“Quero
preparar-me para pensar amanhã no dia seguinte...”
(Adiamento,
Fernando Pessoa, pelo heterônimo Álvaro de Campos)
Convivemos
com situações que ultrapassam a fronteira do inusitado. Certo que a idade
alimenta em sua fase ‘filosófica’ a observação dialética em torno do que se nos
acomete.
Mas,
por mais que tenhamos evitado editoriais e noticiários televisivos e quejandos tais – desde
muito, quando os percebemos peças da engrenagem de um sistema alienante – e,
quando muito, nos limitamos a rir das versões difundidas como verdade quando lançada
às calendas a Verdade (aristotélica), a mediocridade em coortes atravessa o
Rubicão e avança em tática napoleônica sobre o que resta.
Não
bastasse, a maioria de ‘técnicos’ nas diferentes áreas de (des)informação é testemunho
de que não se trata de expressar formação intelectual, mas de corresponder ao ‘compromisso’
com o que lhes sustenta, naturalmente o “mercado’, o grande ‘empregador’. Uns,
remunerados pelo vil metal; outros, por deslumbramento pequeno burguês.
Por
isso não estamos conseguindo nem refletir sobre o ontem, atropelados pelo
presente – que sob um dos prismas da autoajuda se outorga solução –
profundamente violentado física, histórica, ética e humanamente pela carga de
mensagens/verdades “absolutas”.
Tampouco
– muito, muito menos – refletir sobre o outrem. Negamos-lhe o passado para
reflexão e o presente o temos como campo de batalha onde o outro é o adversário
em disputa fratricida a ser aniquilado. Sem direito a clamar por solidariedade.
E
quando a realidade se expressa sob a ótica do ‘mercado’ eis em plenitude a negação
do Humanismo, o ápice da negação do homem como destinatário da felicidade. Até a mensagem cristã foi apropriada pelo mercantilismo.
Eis
que esta terra brasilis tenta enfrentar hostes servis à negação de tudo –
sem apologia – que não se debruce sobre o homem como fonte e destino do bem
comum.
Mas,
não enxergamos o instante de “pensar o amanhã no dia seguinte”. O imediato nos
afeta como destino inexorável e concentramos energias negativas em profusão
lançando ao fundo do poço a esperança realizável.
Ainda
que sub-reptício (desfigurando-se do alcunhado em nível ideológico) a velada
forma de negação aí está, alimentando a ‘sua verdade’ e pensar ilustradamente
tornou-se alvo de estigma e nós outros aos poucos sucumbimos a quem nega o ‘dia
seguinte’ ao amanhã, sufocados e amordaçados.
Mas,
para os que não esquecemos o passado como lição nos escudamos em reconhecer,
como o reconheceu Bertrand Russell:
“Primeiro,
eles fascinam os tolos; depois, amordaçam os inteligentes”.
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