domingo, 8 de janeiro de 2017

Chamem Moreira César

Ficou famoso como o “corta cabeças”. Para onde enviado retornava com execrável laurel, tantas as cabeças roladas pela degola. Enviado a campanha para massacrar Conselheiro e a gente de Canudos por lá morreu.

O que faz Moreira César neste ameno espaço? A lembrança de um passado que imaginávamos no limbo da história tornado presente a cada rebelião de presídio: cabeças cortadas. E não são cenas de Gláuber Rocha, Lucrecia Martel ou Almodóvar.

Sem cabeça, com a cabeça nas nuvens eram expressões para os desatenciosos, vagos. Alguns padecentes de alguma limitação mental não diagnosticada. Gláuber metaforizou em sua obra tudo o que se limita a cabeça (pensar, raciocinar, decidir etc.) no plano do corte da realidade, como expressando velhas estátuas gregas.

Nossos presídios abarrotados – não só pela dimensão criminosa fomentada, em muito, pelos meios de comunicação de massa, exaltando morticínios (quando oficiais) e perseguindo os três Ps que sustentam aqueles, mas pela incúria criminosa do Poder Judiciário e do Ministério Público, que mantém sob segregação milhares que lá não precisavam estar – constituem em permanente barril de pólvora com estopim aceso. Mais não se sabe porque a augusta imprensa não ‘investiga’ tais pocilgas.

Os que ali entram estão em nível de Inferno de Dante, em estágio mais profundo.

Na sanha privatista deram até de privatizar administração de presídios. Copiaram aqui o que não deu certo na corte originária (EUA).

Eis o novo espaço para 'cabeças cortadas'.

Semáforos
Quando funcionam todos respeitam, sabem que desrespeitá-lo implica em sanção. Quando não funcionam é cada um por si.

Alguma relação com o Brasil institucional de hoje é mera coincidência.

Autoridade não pode apagar semáforos. A redução de verbas para o sistema prisional, em 85%, nos últimos dois anos, anuncia uma chacina por semana. 

A única forma de serem vistos e ouvidos. 

Homo sacer
Em Roma existiu o homo sacer (Agambem dele trata em livro). Como em Esparta, onde o estrangeiro podia ser caçado, assassinado como um nada, um bicho qualquer. Em Roma como objeto sem nenhum sentido; em Esparta como experimento de aprendizado para os jovens.

Assim estão os que presos se encontram dentro dos paradigmas do sistema prisional brasileiro. 

A caminho da barbárie
Marx apontava – nos limites ofertados em seu tempo – as contradições que levariam o Capitalismo ao fim: a socialização na produção (capital e trabalho juntos produzindo) e a concentração na distribuição (o capital se apropriando do resultado da produção (riqueza).

Em estudo recente, na linha exposta por Thomas Piketti, Pete Dolack retoma o tema do aumento da desigualdade como espada mortal para o sistema.

Sobrando
Caso não construamos escolas agora daqui a 20 anos não haverá dinheiro para construir os presídios que se tornarão necessários. Uma profecia previsível de Darcy Ribeiro no início dos anos 80.

A sequência de desmandos – que vão da inoperância do Poder Executivo a do Poder Judiciário, que aliado ao Ministério Público, somente vê na prisão fechada a solução para o crime – leva, em fase acelerada, para o caos a sociedade, vítima final.

O sistema prisional – sob a égide de conceitos neoliberais – torna-se ‘negócio’ rendoso para a iniciativa privada, seja através do fornecimento de alimentação, seja pela administração prisional. Tudo pago com o dinheiro do povo.

Para quem tem prisão como ‘negócio’ quanto mais preso melhor.

A lucidez de uns poucos incomoda e nem é levada a sério. O dito por Darcy Ribeiro fora retomado, em termos práticos, pelo senador Roberto Requião, em 2014, quando alertava que dos que se encontram presos/confinados 43% o eram em regime provisório e dos restantes 57% mais de 80% “condenados por delitos de menor gravidade”.

No retrovisor da realidade – que não é recente – a omissão estatal do Poder Executivo (recursos), do Poder Judiciário (que condena e não faz cumprir ou fiscalizar a execução da pena) e do Ministério Público (que não cumpre com seus deveres de fiscalização da lei e dos direitos individuais entre eles) lança no colo da sociedade a tragédia, que se estenderá às ruas, na dimensão em que ocorre nos presídios.

Afinal, a formação de monstros exige alimento para eles. Nós. 

Aragão
Do ex-Ministro da Justiça, Eugênio Aragão:

“A casta judicial e a do ministério público são os maiores responsáveis, com seu cego punitivismo, pela tragédia que já há muito se anunciava: como as prisões não lhes dizem respeito, seguem entupindo-as com o “lixo humano” até o sistema enfartar. A saída da crise pressupõe, pois, mudança de atitude dos órgãos empenhados na persecução e jurisdição penais, carentes de uma política criminal que os faça priorizar alguns ilícitos sobre outros e não fingir que obedecem cegamente ao princípio da obrigatoriedade da ação penal, sem distinção.

Serra, ladrão
Nunca o caro leitor lerá isso na grande imprensa. Mas o fato é de fácil apuração: a famosa denúncia de Flávio Bierrembach (de que Serra era ladrão), que resultou numa ação de JS contra o acusador, que queria provar, na Justiça, o que tinha dito, através do instrumento processual denominado “exceção da verdade”.

José Serra desistiu de provar que não era ladrão. Para lembrar

E agora, Moro?
O tucanato em cheio – e José Serra em particular – é o resultado das delações da Odebrecht. A confirmação do desvio de 23 milhões, depositados em conta na Suíça, exige uma resposta do ‘justiceiro’ Sérgio Moro: pelo menos uma condução coercitiva do Ministro, através de um pedido ao STF.

Pedro Novis detalhou que parte do dinheiro foi entregue no Brasil e outra transferida por meio de depósitos bancários em contas no exterior, a de Ronaldo Cezar Coelho (PSDB), integrante da coordenação política do tucano em 2010.”

Que lindo!
Eis o ápice da punição para o ilustre intermediário/detentor da propina:

“Então, em novembro, o empresário que obteve recursos recebidos da Odebrecht e de outros investimentos na conta na Suíça, aderiu ao programa de regularização de ativos no exterior, pela Lei de Repatriação.

Para isso, pagou um montante de 30% de impostos e multas sobre o valor que estava na conta no exterior. Mas acabou preferindo não repatriar o dinheiro. Com a medida da Lei, Coelho fica isento da aplicação de punições referentes a sonegação fiscal,  apropriação indébita, crimes tributários, evasão de divisas e lavagem de dinheiro.

Mas ao aderir ao programa de ativos no exterior, confirmou que parte desses recursos foram recebidos (sic) pela Odebrecht para a campanha de 2010 de José Serra.”

O crime efetivamente compensa. Para ladrão rico. Caso fosse pobre estaria perdendo a cabeça em qualquer rebelião de presídio.

O acidente
Incidente para o interino tornado presidente é detalhe. Não deixa de ter razão. 

Afinal o ‘acidente’ que o levou ao cargo não mereceu restrições, nem comentários. 

Como no mesmo tugir, o de Roraima.

Vai ser na base da ‘literatura jurídica’
O apoio de que Moro precisa vai se materializando. Na falta de provas (até estranhamente não obtidas para quem é acusado de ‘tantos’ crimes)  exige – dentro da lawfare – que esteja ‘legitimada’ qualquer iniciativa judicial contra Lula.

Pesquisa recente registra a crença da população, em 71%, de que Lula será preso em 2017 e – oh glória! – 51% acreditam que Lula é culpado do que lhe acusam.

Ou seja, a coisa programada está dando certo: a imprensa reverbera a culpa sem provas e a condenação virá por ‘convicção’.  Que já convenceu parcela da população.

Como fundamento doutrinário será utilizada a famosa teoria do domínio do fato que condenou a cúpula petista na AP 470: “não tenho provas... mas a literatura jurídica me autoriza a condenar" (Rosa Weber-STF).

Se não der certo a tempo a solução é o parlamentarismo ou a eleição indireta com prorrogação de mandato. 

Dedicação
Janaína Pascoal – aquela que recebeu 45 mil do PSDB para gerar uma absurda tese para o impeachment de Dilma – põe-se à disposição do paulistano para fiscalizar banheiros do Ibirapuera.

Que Lindo! E simbólico!

Reduzindo
O salário mínimo estava previsto para R$ 945,00. Foi reduzido para R$ 937,00. Retira da economia a bagatela de R$ 1,4 bilhão.

Mais 3 degolados em Manaus
Enquanto isso o Ministro da Justiça ensaia repetir sua 'boa ação' agrícola.



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