domingo, 7 de maio de 2017

Tantas coisas

Alimento
Os pobres de espírito na contemporaneidade brasileira são todos os que somente leem o que lhes interessa. Em todos os sentidos. Ou seja, leio para afirmar uma fonte daquilo que já tenho pré-concebido. Em meio a isso desaparece qualquer possibilidade de abrir discussões de caráter crítico em relação a fatos com vistas a busca da verdade factual, a verdade em si.

No processo judicial sempre se presumiu a busca por essa verdade. Atuações recentes – em muito amparadas no espalhafato que as envolve – lançaram às calendas a busca pela verdade. Não se tratando da Divindade ou a Ela teologicamente parentada, não cabe à espécie a afirmação de Cristo no “Eu Sou a Verdade...” (João, 14:6). 

Que dizer em torno da Verdade buscada pela sociedade no punir o semelhante a partir de um julgamento? Na justiça dos homens a verdade precisa ser provada. Tanto que, presunção não faz verdade sem que provada. Presunção antecede, para que a prova seja materializada e reconhecida na conclusão, de caráter sentencial, dispositivo.

E nessa dimensão específica – a busca da verdade pela prova – não cabe métodos que ultrapassem os limites estabelecidos por lei. Fiquemos, aqui, com a lei brasileira. Porque no que diz respeito aos tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário são rasgados no dia a dia, como ocorre – apenas para ilustrar – com a Convenção Americana de Direitos Humanos, conhecida como Pacto de San Jose da Costa Rica, e suas garantias judiciais estatuídas no Art. 8º.

Parcela da população brasileira – o que demonstra o atraso a que estamos retornando – jacta-se com declarações de condenados sob a égide de delações acordadas, porque não mais premiadas tão somente. 

Depois de a Civilização haver ultrapassado a etapa do suplício corporal e das almas (onde tudo era cabível, da tortura física à mutilação etc. etc.) como meios de obtenção da verdade (onde a Inquisição celebrou aos píncaros tal absurdo) voltamos àquela fase, onde o encarcerado é levado a dizer o que o acusador quer sob pena de apodrecer nas masmorras.

Para não gastar o precioso tempo do leitor cabe-nos registrar: tudo para obter prova contra um acusado onde nenhuma prova factual foi encontrada em três anos de procedimentos investigativos e tudo o mais que seja possível instrumentalizar.

Já afirmamos neste espaço que das duas uma: ou o acusado é perfeito no que faz ou a investigação que o acomete é incompetente, ainda que disponha de toda a tecnologia moderna para obter a comprovação de suas alegações/convicções.

Ou, como diz Luiz Nassif: “Contando com os mais potentes instrumentos de investigação da história – a NSA, FBI e Departamento de Justiça na cooperação internacional, os bancos de dados do Banco Central, Receita, Coaf, as interceptações telefônicas e as delações premiadas – a equipe da Lava Jato não conseguiu levantar uma prova sequer contra Lula.

Nestes três anos o que não faltou mesmo foi manchete em revista, rádio, jornal e televisão condenando-o antecipadamente.  

O que alimenta os pobres de espírito.

Cutucada
O recuo de Moro em relação ao número de testemunhas arroladas pela defesa de Lula não deixa dúvidas de que temeu a alegação de cerceamento de defesa caso se utilizasse da faculdade que lhe é atribuída por lei de limitá-las; tentou constranger o arrolante e não deu certo. No segundo plano, de que errara ao promover a exigência.

Não bastasse a revogação de sua determinação, sponte propria, viu-se sucumbir por força de concessão de liminar em ordem de habeas corpus impetrado pela defesa de Lula.

Quem cutucou Moro não foi um desembargador, mas um juiz que exerce a função de substituto, que prolatou a decisão liminar, à qual remetemos o leitor através de Marcelo Auler

Nada falta
Se faltava alguma coisa nada mais falta. A Lava Jato, que dispõe até de uma agência de publicidade para assegurar-lhe a visibilidade que necessita, como meio de fazer-se respeitada e aplaudida, tem outdoors aqui espalhados em Curitiba para fortalecer a imagem dos catões da moralidade brasileira em viés parcial (falta indagar quem os paga!).

Juiz, procurador e delegado dependendo de propaganda é o fim do mundo. 

Ou falta de convicção.

Insatisfação ou insubordinação, eis a questão
Nem falemos em desrespeito. Está ele contido in re ipsa (na própria coisa) no conteúdo do texto levado a público e exaltado por muitos dos de sempre. Dos que encontram no Estado de Direito tão só o estado para o meu direito.

Imaginar um procurador, um promotor reagindo a uma decisão que não lhe agrade, quando tem-no – nos limites da competência funcional – através do recurso processual é o fim da picada. É escancarar a postura político-ideológica.

Agravada por fazê-lo contra decisão do Supremo Tribunal Federal. 

Retorno à senzala
Andou-se falando de retorno à escravidão, dentro das críticas às reformas trabalhistas postas em andamento pelo interino tornado presidente.

Não bastou o que está em andamento. Uma reforma trabalhista específica para o trabalhador rural se encontra no projeto. Foi deixado de lado o discurso e partiu-se para a consumação do inconcebível, incluindo integralidade da remuneração em moradia e alimentos.

A teor da proposta só falta exigir que a moradia seja coletiva, senzala, e os alimentos comprados no barracão da fazenda.

No fundo do imaginário dessa gente está explicado porque do ódio a Lula: botou essa gente da senzala/roça na Universidade! 

Retorno
Há coisas primorosas na proposta, como a dispensa de instalação de banheiros e sanitários para as empresas rurais se não superar o número de 20 empregados.

Mijar, só na rodinha e cagar, só no mato. Como nos tempos de antanho.

Segundo golpe
Maia, presidente da Câmara, desarquivou proposta de prorrogação de mandatos.

Ou o golpe dentro do golpe, como aconteceu com o AI-5. 

Para inviabilizar possível candidatura/eleição de Lula adia-se o mandato do interino tornado presidente e, naturalmente, governadores e senadores, sob o álibi da coincidência de mandatos.

A ditadura foi mais consentânea: adiou o dos prefeitos, para um mandato de 6 anos, para coincidir com o de presidente da república.

Não bate prego em estopa
José Dirceu é um símbolo. Gilmar Mendes, no STF, votou a favor de sua liberação. 

Caíram de pau em Mendes. Desconhecem que o ministro Gilmar Mendes não bate prego em estopa. Liberar Dirceu – símbolo da esquerda – é justificar suas ações/decisões futuras contra quem pretende apurar e processar seus amigos do PSDB e do PMDB.

Gente fina é outra coisa
Ah! Sabe o estimado leitor que o senador Aécio Neves andou depondo na Polícia Federal? Não? Natural!

Pelo tempo de duração do depoimento – uma hora – não deu nem para falar daquele helicóptero. 

A que ponto chegamos
A imagem veiculada mostra um cassetete sendo quebrado na cabeça do manifestante em Goiânia, nas mobilizações do dia 28 último.

Para a Folha não passava de “um homem trajado como policial militar”.

Quem foi afastado – sem meios termos – foi o capitão ... da Polícia Militar.

Fica-nos a certeza de que o jornalismo (informação) praticado por alguns órgãos de comunicação (como a Folha de São Paulo) não é sério.

Primeiro porque: considerando alguém vestido de policial cabia – a priori – a informação de que (até prova em contrário, por condescendência) se tratava de um policial.

Segundo: quem fotografou sabia. 

Dourar, nem aí!
Houvesse critérios crítico-dialéticos (redundante, que seja!) e um fato concreto seria manchete de página inteira em toda imprensa: por que o desastre tucano a partir de algumas delações?

O massacre por que passa o PT há, pelo menos, dez anos causou fraturas graves ao partido. Nenhuma dúvida.

No combate PT x PSDB o tucanato levou vantagem comparativa. Nenhum meio de informação(?) tradicional o acusava/acionava, ainda que próceres de sua seara estivessem sempre sob o crivo de denúncias (graves, algumas).

Mas tudo parecia (e ainda parece!) ter nascido e só a ocorrer em razão da existência do PT e dos governos petistas. 

Nada a ver com UDN, ARENA, PDS, PFL, DEM, PMDB moderado e quejandos outros que se alimentam das decanas mediocridades do pensamento ocidental, sob a glória da exacerbação liberal (neoliberal), beneficiários históricos dos desmandos quando estiveram no poder, salvo raras exceções.

Mas a nenhum partido político no Brasil, depois do PTB de Getúlio Vargas no imediato do suicídio, no curso do que se denominou udenismo como sinônimo de extrema-direita e entreguismo, se vê submetido a um massacre como o vive (ou sobrevive) o PT.

Nenhum proselitismo ao até aqui posto. Mesmo porque carecemos retomar a indagação inicial  do desastre tucano  respondendo-a.

No primeiro plano porque ocorre o que a sabedoria popular leciona: quem tem telhado de vidro não joga pedra no alheio. 

No segundo, porque o método cansou – não bastasse a fragilidade do catonismo tucano (somente defendido em plenitude pelos meios de comunicação que o servem e dele sempre se serviram).

No terceiro estágio, os reveses de uma política de governo que se exauriu – em essência e em instante – à qual aliaram-se.

No fundo, em tudo que está relacionado a Lava Jato – em sua dimensão político-eleitoral – está naquilo que a mesma sabedoria diz: mexeram e deu pra feder. Ou, jogaram m... no ventilador.

Que não escolhe lugar para atingir. Muito menos cara. Porque não pensa, como a mente dos colegas.

Na esteira da promessa não cumprida não há imprensa que desfaça a realidade.

Ainda que doure a pílula!

O beco
O controlador do beco está perdendo o controle, desde que passaram a existir as redes sociais.

Observa Nassif, a partir das mobilizações do dia 28: 

"Além disso, a mídia já havia sentido o desgaste de anos de jornalismo militante, de pós-verdade, de manipulação das informações. Nos últimos tempos, com dez anos de atraso, caiu a ficha que a única maneira de se diferenciar da miscelânea das redes sociais seria voltar a praticar um simulacro de jornalismo.

A recaída com a greve, porém, mostra que a síndrome do escorpião é invencível.

Entram em uma cilada complicada.

Se continuam a apostar no jogo da desinformação, aprofundarão o buraco em que se meteram. Se vacilam, há o fator Lula. E foi tão forte a radicalização política da mídia na última década, que a bandeira central da campanha de Lula certamente será o da regulação da mídia e do combate implacável à rede Globo.
Manter o jogo atual, portanto, é questão de sobrevivência para a Globo. O que significa que apostará todas suas fichas em Dória, ou em um pacto de ditadura com Bolsonaro ou abolindo as diretas. De qualquer modo, jogará todas suas fichas na condenação de Lula e sua inabilitação para 2018."

Desafio
Lula desafiou, no sentido de que toda a audiência em que será ouvido (incluindo todos os espaços e personagens) seja disponibilizada à rede/divulgação.

Foi posto, mas não será aceito. 

No escondidinho todo namoro sempre foi ideal. 

Imagine na busca por convicção!

Deu no GGN
"A Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional divulgou nesta quinta (4) a lista de deputados federais e senadores em débito com a União, e também a relação de devedores que financiaram campanhas eleitorais de candidatos à Câmara e ao Senado. O órgão também informou que estas informações não são protegidas por sigilo fiscal e estão disponíveis para consulta pública.
Nesta semana, a Comissão Mista do Congresso Nacional aprovou a Medida Provisória (MP) 766/17. Programa de Regularização Tributária (PRT), conhecido como Refis.  

A MP aprovada dá descontos de 99% em multas, juros e encargos da Dívida Ativa da União, e seu relator foi o deputado Newton Cardoso Júnior (PMDB/MG), cujas empresas devem ao Estado mais de R$ 67 milhões, segundo o Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional (Sinprofaz)."

Não precisa explicar!

Penas do tiê
Ainda que a letra não seja a íntegra do original (do compositor Hekel Tavares, editada em 1928), a interpretação de Maria Bethânia e Omara Portuondo (cubana) nos leva à beleza que melodia e versos encerram.

                       

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