domingo, 22 de abril de 2018

Delações combinadas


De nossa parte – considerando que o ministro Gilmar Mendes não bate prego em estopa – temos que a parafernália em favor dos tucanos e quejandos – agora que Lula se encontra inviabilizado em sua candidatura – caminha para assegurar que tudo fique como dantes no quartel de Abrantes. Naquela de mudar para ficar no mesmo – diria Tomasi di Lampedusa.

Os sinais não estão só evidenciados. Estão escancarados. Basta ver as últimas atitudes de alguns procuradores, juízes e mesmo do ministro Gilmar Mendes (aqui).

Não custa lembrar – porque a imprensa oficial(?) tem memória curta – Sérgio Machado dialogando com Romero Jucá (aqui). Deste ouviu a pérola (aqui misturado, para aproveitar a essência): “Tem que resolver essa p.... Com o Supremo, com tudo”. Ou seja, para Jucá a continuidade de Dilma à frente da Presidência da República levaria as apurações da Lava Jato até os peemedebistas. Incluindo algum bode expiatório do PSDB, o senador Aécio Neves o mais aventado.

Por outro lado, não podemos descurar dos ingentes esforços do juiz Sérgio Moro para livrar os amigos. Quando Yousseff citou Aécio Neves como beneficiário de propina de Furnas em seu depoimento lançou o famoso “não vem ao caso”. 

Assim também o fez quando Nestor Cerveró citou os 100 milhões de dólares de propina recebida pelo PSDB na compra da YPF argentina pela Petrobras, em 2002, tempo de FHC, em que o então tucano Delcídio do Amaral dirigia um dos departamentos da estatal. Sua Excelência afastou qualquer apuração sob tutela da Lava Jato porque “antecedia 2003”, e o período que lhe interessava – deixava subtendido – era o de Lula/PT para cá. O mesmo Moro já beneficiara a Globo quando apareceu o Mossack (administrador de fundos lá fora que controlava recursos da Globo, em nome de quem a mansão de Paraty).

Agentes do Ministério Público e juízes (alguns deles, porque não podemos comprometer a imagem das instituições pela ‘delituosa’ postura de alguns de seus agentes) já requerem e veem deferidos os pedidos para que tucanos envolvidos em denúncias de propinagem sejam beneficiados, respondendo por crime eleitoral e não por corrupção. 

Ou seja, saiam da seara da Lava Jato e passem a julgamento pela Justiça Eleitoral de seus estados. Alckmin já foi beneficiado. A seguir Marconi Perillo e Beto Richa. 

Os petistas não tiveram a mesma sorte nas mãos de Joaquim Barbosa, que não deixou de “fazer das suas” remetendo para a justiça mineira o mensalão/caixa 2 do PSDB mineiro enquanto ‘assumia’ o petista e passava a apurar e julgar quem deveria estar sob a tutela da justiça comum, inclusive de acusados que não tinham por foro o STF.

O que Gilmar Mendes denunciou em relação à Lava Jato, durante sessão do STF na segunda semana de abril – fatos sabidos e consabidos há muito – da existência de uma “indústria da delação”, mostra que não somente se tornou em atuação política, mas também criminosa, a de procuradores, advogados e, ainda que remotamente, o juiz Sérgio Moro – por alimentar e se alimentar de delações combinadas. Que o diga Léo Pinheiro, da OAS, e o próprio Marcelo Odebrecht, que mofariam na cadeia em Curitiba sem possibilidade de redução de pena, caso não inserissem Lula em sua delação.

Lula, muitos assim entendem, jogou fora a oportunidade de emparedar o STF quando não resistiu à prisão. Não por desobedecer a ordem, mas por ter sido – ela, a ordem – emanada ao arrepio da Lei, o que levaria o STF à decisão de delimitar entre cumprimento e abuso. Como aceitou, tudo fica legitimado.

Outros, no entanto, demonstram competência para emparedar STF, PF, e a Lava Jato é o próximo alvo deles, em benefício próprio. Os criminosos estão à solta – os não petistas ou os bagres que legitimam as arbitrariedades – tucanato emplumado livre, leve e solto.

Os dois links disponibilizados através do texto levarão o leitor à reflexão. Para então compreender o que está por trás do ataque às “delações combinadas”. Que não tem por alvo o grave crime em si, mas o desdobramento para evitar que os “amigos’ possam sofrer o que outros já sofreram.

O ministro Gilmar Mendes único dos pares do STF que compreende o jogo político (e sabe jogá-lo) domina os meandros do poder e sabe utilizar sua atuação em defesa de amigos e de interesses.

Para quem duvidar de sua capacidade de manipular fatos em seu favor lembramos apenas dois instantes extremos: o grampo sem áudio (onde acusou a PF de estar espionando seu gabinete e com isso terminou por ver o presidente Lula afastar o Diretor Geral da ABIN, Paulo Lacerda, que incomodava medalhões protegidos de Gilmar Mendes) e a concessão de liminar impetrada por advogada de seu Instituto (dele Gilmar) para impedir a nomeação de Lula para a Casa Civil da presidente Dilma.

Quando parcela do Judiciário começa a resolver os problemas do PSDB o ministro Gilmar Mendes reforça a luta contra a Lava Jato. Que, efetivamente, vem cometendo irregularidades e ilegalidades para obter muito do que tem obtido. 

Com o beneplácito do STF. Que o diga o falecido Teori Zavaski, que legitimou o vazamento do áudio grampeado de telefone do Palácio do Planalto, entre a Presidente Dilma e o ex-presidente Lula, crime cometido por Sérgio Moro.

Mas, daí até ver na denúncia do ministro Gilmar Mendes pelo purismo da defesa da legalidade é desconhecer os meandros traçados por Sua Excelência na condução da política através do STF. E não ver que não só de ‘delações combinadas’ se faz este país.

PRÓXIMA SEMANA: O país sem futuro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário