domingo, 21 de março de 2021

O delírio e o ‘vade retro Satana’

 

Em pesquisa mais recente 79% opinam que a pandemia está fora de controle (leia), como apurado pelo Datafolha. Na anterior, que avaliou a administração presidencial em torno da crise sanitária por que passamos, 54% a rejeitam.

Mas respire fundo reconhecendo a gestão da crise como boa ou ótima lá estão 22% dos entrevistados.

Eis-nos diante de um fato concreto: aproximando-se de 300 mil mortos por Covid-19 e prestes a ultrapassar as 3 mil diárias (2.798 na terça 16, 2.815, na sexta 19 e média móvel 2.173 nos últimos sete dias), na iminência de um colapso apocalíptico no sistema de saúde público e privado, vacina insuficiente para reduzir o número de casos a médio prazo, há no seio da sociedade 22% que dizem ser ótima ou boa a gestão do inquilino do Alvorada no combate à pandemia.

Há quem aplauda uma política genocida (ops!) que a Fundação Oswaldo Cruz (leia) registra como o maior colapso sanitário e hospitalar da história do país.

Caso afastemos a pandemia (que pode ser interpretada como perseguição de comunistas e esquerdopatas contra o anjo da salvação pátria) busquemos razões da atuação governamental para justificar tal patamar de ‘confiança’, ou seja, considerando o que está fazendo de positivo também o fará no quesito pandemia dentro daquela arrumação amparada em “nova” ou “mais uma” chance.

Então um leve passeio por dados outros que instrumentalizam a ação governamental no âmbito da economia e da moralidade pública cá estamos com percentual superior a 14% de desempregados, gasolina superando 6 reais, botijão se aproximando de 100, o pais despencando da 6ª para a 12ª economia, alimentos até mesmo ultrapassando 100% de aumento no período em que administra(?) o inquilino do Alvorada, fábricas fechando as portas, indústria de base estagnada, internacionalmente nos tornamos o epicentro da pandemia (apenas seis países apresentam restrições leves para ingresso de brasileiros em seus territórios: Albânia, Afeganistão, Costa Rica, Eslováquia, Macedônia do Norte, Nauru, República Centro Africana e Tonga), cocaína em avião presidencial, rachadinhas no ambiente familiar etc. etc.

Fracassado no exterior, no front interno do combate à pandemia prepara o inquilino do Alvorada uma ação junto ao STF contra prefeitos e Governadores que impuseram medidas restritivas para controlar o alastramento do contágio (veiculado no 247).

Não, caro e paciente leitor, não há mais grupo(s) de risco, mas toda uma nação em risco. E como não bastasse, em meio a tanto de trágico, quando colapsa o sistema de saúde no quesito oferta de leitos em UTI (em São Paulo já houve óbito na fila de espera por UTI), denúncia vazada deixa-nos estarrecido: as Forças Armadas serão investigadas pelo TCU por não ofertar leitos em seus hospitais para combater a pandemia (leia). Essas gloriosas forças armadas convocadas por aqueles 22% para ‘gerir’ a nação, que somente olham para o próprio umbigo.

Estudos remetem à formação da sociedade brasileira, desenvolvida sob a égide de uma cultura de exploração como conduto maior. Exploradas as terras e suas riquezas, explorados como mão de obra escravizada o índio e o negro. Tudo a serviço daquilo que Cláudio Lembo denomina de “elite branca” e Jessé Souza de “elite do atraso”.

De priscas eras o patrimonialismo como lema, coordenado e controlado por uma diminuta parcela da sociedade que se arvora de detentora dos destinos pátrios. Para tanto, o Estado não para servir ao povo, mas para servi-lo na bandeja como tira-gosto na mesa dos opulentos.

Quando as (in)conveniências o exigiram a classe dominante (eterna aliada ao Clero e à Monarquia) que se beneficiara nos períodos de Colônia e de Império viu-se convertida ao republicanismo. Engrossando as fileiras republicanas (recém saída da Guerra do Paraguai) uma nova etapa de dominante surge: o militarismo. Parte dela augurando a implantação da república controlada e administrada por ela.

Mas, o que move este articulista de província a enveredar por tema que já alcança a seara da banalidade para tantos?

Durante muito tempo temos desenvolvido o raciocínio de atribuir às classes dominantes a responsabilidade primordial por tudo que acontece ao país. Ou seja, sob o prisma da responsabilidade governante por ela levada ao poder (com raríssimas exceções) as políticas de Estado geridas por diferentes de seus governos estiveram a alimentar as burras de sua gente. Assim, a responsabilidade da sociedade em assegurar tal distorção ficava à conta do controle exercido por aquela sobre o processo eleitoral (mídia, legislação etc.) e ao discurso demagógico de que se vale.

Mas eis-nos estupefato diante de uma outra vertente que integra a construção deste país, que não imaginávamos em dimensão tal. Não somente o eleitor manipulado, mas uma parcela substancial da sociedade que escolhe o representante que sonha para efetivar seus sonhos reprimidos. Esta turma que exalta um (des)governo caminhando célere para um desastre, com risco concreto de tornar-se um cadáver insepulto vagando nas sombras por apoios a um golpe.

Na atualidade, ultrapassados dois anos de mandarinato do inquilino do Alvorada, há muito esvaiu-se no ralo qualquer resquício de engano a que foi levado o eleitor. Entretanto aí está parcela considerável embevecida/enraivecida e crente/fanática de que tudo está sendo feito a contento porque quem o promove é um messias.

Não temos como negar que descobrimos o óbvio ululante, que não acreditávamos, explicável facilmente pela Ciência, aquela a que negam valia. São eles expressão cristalina de que se encontra essa gente em estágio de plenitude delirante.

E trazemos ao caro e estimado leitor a compreensão do que seja, sob anamnese (ainda que platônica), naturalmente menos filosófica e mais médico-psiquiátrica, dita patologia:

 

delírio, também conhecido como transtorno delirante, é a alteração do conteúdo do pensamento, em que não existe alucinações nem alterações da linguagem, mas em que a pessoa acredita fortemente numa ideia irreal, mesmo quando já foi comprovado que não é verdade. Mune-se o portador de crenças exageradas e para ele irrefutáveis. Tem certeza de algo mesmo que nenhuma evidência real se faça presente.

No âmbito da Psicopatologia é a convicção errônea mantida por uma pessoa, baseada em falsas conclusões tiradas dos dados da realidade exterior, e que não se altera mesmo diante de provas ou raciocínios em contrário.

 Está explicado!

Considerando a irredutibilidade em torno do pensamento conformado cabe-nos — à guisa de contribuição para com a saúde pública e mesmo para a segurança individual — recomendar ao caro e paciente leitor NUNCA abrir prosa que vise convencer um delirante.

Cristãmente rezar enquanto dele se distancie!

Caso não saiba exorcizar!

Para quem assim decidir recomenda-se o necessário retorno aos séculos XIV e início do XV (para ajustar as Eras), apoiado em São Bento e, munido de um crucifixo, proclamar o “vade retro satana”

 

Crux sacra sit mihi lux                       A cruz sagrada seja a minha luz
Non draco sit mihi dux                        não seja o dragão o meu guia

 

Vade retro satana                               Retira-te satanás
Numquam suade mihi vana                Nunca me aconselhes coisas vãs

 

Sunt mala quae libas                          É mau o que me ofereces
Ipse venena bibas                              Bebe tu mesmo o teu veneno

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