domingo, 11 de março de 2018

Lições, eleições e ilusões


Combater utilizando os instrumentos do adversário não deixa outra compreensão: renúncia à luta. 
A ordem jurídica de 1988 desmoronou. A hora é de jogar fora as ilusões",  afirmação que está 
consolidada.” Tratar os desiguais de forma desigual deve ser o paradigma para o instante atual:
 utilizar os meios possíveis, ainda que não institucionais, para repelir as agressões que ferem aquelas.

Entenda o leitor que utilizar-se de meios ‘não institucionais’ tem sido a prática de Legislativo, 
Judiciário e Executivo nesta contemporaneidade.

Não cabe respeitar instituições apodrecidas. Mas, lutar contra elas. Ocupar os meios para extirpa-las.

As falas de Lula, no entanto, são uma confissão de Fé nas instituições democráticas. Defende-as com unhas e dentes, ainda que manipuladas e vilipendiadas por quem delas deveria cuidar.

Não deixa de ser uma postura altruísta e corajosa, em defesa do que acredita. Mas parece desconhecer que foi lançado naquela briga de rua onde o grupo de meninos fortes o escolheu para saco de pancada. E ele, nem mesmo pega uma pedra para assusta-los. Luta com as armas do inimigo. Neste duelo em que não há as pistolas daqueles de antigamente, iguais para ambos.

No fundo, mais está para vítima. Joana D’Arc. Só que queimará na fogueira e quando for canonizado somente restará o compêndio da História. Limitar-se-á a ser Dom Sebastião. Ou seja, apenas assustar.

A situação por que passa o país não pode ser resumida apenas à disputa político-eleitoral, mas à própria sobrevivência do Estado em dimensão de soberania. Qualquer coisa feita para salvá-lo a História o reconhecerá. Afinal, claro está que a luta da classe dominante e dos interesses por ela defendidos passa pela manutenção do atual estado de coisas e a eleição de quem quer que seja fora do poder ‘instituído’ ilegitimamente não será tolerada.

Sob esse viés, Lula utiliza de sua imagem e carisma para preservar o que iniciou e espera ver retomado. Mas não é assim que pensa o establishment, incluindo parcela representativa do Poder Judiciário.

Eleito o bode expiatório das punições contra a corrupção, ainda que sem prova, está condenado, enquanto o chiqueiro exulta. Sabe disso e enfrenta com purismo a situação.

As eleições são o caminho.

Resta a esperança, de que cadeia Lula possa influenciar nas próximas eleições.

Esta a ilusão de cada um dos pretensos candidatos progressistas, que não enxergam o momento histórico e desconhecem o sentido de uma frente ampla.

Todos lutando sob a ordem institucional. Que será violada, tantas vezes quantas necessárias.

Não sabemos se somente este o caminho. Mas, como observa Rodrigo Viana: “Ilusão. A ordem jurídica de 1988 desmoronou. A hora é de jogar fora as ilusões.”

Lembra Viana: caso Lula estivesse em Viena, e fosse judeu, estaria morto em algum campo de extermínio, porque não seguiu o exemplo de Freud. Este, ainda que acreditasse nas ‘instituições’, quando percebeu a possibilidade de mais ser reconhecido como objeto de limpeza étnica e menos como cientista deixou-se fugar para Londres.

Mas, assim parece, não aprendemos as lições, porque acreditamos nas eleições e nas ilusões.


Nenhum comentário:

Postar um comentário