domingo, 19 de maio de 2019

Palco de ópera bufa


Tudo a ver, ou não!  I
Texas, Arizona, Oklahoma... são nomes nunca esquecidos. Palcos de duelos, terras onde a lei do mais forte se impunha. Armas na cintura davam a dimensão da sociedade daqueles confins em fase inicial de exploração e conquista.

Determinado país, que retoma políticas de faroeste, anuncia seu dirigente no Texas para homenagem.

Tudo a ver, ou não!

Os tempos são outros. Ainda que o faroeste pretendido seja o mesmo.

Tudo a ver, ou não!  II
Não teria havido homenagem. Autoconvite apenas. Vergonha internacional. 

Nem o prefeito da cidade aceita 'anfitriã' receber um ‘presidente’ de um país que exalta o seu país (dele, prefeito).

Quem está a perder a ‘dignidade’ é o próprio país, chamado Brasil, aplaudido pelo ‘Brazil’ de quem o chefia.

Este o país singular que em meio a tudo que já fez por merecer ser conhecido e reconhecido revela ao mundo sua nova invenção: não-convite para um não-evento.

Campeão 
O mandatário acaba de alcançar reconhecimento internacional. Quem o diz é o jornal londrino Financial Time: ‘personalidade’ indesejável no meio diplomático.

Da pior espécie de leproso na Galileia.

Só há uma solução: a volta de Cristo.

Talvez o consiga valorosa ministra que conhece o Salvador de perto, quando o viu 'naquela' goiabeira.

No misto de carta-testamento e renúncia de Jânio resta uma ópera bufa
Outra mentira veiculada pela internet ‘agrada’ aos que sonham com o endurecimento do regime. Cabe, de imediato, registrar que o que está por dentro do endurecer em 2019 não repete 1968 (golpe dentro golpe), mas a implantação, pura e simples, de uma ditadura capitaneada por aquele que não tem condições, tampouco capacidade, de governar a nação mas se acha ungido (como monarca absolutista) e legitimado em razão dos votos que o elegeram.

A atuação governamental – incluindo a organização dos órgãos de governo – aliada ao ideário posto em andamento em nada se assemelha a outras situações pretéritas por que passou o país. No entanto, o panfleto embute elementos de dois instantes peculiares: o que antecede o suicídio de Vargas e o da renúncia de Jânio. Tudo posto nas palavras publicadas de um ‘anônimo’ em defesa do governante.

Assim os mesmos ‘grupos poderosos’ referidos por Getúlio como as ‘forças terríveis” ocultas de Jânio Quadros estariam presentes para inviabilizar as ‘boas intenções’ do governante. 

Não carece perguntar em que se materializam essas ‘boas intenções’ nestes nem completados cinco meses.

Sabido e consabido que nenhum vocacionado a ditador, em qualquer parte do planeta, convive com regras atinentes a uma democracia, porque incompatível com o mandonismo que o norteia.

Em 1968 Burnier tentou explodir o gasômetro do Rio de Janeiro para, nos moldes do Plano Cohen, de Vargas em 1935, lançar a culpa sobre os comunistas.

De terrorismo não se diga que não o entende o presidente, haja vista a ameaça de explodir a adutora do Guandu, no Rio, em 1986, como amostra da luta por melhores soldos para os militares, o que lhe valeu (ao hoje presidente) cadeia por 15 dias e a reserva/aposentadoria aos 33 anos, em 1988, porque a condenação não convinha aos interesses de cúpulas militares à época, naquele imediato de redemocratização e de possível caça às bruxas inversa atiçada pelos ares da liberdade recém conquistada.

No fundo, no fundo uma tentativa em andamento – que nos soa desesperada – de permanecer no cargo por meios nada ortodoxos, alheios àqueles que o levaram a onde está.

As corporações de que fala o apócrifo remete a circunstâncias previsíveis no futuro imediato: suicídio, renúncia ou impeachment.

Mais fácil – coisa natural aos descompensados – a renúncia com vistas a mobilizar os grupos de apoio pela internet (o que Jânio não dispunha) para armar-se e enfrentar o Belzebu. Para tanto, fechar o Congresso, o STF etc. etc. etc.

Aí entra a ‘preocupação’ posta no panfleto: salvar a pátria através do seu ‘divino’ de plantão, mesmo que isso represente a plenitude da destruição institucional, porque a econômica já se materializou.

De certa forma nos vem à mente Luis XVI, de França, quando pensou buscar fora do país o apoio de monarquias para fazê-lo retomar o poder em plenitude. 

Para tanto, fugiu de Paris numa certa noite.

Pensou Luis XVI, naquela que se tornou a famosa Nuit de Varennes, que retomaria o poder absolutista depois de organizar-se no estrangeiro, ele que não aceitava a monarquia constitucional implantada pela Revolução.

Por aqui, a fuga para o vazio na tentativa de reunir suas ‘milícias’ para assegurá-lo salvador de todos.

Mas a caixa de Pandora aberta por tão singular Epimeteu lança contra eles muitos dos que o apoiaram e hoje temem por sua continuidade. Inclusive os ‘poderosos’ ao seu lado.

Há cheiro, concreto, de queda do governante: por iniciativa própria ou de terceiros. Afinal, até os sonhos nos contos de fadas têm fim. Às vezes, deles resta um texto, um poema, um romance, um balé para registro.

Os sinais presentes nos rementem a concluir: buscasse o balet famoso, e se dele personagem o fosse, estaria no limiar da morte do cisne.

Sim, caro leitor. Aquele 13º movimento de “O Carnaval dos Animais” (1886), de Camille Saint-Saëns, coreografado por Mikkail Fokine a pedido de Ana Pavlova, que o estreou na primeira das 4.000 apresentações, em 1925.

Certo, dirá o atento leitor, que o nosso personagem parece estar longe das artes e como não possui a graça desta inspiração.

Mas, não esqueçamos do inovador não-convite para um não-evento, o que nos remete a uma novidade de ser levado um novo espetáculo ao palco: a morte do urubu.

Caso o tema não seja adequado a um balé, muito provável apenas o que já escreveu(?) até agora: ópera bufa sem comicidade alguma.

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