domingo, 5 de maio de 2019

Pilatos


Um detalhe...
O valor final do contrato para aquisição de medalhões de lagosta e vinhos ficou em R$ 481.720,88, afirma-o a assessoria do STF.

O edital teria provocado desconforto entre ministros da Corte e indignado servidores do tribunal, o que levou um deles (ministro) a vazar, reservadamente (como natural à Corte) que a compra não fora discutida em sessão administrativa, daí não ter sido chancelada pelo colegiado. 

A licitação previa originalmente gasto de até R$ 1,134 milhão.

O valor final, ainda que mais alto que o preço vencedor, impedido de manter-se por razões técnicas (impossibilidade de contratar com o poder público) nos deixa um questionamento subjacente.

Aqui não nos incomoda a singular circunstância de uma gente adquirir, com dinheiro do povo, medalhão de lagosta e vinho para seus encontros.

É que cheirou à imoralidade o valor destinado à licitação (1.134.000,00) e tudo se materializou em cerca de 40%. 

Há um cheiro ainda mais estranho: por que valor tão alto fixado para o que poderia (como o foi) adquirido bem mais em conta?

Mas, ao que parece, estamos perdendo (se já não o perdemos) o olfato.

Cansativo I
Um punhado se esgoela. Não há quem ouça. E quem ouve faz de conta (como na ‘carochinha’) que não ouviu.

Folheamos os textos recentes (apenas deste emblemático 2019) e pudemos observar – ainda que pequena a amostragem – o quanto aconteceu de aprofundamento do buraco em que nos metemos. Ou melhor, em que fomos autolançados, por ‘escolha democrática’.

Um punhado se esgoela. E vai ficando no esgoelar. E mais: ‘coisa’ de esgoelado. Ou seja: estereótipo de uma realidade alienada.

A gravidade embutida em tudo que está acontecendo em detrimento do futuro do país e de seu povo (desmonte da educação, da saúde, entrega do patrimônio nacional, desconstrução das instituições e dos valores etc. etc.) parece não estar em andamento.

Enquanto os pedintes voltam às portas, o número dos desamparados aumenta sob as marquises, os desempregados e desalentados reocupando espaço que imaginávamos restrito aos alfarrábios de história o noticiário, a quem cumpria tratar com frieza os dados da verdade factual, apresenta um futuro cor de rosa para o país, mantendo sua linha de compromisso com aquela parcela da classe dominante a quem serve e sempre serviu.

Está se tornando cansativo escrever sobre isso. Por quê? Porque é o mesmo todo dia, toda semana, todo mês e o será em mais um ano que se repete recentemente.

Está ficando cansativo.

Ou, talvez, apenas estressante.

Cansativo II
E quem cabia parte considerável de responsabilidade para conter tal desastre a ele não podemos elevar nosso clamor, porque faz parte e mesmo se integra, com unhas e dentes, em cumprir sua parte para reservar espaço cativo no Nono no Inferno de Dante.

Inclusive servindo medalhão de lagosta e vinho.

Eis que mãos lavadas como as lavou Pilatos, aquele do Ecce homo (Eis o homem).

Mas, um comentário em texto veiculado pelo GGN deixa no ar a certeza de que este país e nossa gente não se fazem apenas da imprensa oficial que nos invade casa e mente a cada minuto do dia.

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