domingo, 3 de junho de 2018

Revelações político-proféticas x crise, contenção de gastos e uma viúva sapeca


Registramos na semana que passou, referindo-nos à postura dos autônomos dentro do movimento paredista, que se soubessem a força que tem muito mais que simples redução em preço do diesel ocorreria. Certo que, naquela do meu pirão primeiro, o interesse individual prevaleceu. Afinal, por questão de sobrevivência quando uma tábua, no curso de um naufrágio, não tem possibilidade de salvar as duas pessoas que nela se agarram, uma mata a outra. O que em Direito Penal se denomina de ‘estado de necessidade’ como excludente de ilicitude. 

Assim, no caso da greve, a essência a causa de tudo não muda: a política de preços da Petrobras voltada para remunerar os acionistas permanece. Mas pelo menos um se salvou.

Não há como descurar que a prioridade da Petrobras é entregar o mercado nacional para o capital estrangeiro de produtoras e importadoras, e com isso aumentar ganhos de acionistas. O inverso é apenas uma questão de 'querer', como se abstrai da opinião de Téo Takar, no UOL.

Sob essa vertente abriu mão de sua responsabilidade para com a autossuficiência energética, a segurança no abastecimento e a garantia de acesso aos combustíveis no mercado interno.

A greve não enfrentou essa questão crucial. 

Diante daquele ‘estado de necessidade’ não tinha como fazê-lo. Porque o estômago falava mais alto e dominava o cérebro. Restou – o que não deixa de ser significativo – a tomada de consciência de que uma força produtiva sobre rodas tem como parar um país e deixar de quatro todas as instituições que o sustentam formalmente.

Ficou patente que não há Executivo, Legislativo, Judiciário, Forças Armadas etc. etc. que impeçam uma iniciativa simples, como a de desligar os motores de veículos que transportam a riqueza. Mesmo que haja uma intervenção autoritária de ocupar os veículos faltará a mão de obra (motoristas) para leva-la a cabo.

O duro em tudo isso é perceber que tudo pode voltar a acontecer sem que beneficie a população. Isso porque o cerne da questão, a causa primeira, não foi atingida. Nem mesmo de que fosse respeitada a lei.

É que não foi aventada em qualquer instante a discussão em torno do cumprimento da lei que demonstra não estar a Petrobras, como estatal estratégica na área de energia, subordinada à lógica de mercado. As responsabilidades da estatal devem estar vinculadas ao disposto no Art. 1º da Lei 9478/97, que trata dos Dos Princípios e Objetivos da Política Energética Nacional: "Art. 1º As políticas nacionais para o aproveitamento racional das fontes de energia visarão aos seguintes objetivos: - preservar o interesse nacional; II - promover o desenvolvimento, ampliar o mercado de trabalho e valorizar os recursos energéticos; III - proteger os interesses do consumidor quanto a preço, qualidade e oferta dos produtos;".

Na análise do engenheiro Paulo César Ribeiro Lima, veiculada semana passada neste espaço, fica claro que, ainda que a Petrobras se limitasse a um lucro de 50%, o diesel poderia custar R$ 2,30.

Assim, parece simples, a eleição de quem pense em respeitar o fixado em lei soa como melodia aos ouvidos imediatos. E, em ano eleitoral...

Mas, não se engane o leitor – e esperamos estar enganado – o desmonte do país, para o que o golpe foi engendrado (atender aos interesses da banca internacional e empresários vários daqui e de lá) não admitirá a eleição de alguém que não comungue com o pensamento hegemônico e entreguista ora posto em prática. Diante do risco, melhor – para eles – não haver eleições.

Para viabilizar o projeto nada de profético perceber que, diante do desabastecimento oriundo da paralisação saques começaram a acontecer. O caos que pediram para justificar um governo forte para conter os ‘desmandos’.

Mas – dissemos acima – que para eles o melhor é não haver eleições. Ou – para dar uma de democracia – eleger presidente parlamentarista. Para isso, o STF – a mão judiciária do golpe – ensaia legitimar a instauração do parlamentarismo por simples iniciativa do atual Congresso.

Como cita o cronista baiano Raimundo Reis ("‘Paso doble’ pessedista", in Geografia do amor, Livraria Editora): [...} é muito próprio ao brasileiro tornar sem valia princípios eternos. Somos – talvez por origem – do momento que passa. Improvisamos tudo. [...]”.

E aqui afirmamos: improvisamos para piorar. Como o dirá a história do STF de Cármen Lúcia, ao desengavetar uma ação que dormita há duas décadas pela conveniência do instante em que a Democracia torna-se inconveniente para suas classes dominantes. Ainda que – para lembrar de Victor Nunes Leal (in Coronelismo, enxada e voto) – uma classe dominante não mais sustentada no coronelismo dos rincões, mas no financeiro, no Ministério Público e, principalmente, no Judiciário.

Este, particularmente, muito contribuindo para a contenção de gastos: quando o governo aumenta os cortes em recursos para a Educação, Saúde, Investimentos etc., o STJ acaba de licitar a aquisição de veículos de luxo para os seus pares, ao custo módico de 3 milhões de reais, como veiculou o Conversa Afiada.

E como Suas Excelências são sensíveis, outros 470 mil para cadeiras giratórias aguardam a conclusão do certame. Alcolchoadas, naturalmente.

A crise escancarada e o STJ agindo como aquela viúva sapeca: mal sepultou o marido e já na missa de 7º dia arranchada em novo amor. 

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