivados como local em que tudo de escória social se aperfeiçoa. Repercussão do imoral e, como tal, forma de macular qualquer coisa.

Diz-se, do inominável, que é um prostíbulo.

Ao conceito de propriedade atribuído sobre a atividade sexual das prostitutas os não pouco famosos cafetões ou gigolôs, que as tinham como propriedade, função assemelhada ao hodierno sistema financeiro (explorar o alheio sem nada investir de seu). Também fizeram história, ou, quando nada, inspiraram belos filmes, como “Irma, La Dulce” (1963), de Billy Wilder, Jack Lemmon e Shirley MacLaine em personagens e desempenhos ímpares.

Daquele 'inominável' acima pontuado não se afaste o uso indevido do dinheiro público. Ou sua manipulação em dimensão patrimonialista, ou seja, apropriação de recursos públicos como se fora propriedade sua a fonte que não lhe pertence. De certa forma, um tipo de gigolô com outra indumentária.

Muito – neste quesito em nível de espaço e comportamento  pode traduzir postura de prostíbulo: orçamento secreto para atender emendas parlamentares de ‘amigos’, cartões corporativos usados abusivamente, licitações predatórias, obras superfaturadas, caixa 2 em campanhas políticas, gabinetes ministeriais paralelos, inclusive integrados por certos pastores e pregadores religiosos (no momento revelados na figura de alguns evangélicos a serviço do privado/material e não do espiritual, criadores do “ouremos”), rachadinhas, etc. etc. e haja etc. nisso!

E a inovação: integrando galhardamente a galeria do inominável certos cantores e duplas sertanejas bafejadas pela ‘sorte’ de se verem elevados em remuneração à dimensão de gênios que lançam na cloaca Beethoven, Mozart, Bach, Chopin, Schumann, Schubert, Gershwin etc.

No mês em que se comemora, desde 1976, o Dia da Prostituta, vemos a ampliação de prostíbulos sem as tradicionais “damas da noite”. E até o famoso ‘gigolô’ cedendo espaço, porque se outros são os prostíbulos há nova espécie de exploradores que avança como saúvas sobre o tesouro do país.

Certo que dinheiro público continua sendo explorado mais e mais como sempre o foram as tradicionais prostitutas, para saciar uma nova e promissora safra de gigolôs exercitando o mister sob outras denominações.

Para não dizer que tudo está perdido, de muita alegria ver o itororoense Netinho do Forró  O Vaqueiro Cantador  e seu “Arraiá do Vaqueirão”, com agenda cheia entre 1º de junho e 31 de julho. E saber que não integra aquele grupo que fatura milhões através de “paixões” singulares brotadas deste ou daquele administrador custeadas com recursos da educação e da saúde nossas de cada dia.


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