domingo, 21 de maio de 2017

Buracos profundos

Um escândalo moral quando o filme “Garganta Profunda/Deep Throat” (1972) – pornô dirigido por Gerard Damiano/Jerry Gerard, estrelando Linda Lovelace – exibiu sexo explícito. Adotado como símbolo da liberação sexual estadunidense nos anos 70 levava a que suas cenas de sexo fossem vistas como ataque à moral hipócrita. 

Com esse nome ficou conhecido o ex-diretor do FBI Mark Felt, a fonte que orientou a investigação de Watergate, o escândalo político que levou à renúncia o presidente Richard Nixon.

Em razão de gargantas profundas o país está vivendo em buracos.

Buraco I – oportunismo
A irresponsabilidade para com o país, em defesa de interesses eminentemente pessoais (ou de grupos restritos) levou a um buraco, no campo político, milhões de vezes maior que aquele do metrô de São Paulo, no campo físico.

Uma rápida rememoração exige lembrar: movimentos desestabilizadores de 2013 visando resultados em 2014, onde beneficiários seriam os opositores do então governo, com destaque para PSDB/DEM/PPS e penduricalhos deram o passo planejado, urdido a partir do exterior descontente com o papel desenvolvido/assumido pelo Brasil no cenário da geopolítica mundial.

Correndo por fora e alimentando a fogueira Eduardo Campos e seu PSB, que teria Marina Silva no costado. Seria o tertius para o sistema caso não pudesse o PSDB ir ao segundo turno e ele, Campos, encarnaria a concentração opositora e se elegeria presidente, derrubando o governo então no poder e que viria a ser reeleito.

Não dando certo pelo viés eleitoral, o resultado foi de imediato contestado. Não por fundamento legítimo, mas por insatisfação em permanecer a classe dominante fora do controle absoluto do poder por mais quatro anos.

Em torno do projeto se uniram membros do Poder Judiciário (incluindo STF), do Ministério Público e da Procuradoria da República, do Poder Legislativo e da grande mídia capitaneada pelo sistema Globo. Não mais a prevalência do Estado de Direito, do respeito às leis. Mas a ocupação do torreão instalado no Palácio do Planalto de qualquer forma e maneira – como diz o caboclo mineiro. 

Assegurando-lhes apoio logístico forças internacionais coordenadas a partir dos Estados Unidos.

Afastada a presidente eleita assumiu o interino, que se tornou permanente, não para corresponder ao programa de governo que elegera a chapa majoritária. 

Então a crise política aprofundou-se em decorrência da ilegitimidade. Afinal, não se tratava de um vice que assumia, mas um títere para assegurar mudanças no Estado para atender aquela classe dominante em sua vertente nacional e (mais) internacional. Desmontar o patrimônio estatal amealhado nos últimos anos (o pré-sal) e fazer efetivar promessas de Malan/FHC em 1999 não materializadas em razão da vitória de Lula em 2002 através de privatizações/doações.

Ocorre que o discurso moralista – sempre incompatível, como solução, com o político – não poderia desaguar em outra coisa. Imaginar que uma viciada – historicamente – classe dominante, habituada a dar as ordens desde a Colônia, exploradora em sua essência, individualista, destituída do mínimo resquício de concepção de Pátria e Nação trouxesse solução para uma crise onde ela mesmo em muito (muitíssimo) ajudou seria acreditar em papai noel.

A composição das forças que assumiram o poder – apodrecidas por convicção e método – exacerbaram na dosagem de partilha do butim. 

Temos que uma certa insegurança quanto ao futuro e a incerteza quanto a permanência no controle levaram a uma ação de governo que escancarou sua dimensão assaltante.

E não deu outra. Porque o jogo já não tem o domínio absoluto deste ou daquele grupo, mas de um conglomerado que começou a se ver minado por denúncias fora da unidade de um controle político. Cada um vivendo outro oportunismo: o de salvar a própria pele.

Buraco II – fonte
No país onde somente um partido político – e suas lideranças – era apresentado como quadrilha única se viu, de um instante para a outro, escancarado, inteiramente nu. Nem mesmo a informação manipulada, praticada pela mídia, teve como selecionar e filtrar o que tinha que divulgar, atropelada que foi pela avalanche dos fatos.

A sequência de delações de grandes empresários atingiu um ponto sem retorno. Justamente porque o modus operandi é único: financiamento/controle privado do poder político em sua dimensão representativa (Executivo e Legislativo). Em outras palavras: uma parcela significativa de deputados, senadores, chefes do Poder Executivo (em todos os níveis) são eleitos por empresas. 

(Até o momento estão na berlinda somente parte delas, visto que o sistema financeiro e bancário não perderam ainda suas vestais. Questão de tempo – que o diga uma anunciada delação/ameaça de Antônio Palocci).

O dito pela Friboi/JBS (apenas uma parte do sistema) bem demonstra o nível de controle, amparado num processo eleitoral que existe para que tal ocorra: só dela saiu dinheiro (600 milhões de reais) para irrigar a campanha de 1.829 candidatos de 29 partidos políticos, conseguindo “eleger 167 deputados federais de 19 siglas, bancou 28 senadores e fez 16 governadores” (O Globo).

Ainda que o dito pela empresa dependa de comprovação em torno de sua veracidade quanto à finalidade – para não generalizar – os números assustam: mais de um terço na Câmara, quase outro no Senado e mais da metade dos Estados brasileiros, por seus governadores. 

E isso apenas oriundo da JBS! E o empresariado das FIEPSs da vida, dos bancos, do agronegócio?

Buraco III – não escapa um!
Não se tenha – sob visão imparcial ou mesmo apologética, muito menos altruísta – a iniciativa dos sócios da JBS/Friboi como oriunda de um surto moralista. Apenas mais um na cadeia (ops!) que domina o país – mais competente que a Odebrecht – que dimensionou os riscos para o conglomerado que atua além mar, com base nos Estados Unidos, hoje dependendo do Brasil menos do que se imagina.

Não passa a atuação denunciada da demonstração do que realiza essa classe dominante. Colonialista, entreguista, descompromissada com o país e seu povo, que realiza aqui o ganho sonhado para consumo lá fora.

Nenhum altruísmo na JBS/Friboi. Apenas salvar os dedos, entregando alguns anéis.

Emílio Odebrecht cinicamente já afirmara como agia, inclusive de sua tentativa de adquirir Petrobras e a Embratel (com ajuda da Globo) no curso das privatizações promovidas por FHC.

Da mesma forma que buscamos criminalizar a Política e a generalidade dos políticos, também que deles se diga: não escapa um!

Buraco IV – Judiciário
Disse-o a ex-ministra Eliana Calmon que nem o Judiciário escapa à apurações.

A JBS/Friboi tem – pelo divulgado – controle sobre juízes. E, sabe-se lá mais o que venha dessa trilha.


Buraco V – Ministério Público
Considerando que seja parcela insignificante da representação corporativista, o santo do pau oco também se faz presente no Ministério Público. 

Haja vista um dos Procuradores que defendeu aquelas ’10 medidas contra a corrupção’ estar preso e sob investigação.

Buraco VI – imprensa
Na mesma esteira a divulgação, pelo sistema Globo, das denúncias que abalaram os pilares da política nacional. Veja o porquê.

Por que?
Caso não assumisse a divulgação outra televisão noticiaria. 

Então, simplesmente perderia a publicidade da JBS/Friboi que – dizem – hoje sustenta 70% da folha da TV Globo.

Como dizia o amigo Pitanga, lá em Itororó: Ou calça de veludo ou bunda de fora.

Buraco VII – Direitos e Garantias constitucionais
Mais buraco nas garantias individuais. O aprofundamento do caos leva à generalização de que o que está acontecendo está certo. 

Opinião não é ciência. Assim, da mesma forma que Delcídio foi preso também o afastamento de Aécio Neves – ainda que não preso – padece de respeito à ampla defesa e métodos a ela inerentes: procedimento processual instaurado, direito à defesa etc. etc.

"Tem que ser um que a gente mata ele antes de fazer delação”
Faz parte do diálogo mineiramente humanístico de Aécio com Joesley.

Cristina Aparecida, modelo, assassinada por volta de 2000. Diziam ser ela ‘mula’ do esquema de Furnas, que alimentava o ‘mensalão tucano’. 

Havia um cara, em Minas Gerais, ex-policial, que dizia, com todas as letras: “Aécio Neves é traficante”. Morreu.

Todas as desconfianças que dizem respeito à relação Aécio e narcotráfico voltam à tona. 

Inclusive aquele famoso helicóptero do Perrela (destinatário do dinheiro rastreado pela Polícia Federal). 

Tancredo Tolentino – primo de Aécio – ficou famoso soltando narcotraficantes com ajuda de um desembargador de Minas Gerais ao módico preço de R$ 120 mil.

"Acossado"
Não o filme (A bout de souffle), clássico de Jean-Luc Godard, de 1960, mas o interino tornado presidente.

“Tem que manter...”
Entrará para a História como o “Independência ou Morte” dos acossados.

O interino está certo!
“Não renunciarei!” – diz o interino tornado presidente. 

Está certíssimo.

Sairia do Planalto para a cadeia. 

Caso não dependesse dos dois juízes comprados pela JBS.

Sublimação
Dilma foi afastada em razão de umas tais pedaladas. Nunca confirmadas. Ao contrário, inexistentes, ou praticadas por todos os que ocuparam o cargo, inclusive o interino.

E a República se vê diante de uma quadrilha – em todos os termos – no Poder.

Que não pratica pedaladas, mas assaltos, mesmo! 

Lula liquidado
Não afastem Lula como alvo. Afinal mostrar que estão atingindo a todos atingir a Lula – massacrado pela mídia – é apenas mais um.

Sua condenação por Moro, mesmos sem provas, passa a ser justificada.

Não esquecer que Lulinha sempre foi um dos donos da Friboi – coisa divulgada e internalizada no imaginário de parcela da população.

Para a mídia condenação de Lula será apenas a do ‘chefe’.

O mote
O Globo já fala em R$ 150 milhões da Friboi para Lula e Dilma. Não diz se para campanhas ou para cota pessoal. 

Nenhuma delação vinda a público, até agora, cita o nome dos dois como beneficiários diretos. 

No entanto, há muito circula que Lulinha – o filho – é dono da Friboi.

Subornado
Na Lava Jato há(via) um procurador subornado pela Friboi. Supimpa!

Esse Lulinha é capaz de tudo!

Lembrado, para não ser esquecido
O juiz Sérgio Moro afastou as perguntas encaminhadas por Eduardo Cunha ao interino tornado presidente.

Está explicado.

Coisa estranha
Quem pôs as provas (filmagens, interceptações etc.) nas mãos da Friboi e autorizou a divulgação?

Na rede
Gozador na rede fala em possível pedido de asilo político por Aécio Neves. 

Buscará asilo na República de Curitiba, onde se dá muito bem com o presidente de lá.

Miúra
Sabíamos que há muito nelore na linha de abate da Friboi. Mas nunca imaginamos que dispusesse de miúra contra desafetos.

                       


Momentos de ternura
Entre encantamentos e ternuras, figuras angelicais se encontram. Como a construir a personagem de Aldir Blanc “Esmeraldo Simpatia É Quase Amor” (Rua dos Artistas e Arredores, originário de crônicas publicadas no Pasquim).

Só falta a turma repetir o bloco carnavalesco – inspirado na personagem de Aldir – “Simpatia é quase amor”.

Tanto que não cansaremos o leitor com fotografias de Moro, Aécio, o interino, Luciano Huck etc. etc. etc. etc. entre homenagens, brindes e abraços

Novidade!
Há quem se escandalize com a intimidade (incluindo pedidos) entre o senador Aécio neves e o ministro Gilmar Mendes, do STF.

Inocente!

Não interprete mal ou faça mal juízo da coincidência ao lado.

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