domingo, 24 de junho de 2018

De Copa do Mundo e enigmas


Não há como exigir desses jovens estrelas do futebol brasileiro, capitaneados por Neymar, uma postura profissional na expressão da palavra quando em confronto o compromisso para com o país/Pátria. São postos, pela imprensa, como atores de uma ópera (bufa!) para assegurar audiência, em que só falta flagrar o instante do xixi e do cocô.

Militam no futebol-finança, transformados em ativos-celebridades, dotados de idêntica arrogância e prepotência de ideólogos e  operadores do sistema que envolve as  finanças e seus comentaristas, donde presentes em nível idêntico os esportivos, com honrosas e raras exceções. 

Não há porque cobrar de um jovem ex-pobre que possua os sonhos de infância que hoje lhe representam 80 milhões de reais em carros, avião e iate. Falta em muitos, inclusive, um exemplo de dignidade no seio da própria família, que se vê, de uma hora para outra, na seara do ‘nouveau riche’, aureolado por bajulações várias e apologia ao vazio como essência.

O comprometimento para com o time fica em segundo plano. Faturando como faturam o evento Copa do Mundo se torna tão somente mais uma vitrine. Caso percam a Copa a vida e os salários não diminuirão. Uma mais vultosa contratação/transferência pode até faltar, mas não prejudica o essencial em suas vidas: o estrelismo. Caso vençam, melhores oportunidades financeiras (mais remuneração, mais ganhos com publicidade etc. etc.).

Em meio a tudo – enquanto o país da seleção está à deriva – vivemos a vida de gado e nem atônitos ficamos com a perda do patrimônio nacional, da soberania, da educação, da saúde e da vida que melhorara para muitos descamisados através de programas de inclusão social.

O capital se apropria de tudo e tudo faz para que se mantenha sob sua tutela. E nem falemos do jogo na seara da apropriação política, da manipulação de mentes, dos variados tipos de suborno que estão hoje presentes no futebol mundial e neste particular brasileiro.

Por isso os mais sensatos vão perdendo o gosto e a paixão pelo esporte. O povo está percebendo.

E conclui, como Armando Coelho Neto, no GGN:

"Não há quem me faça vestir a tal camisa que me traz péssimas lembranças. Bandeira do Brasil? Foi usada para solapar meu voto e içar ao poder a gangue do impostor. O pavilhão do qual se queixou Castro Alves no passado, por acobertar a infâmia e a covardia contra os negros, serve de manta para dilapidação do patrimônio nacional. É ela quem cobre o circo da vergonha, acoberta os suspeitos encontros entre Temer, Carmem Lucia, Maia, Aécio e representantes da Shell, e acoberta tenebrosas transações. Coitado de meu escorpião!"

A seleção a eles pertence. Deles este escriba nem mesmo cobra que cantem o Hino Nacional!

Post. scriptum, às 21:25h: Já havíamos postado este dominical quando acessamos Lukaku e seu "Tenho algumas coisas a dizer", traduzido pelo Trivela, do Player's Tribune.

Enigmas
Enigma decifrado I
Lula, como ator político, está cada vez mais em evidência. Seja-o por sua pontuação em pesquisas de opinião, seja-o como ponto de referência para as eleições presidenciais. O recado mandado há dias – contrariando até mesmo figuras da cúpula petista – demonstra quão determinante é sua opinião, que pode definir rumos.

Aqueles que prenderam Lula imaginando afastá-lo do processo eleitoral caíram do cavalo, como diz a turma do andar de baixo.

E vão se inserindo entre as deprimências do instante que o levou à prisão. 

Poucos o têm como culpado. A maioria o vê como um perseguido pelo Ministério Público e Judiciário. Que poderiam desmentir tudo. Basta apresentarem ao povo as provas da culpa.

Enigma decifrado II
A insistência com que o ministro Gilmar Mendes libera das grades o Paulo Preto, do esquemão do PSDB, contém, às escâncaras, uma confissão perigosa: muita gente grande embarcada na canoa furada do Afrodescendente.

Mas deste insuspeito ministro de opiniões cristalinas quando em jogo interesses do PSDB, partido que o levou ao STF, indicado por FHC, a declaração de que constitui um enigma a preferência dos eleitores por Lula, em razão da contradição: o mesmo povo que não quer a corrupção prefere quem está preso acusado de praticá-la.

Não cumpre a Sua Excelência expor o que possivelmente compreende (até porque faz parte do objeto de estudo e mesmo autoanálise). Decifrar o enigma não é complexo: o povo percebeu que o Judiciário abusou ao condenar Lula. 

O enigma, para nós, passa a ser outro: tamanho o massacre midiático, onde se acentua a omissão em torno da verdade (não haver prova nos autos), a verdade em si prevalece, estampada nos fatos concretos, dentre eles não haver riqueza patrimonial em Lula.

Enigma decifrado III
Um outro enigma – escondido a sete chaves – que envolve membros do Poder Judiciário na articulação político-eleitoral deixou de sê-lo nesta sexta-feira: o ministro Fachin, ainda na noite da sexta, menos de hora depois da  publicação eletrônica da decisão do TRF-4, despachou pela prejudicialidade do Recurso Extraordinário interposto por Lula perante o STF, com julgamento designado para o próximo 26 e mandou para as calendas a tentativa judicial de libertar Lula, através do STF, para participar das eleições.

O processo, em qualquer dimensão (civil, penal, administrativo etc. etc.) adquiriu autonomia que supera muitas vezes o Direito Material que dele se instrumentaliza para a decisão. É o caso concreto: o rito prevalece sobre o essencial.

Dirão muitos, como repetindo um mantra, que, apesar de tudo, as instituições estão funcionando. 

Uma pergunta carece de ser posta diante de tanta tranquilidade: que estejam funcionando, mas a serviço de que ou de quem?

De nossa parte resta a conclusão de que a melhor pergunta está no título de Hemingway: “Por quem os sinos dobram”.

Enigma por decifrar (?)
Apenas 45 minutos, como revela o 247 – entre 19:00 e 19:45h de uma sexta-feira à noite, véspera de sábado e de São João etc. etc. – foi o tempo dispendido por Edson Fachin para derrubar a sessão do próximo dia 26 no STF.

A decisão do TRF-4, sediado em Porto Alegre, e a do STF, em Brasília.

Edson Fachin de plantão, em plena sexta-feira à noite.

E depois falam de morosidade do Judiciário!...

Cnfirmando o que refletimos acima: as instituições estão funcionando...


Um comentário:

  1. Estimado professor, sempre discordo de boa parte de suas análises, mas não vejo como não apreciar a forma como escreve seu texto.
    Abraço do seu aluno de Serrinha!

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