Ainda que a semana entrante se faça de
esperança para o consenso ocidental, sublimada na existência de um símbolo do
mercado que se ampara no primado cristão para justificar suas ações (compre e
dê, compre e dê...) não há como dissociar a realidade que se avizinha da íntima
relação com a expectativa de dias melhores, o melhor dos presentes ansiados.
Duas décadas são o palco da encenação: uma experiência político-administrativa
recente, caminhando para o sexto ano, que se contrapõe àquela vivida nos 14 anos
anteriores a nortear o desejo de que traduzidas em defesa dos interesses da
sociedade as políticas públicas sob a atuação do Estado.
De certa forma, uma metáfora ou
alegoria se faz presente: que a atuação do governo se afine com a ficção
noelina, qual seja dar presentes, e que não sejam os clássicos sob a égide do
ho-ho-ho do morador da Lapônia. Porque a massa da sociedade ora carece do
fundamental: comida, saúde, educação, emprego através da retomada da atividade
econômica que segure tudo aquilo.
Desta forma não há como afastar o
instante natalino do processo eleitoral que se avizinha. E em torno dele o
debate entre as experiências imediata e mediata.
Registramos em Não há mistério: “De entender ou buscar a razão por que não há
quem se interesse sem interesse. O processo eleitoral o demonstra”. E cá
estamos neste acompanhar porque discutir possível resultado eleitoral é ‘chover
no molhado’ e cansar o leitor diante de tanta tormenta: Lula vencerá as
eleições no primeiro ou segundo turno. A não ser – cala-te boca – que o mercado
não confie nele e resolva buscar outras soluções, inclusive... libertando
Adélio.
Temos registrado, sem arroubos acadêmicos, com palavras
outras, a inexistência do Estado em dimensão conceitual diante da apropriação
da instituição política pelas classes dominantes no correr dos séculos.
Postos os peões no tabuleiro avoluma-se a imprescindível
análise em torno de propostas e projetos que permitam confiar naquele que
pretende alcançar a magistratura maior da nação.
Da jornalista Myriam Leitão (veiculada no 247), porta-voz
de destaque em defesa do golpe de 2016, sobre o proclamado Sérgio Moro: “No mercado financeiro já se ouve o
farfalhar dos apoios incondicionais à pessoa sem conteúdo definido, como houve
em 2018. O autoengano recomeçou", escreve Miriam. E prossegue: "O
problema em torno de Sergio Moro é o quase nada que se sabe sobre suas ideias
em várias áreas. Nos 16 meses que ficou no Ministério da Justiça, Moro barrou
demarcações de terras indígenas, mandou o fracassado pacote anticrime para o
Congresso, embutindo nele o excludente de ilicitude,... e abonou os sinais de
desvios éticos no governo Bolsonaro, quando começaram a surgir".
E mais:
“Houve um evento assustador na sua gestão no Ministério. Greve de policial é
proibida, porque é motim de pessoas armadas. E que foram armadas pela sociedade
com o fim exclusivo de protegê-la. Policiais militares se amotinaram no Ceará,
desafiando o governador Camilo Santana e levando medo à população. Moro enviou
o coronel Aginaldo Oliveira para resolver o conflito. Lá, o coronel definiu os
amotinados como corajosos e gigantes".
Afastados
os interesses pessoais e corporativos defendidos por Myriam Leitão o que diz
contém verdades insofismáveis: o despreparo deste ensaiado mito, como daquele
outro. Mas se o atual presidente conviveu com a política, Moro somente a
praticou inapropriadamente no âmbito de interesses alheios às instituições
nacionais. Sob a capa de combate à corrupção – e sob o manto do “eu acho” –
prendeu quem queria prender e soltava os que faziam o seu jogo.
Fica-nos
a indagação, já levada a termo como explicação, em outros instantes/textos
deste dominical: o que remete parcela do mercado à defesa de figuras tão
bizarras postas como ‘soluções’ para o país a ponto de incomodar até uma
porta-voz do sistema.
Para
compreender, caro e paciente leitor, é imperativo ler o que está contido nas
entrelinhas. E entrelinhas se encontram com outras declarações, estas trazidas
pelo editor Lúcio Costa Pinto, do 247, que diz ter ouvido de empresário de renome e com assento na
Avenida Paulista de que a parcela em torno dele não votará pela reeleição do
atual muito menos no Moro (“Ninguém vota no Moro”!
Para
não cansar nosso caro e paciente leitor – e mesmo não ‘chover no molhado’
diante do que temos escrito neste espaço – cabe apenas “Entender ou buscar a razão por que não há quem
se interesse sem interesse”.
Myriam Leitão é porta-voz do empresariado, como o é o
empresário da conversa. Cada um defendendo seus interesses: um, através de
porta-voz; outro, testemunhando os pares.
Pode-se mesmo especular até o limite dos interesses de um e de
outro: os defendidos pela porta-voz muitos estão lá fora exercitando o controle
sobre esta terra brasilis por via de
contemporâneo colonialismo; o outro, mais vinculado a este chão.
O que está nas entrelinhas é a continuidade
do jogo. Que, no fundo, atende a Papai Noel e não a quem nasceu na Manjedoura.
Ao povo desassistido resta a esperança
de ver retornados aqueles dias melhores já experimentados.
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A visão deste escriba de província para
o Natal está expressa em “Epifania” (Portal da Piedade; Via Litterarum, 2018), disponível em GGN/Luiz Nassif .
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