domingo, 7 de março de 2021

Depois da hecatombe

 

Não retornamos ao tema pelos os fatos que o sustentam, mas para levar o caro e paciente leitor à reflexão do porquê tolerados e até aplaudidos os iconoclastas que estão a levar de roldão para o abismo o bom senso, a ciência. Eis-nos refletindo em torno do Covid-19 (e suas variantes) sob o prisma de ações governamentais e correspondentes reações.

A absoluta ausência de políticas públicas para o enfrentamento nos encaminha para uma média de mortes diárias envolvendo dois milhares. E mesmo não surpreenderá mais alcançarmos as três mil. Já galgamos o patamar, nos últimos dois dias, em número de infecções (superando os Estados Unidos) e nos tornamos o epicentro da epidemia mundial assumindo 30% de infectados no planeta. E em escala ascendente.

E neste trágico viés uma cepa assustadora teria se originado a partir de Manaus e se espalha pelo país e mesmo assusta o mundo.

Sabido e consabido que o mais elementar enfrentamento passa por evitar o contágio ou inibi-lo ao tolerável que o suporte o sistema de saúde.

Em segundo instante o processo de vacinação em massa.

O planeta assim cuidou. Por aqui ainda discutimos se a vacina é “comunista” ou não.

Nenhum daqueles aspectos foi correspondido pelo governo federal. No primeiro é o próprio chefe da nação quem o afirma desnecessário; no segundo, o mesmo governo chefiado por ele, cumprindo ordens expressas, que nega à população o acesso minimamente satisfatório à vacinação a ponto de inviabilizar a sua aquisição direta por governos estaduais e municipais.

Não há como negar que as atitudes, personalizadas no inquilino do Alvorada, constituem o centro e a dinâmica da crise por que passamos. Continua a combater o isolamento social, o uso de máscaras e promove aglomerações e flagrantemente afronta os mais comezinhos caminhos da prevenção. E ameaça com a possibilidade de decretar estado de sítio, sonho de encurtar caminho para afastar garantias constitucionais e abrir estrada larga para seu projeto bonapartista.

Mas tudo isso a ocorrer e o inquilino mantém em torno de 30% de bom e ótimo como avaliação. E  pasme o leitor  enquanto a mortandade se alastra 20% da população defende sua atuação no combate(?) à pandemia.

Ainda que na sandice, sente-se o dito cujo dono da cocada preta. O que não lhe afasta um quê de razão. Registramos neste espaço o que entendíamos como vitória retumbante do inquilino do Alvorada a eleição para as duas casas do Congresso quando emplacou presidências a ele vinculadas. Não custa deduzir que se imagina com o controle absoluto de tudo e de todos.

Caficamos (neologismo amparado em Kafka) descortinando véus do que tanto ouvimos: este é o país do futuro alegorizado por Stephen Zweig, coração do mundo e pátria do Evangelho para espiritualistas e o da anedota que atribui ao Creador haver dotado a terrinha de tudo que negara a muitas outras mas que colocaria um povinho singular para nela viver.

Não há como negar que nesta terra brasilis um comportamento sadomasoquista comum ao fascismo (ver a leitura de Pasolini em “Saló”), antes latente, se expressa concreto e tem no inquilino do Alvorada a “sua mais concreta tradução”.

E descobrimos que neste viés o ranço do colonialismo reacendido no plano mental reforça o material que norteou o passado. Que a idiotice ocupando cátedras, aplaudidas por áulicos vários e variados mais se acentua. Que não mais somente a exploração da terra e suas riquezas, também a configuração de mentes amorfas e disformes em andamento.

Não fora isso, como entender que uma ação governamental inteiramente descontrolada em termos de planejamento e combate a uma pandemia seja respaldada por parcela que supera 20% da população?

O dito atribuído a Norberto Bobbio (não dispomos da fonte) mesmo que dele não fosse traduz uma realidade dolorosa, um carnegão a ser estirpado (não sabemos como).

                                                                                                               

Mas tenhamos certeza de que a missão desencadeada a partir de 1916 não chegou a termo e permanecemos como o peru da vez (sinalizamos neste espaço).

E nossa gente, ainda que sofrendo as mazelas do golpe, elegeu o inquilino do Alvorada (que nunca enganou ninguém) que cumpre com galhardia o mister a que destinado. Que responde com crueldade, incompetência e desprezo a aclamação das urnas porque assim o quiseram os que o tiveram como expressão de suas ignominias encasteladas em evitar que políticas de governo petistas voltassem.

Diante de tanto desvario, de tanta dor causada por um indivíduo a ela insensível, aliada a uma apatia de patologia singular que acomete as instituições no país certamente mais próximo da realidade que tenhamos este Brasil, como coração do mundo e pátria do Evangelho. Entendamos que o que passamos o passamos como purgação por tanta maldade cometida no passado e no presente (escravidão negra e indígena, infância miserável assassinada pela fome e por tiros, campesinos assassinados etc.). Mesmo purgação por tanto vendilhão de templo pregando como porta-voz do Nazareno.

Mas, ainda que tenhamos certeza de que a oração não reduzirá a tragédia que se amplia cabe-nos compreendê-la e aceitá-la. No entanto  oração que mais se nos impõe  que não percamos a capacidade de acreditar, de não renunciar à honestidade, de reconhecer o estudo e a educação como caminho para construir um futuro depois da hecatombe.

Porque  como lembrava Tormeza  se não há bem que sempre dure não há mal que não se acabe.

Mas, não custa esforçarmo-nos por fazê-lo breve!








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