domingo, 22 de setembro de 2019

As faces da insanidade e o sumiço da lista


Faces da insanidade que nos acomete
A insanidade definitivamente ocupou este país. Algumas expressões são mais palpáveis que outras. Umas, cotidianas – historicamente cotidianas porque cada tempo tem a sua e seu profeta – impregnadas no inconsciente coletivo, no dia a dia, de tal forma que se tornou natural com elas conviver. Outras melhor expressadas por autoridades que se dizem arautas das soluções finais. 

O exercício do poder em todos os tempos, o combate aos vícios no curso da história humana, os estereótipos pautados para explicar ao alvitre do explicador.

O que vemos em tudo isto que chamam de Civilização pautado está em interesses. A dimensão ofertada à licitude entre eles. Afinal, sem violência (para defender a ideia de defesa própria e segurança) não há como vender armas e munições; sem consumidor/usuário de drogas não há como desenvolver a indústria em torno do combate que a elas se exige objetivo, porque evitar não convém a tal produção; com escola pública não há como vender a educação fornecida por particulares. E por aí vai.

Sob esse viés nunca será demais indagar quem direta e indiretamente se beneficia neste jogo de interesses.

Fernando Brito (no Tijolaço) toca numa daquelas “expressões cotidianas” acima referidas para expor a dor de uma família diante da morte de uma criança (de 8 anos), fuzilada no complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, por um governo que é incapaz de enfrentar técnica e cientificamente o crime e, por falta de câmaras de gás, encontrou outra fórmula para a sua solução final.

Mas, recorramos a Brito:

E a razão é simples: armas e drogas, tudo isso dá lucros. Não apenas aos traficantes, mas há policiais e ex-policiais enfiados até o pescoço no tráfico de ambas”.

Não basta acrescentar ao dito que talvez quem menos ganhe seja (em nível de tráfico) aquele que comercializa na ponta. Não fora isso, como explicar o sumiço de mais de meia tonelada de pasta pura de cocaína de um helicóptero de um político, amigo de outro político, apreendido pela Polícia Federal?

Brito não exageraria se acrescesse que não só policiais e ex-policiais. 

Também aqueles a eles vinculados ou que deles se beneficiam e que através do terror por eles implantado se elegem e constroem um império singular à sombra do denominado Estado de Direito. 

Não à toa até são condecorados ou apadrinhados em cargos públicos de livre nomeação.

E dizem que vivemos num Estado moderno e civilizado.
...
Há bandidos e bandidos. Uns perseguidos pela lei, porque cometeram ilícitos; outros, acobertados pela lei, utilizando-se da lei para cometer ilícitos na certeza de que a Justiça não os alcançará.

Nessa vertente a tirania se faz presente, a vontade do tirano e loucuras afins levadas a efeito de dominação porque detentor do poder. Poder outorgado ou não.

Um governante que – a título de segurança da população – autoriza a matança como forma de combate ao crime não pode ser considerado além de um símbolo de tirania. Porque desconhece (por interesse) as regras que norteiam a apuração criminosa no estado de direito e põe a solução final (sem processo) como saída única.

Há bandidos e bandidos. Um fio de navalha conceitual os distingue. Uns à margem do Estado; outros nele encastelados.
...
Mas também há povo e povo. Povo que espera, porque acredita, que o Estado seja o instrumento de soluções. 

Há, também, povo que sublima no tirano a tirania que é dele e não tem como exercitá-la por si. Transfere-a a outro pelos meios de que dispõe. 

A eleição de alguns tipos bizarros bem sinaliza este estado de degradação naquilo que Etienne de La Boétie (1530-1563) analisou em torno da servidão e da voluntariedade da servidão. 

Para ele a existência da tirania está vinculada à aceitação daqueles prejudicados pela tirania mas que com ela consentem, a toleram.

Nesta terra brasilis, laboratório singular da insanidade cívica, os governos não são somente os eleitos pelo povo, mas também a sua cara no espelho de Narciso em permanente estágio de voluntária servidão.

Quem pense diversamente explique ao escriba a razão por que, passados quatro meses de denúncias gravíssimas contra figuras do STF, Judiciário Federal, do Ministério Público Federal e da Polícia Federal, tudo está como dantes no quartel de Abrantes. E mais, com velado apoio da mídia tradicional que, quando muito, as veicula, e nenhum movimento faz para que o país supere tamanha desídia para com a apuração de tão graves fatos.   


E a lista sumiu!
Denuncia Joaquim de Carvalho, no DCM: aquela famosa lista do mensalão mineiro (1998), subscrita por Marcos Valério, desapareceu do STF. 

Algum bandido a surrupiou. 

Bandido de dentro do STF ou de fora, que alguém do STF deixou entrar. 

Claro que nenhum pobre mortal!

STF já deixou sumir os valores insculpidos na Constituição. E passa a sumir com o que lhe dão para apurar e julgar (pelo menos guardar).

Mas como no bordel vulgar, onde os ladrões e os miseráveis de Victor Hugo transitam por entre os lupanares enquanto a nobreza e a burguesia os explora, não sabemos quando pretenderá o STF deixar de ser este bordel de toga quando se torna político ou guardião de interesses de políticos de sua panela.

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