domingo, 18 de março de 2018

Dois tempos


Para quê? Para Nada!
A Organização das Nações Unidas cobra das autoridades brasileiras rigorosa 
e rápida apuração do assassinato da vereadora carioca. Esqueceu de incluir as 
duas lideranças campesinas mortas no estado do Pará, na semana anterior.

Sem que possa ser a ele atribuída a responsabilidade pela apuração, recairá 
sobre o interventor o desgaste causado pela violência que ceifou a vida de 
Marielle no Rio de Janeiro.

Um fato que causa impacto como a morte do Major Vaz, em 1954 ou do 
estudante Édson Luís, no restaurante universitário do Calabouço, em 1968.

Um cadáver está posto aos pés do general. Como enterrá-lo?

Quando há morto célebre – o que demonstra a certeza de certos atos no 
quesito impunidade – apura-se e alguém, certamente, paga o pato. Nunca o 
sistema que o alimenta.

Chico Mendes e irmã Doroth estão aí como exemplos. Porque quanto aos 
milhares de desvalidos de periferia no campo e nos centros urbanos (negros e 
pobres, índios, sem-terra e sem-tetos), vítimas do mesmo sistema, muitas 
vezes nem alvo são de apurações para responsabilizar os assassinos. Cultura nacional.

Em nossa visão – que de pessimismo vaza – não cremos em nada mais que 
cenas para os noticiários da radiodifusão. Em muito culpados pela ‘cultura 
da indiferença’ a que chegamos.

Há sinais de que parte da corporação policial-militar do Rio de Janeiro não 
aceita o comando do exército. Menos de 12 horas, antes do assassinato 
considerável número de integrantes da tropa perfilada se recusou a bater 
continência para o general interventor, registra o Valor, em matéria de Maria 
Cristian Fernandes (aqui disponibilizada através do Conversa Afiada).

Um dos tentáculos do sistema nunca alcançado.

“Policiais têm-se rebelado contra ações que minam sua sociedade com o crime, 
a começar de medidas simples e baratas como a disposição do comando militar 
da intervenção de mexer na sua escala de trabalho para aumentar o efetivo à 
disposição das operações. Parte da tropa trabalha 24 horas e folga nas 72 
horas seguintes, período em que fica sujeita ao aliciamento pelo tráfico e 
pela milícia”, registra a mesma matéria. 

Não é difícil perceber as nuances em jogo no combate ao crime no Brasil.

Miguel de Cervantes descortina a inutilidade de certas iniciativas no célebre 
tropel de Granada. Os cavaleiros de Granada, saíam em disparada na alta 
madrugada, brandindo lança e espada. Para quê? Para nada!

Ecos do sistema
Nestes sombrios tempos soam aos nossos ouvidos os mesmos ecos dos primeiros anos dos anos 50. Getúlio Vargas e Petrobras... a insistência por sua destituição, 
que o leva ao suicídio para evitar o golpe e uma possível guerra civil. 

Golpe que se materializa dez anos depois. Para atender aos mesmos reclamos 
do capital internacional contra políticas de governo postas a enfrenta-lo.

Lula e o pré-sal. Novamente a Petrobras readquirindo autonomia. Mais programa nuclear, política externa conduzida em busca de outros espaços e construindo 
diversa hegemonia geopolítica.

Ontem e hoje dois temas presentes em cada instante: corrupção e assassinato. 
No primeiro quesito, Getúlio e Lula; no funéreo do Major Vaz e Marielle.

A leitura da história da classe dominante do Brasil não vem sendo atentada, a 
não ser em análises acadêmicas. O povo distante, emprenhado pelo noticiário. 
Como em tempos idos.

Integrando ao presente espaço o mote do anterior uma coisa nos fica no plano 
da certeza: alguém sonha antecipar os dez anos depois do suicídio de Vargas 
nesse instante. Cadáveres insepultos ajudam. 

Terão utilidade e direito à repercussão. Não à apuração que alcance o 
grande responsável. Porque o sistema... é o sistema.



Um comentário:

  1. Olá Adylson.....tenho encontrado muitas pessoas em tambem...rs
    Alguma previsão...nos passa aí.
    Eva Lima

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