domingo, 18 de agosto de 2019

Por entre leituras, ou a falta delas, as armadilhas que nos cercam III


Armadilha II
“De repente, não mais que de repente” (Vinicius de Moraes) descobrimos o óbvio brasileiro: na descoberta da geografia humana ainda não migramos do cidadão-eleitor para o cidadão-cidadão. O primeiro se imaginou cidadão quando lhe foi facultado o voto universal – delirando quando alcançou-o  analfabeto; o segundo esperará muito tempo para tomar consciência de que votar simplesmente não fará cidadão.

Eufórica, assim parece, a esquerda na voz de algumas de suas expressões (inclusive do PT) sentem-se ‘unidas’ para enfrentar o inquilino do Alvorada. 

Afinal, “fascismo” e “neoliberalismo” são as palavras de ordem que se adequam à perfeição ao presidente e ao seu programa(?) de governo(?). 

Mas, ainda ninguém cuidou de perguntar ao povão o que ele entende por ‘fascismo’ e ‘neoliberalismo’. Ele que entende da realidade imediata: comida, emprego, escola, saúde etc. Ele que se diz informado pela TV Globo e quejandos e rádios que priorizam a propagação da desgraça como realidade natural rotulando-a como caminho da salvação nacional.

Continuam errando na leitura e no tempo da leitura. Não percebem em torno do ‘recurso simbólico’ hodiernamente utilizado (não tão recente), que tudo que ora estigmatiza o mal, o errado, o ilícito “é coisa do PT”. E no embalo, para fugir do Príncipe das Trevas as gentes várias desta terra brasilis aderem ao combate por simplesmente combater, não saber por quê. 

Apenas para ilustrar a memória recente: o PP assegurara apoio a Dilma e, naturalmente, votos contra o impeachment. No dia da votação votou em peso pelo afastamento da Presidente. Bastaram alguns milhões de trocados administrados por representantes de um banco e da indústria paulista para convencer da importância de algo que antes ditos representantes entendiam absurdo.

Considerando o que está em jogo (discriminado na postagem anterior) imaginar que o inquilino vai perder na Câmara e no Senado beira a senilidade.

Caso realmente imprescindível o impeachment, por razões econômicas e não ideológicas, não cabe ao PT comandá-lo (“Coisa do PT” – dirá a mídia para convencer o povo) mas deixar os próprios ‘interessados’ que elegeram o governante destituí-lo. Aí, as esquerdas apenas anuiriam. E não seriam o cordeiro de Esopo e La Fontaine.

Por outro lado imaginar que tal fato é bandeira de luta afirma a falta de leitura do instante e seus desdobramentos. E mais: imaginar que encontrará na mídia hegemônica apoio e reconhecimento por deter a iniciativa avulta em inocência.

Às vésperas de uma eleição municipal a direita pode conseguir espaço a ser conquistado dentro do desastre econômico alimentando o que se tornou chavão, estereótipo: “coisa do PT”.

Caminhamos pelo mato a esmo, onde o que não falta são armadilhas. Porque a armadilha (em nível geopolítico e em nível eleitoral/institucional) está posta. Cabe percebê-la, desarmá-la e depois, então, caminhar.

Podemos estar errado. Daremos a mão à palmatória. Caso contrário, que não se diga que não avisamos.

Post scriptum: 1) há vinte dias o texto se encontra redigido. Nele, como nos anteriores, a observação em torno da errônea leitura e uso do instante como o faz o PT. Temos insistido de que para derrubar qualquer boa inciativa em relação a alguma coisa basta a pecha “é coisa do PT”.

O escândalo, reconhecido por todos que detém um mínimo de lucidez, de vazamentos e ameaças de Moro e os tais hackers de Araraquara, dizia respeito a crimes flagrantes: tornar público investigação sigilosa, ameaçar destruir provas etc.. Foi objeto de representação do PT junto ao STF. A ministra Cármen Lúcia arquivou. Naturalmente por ser ‘coisa do PT’. Coisa que só o PT não percebe. E se esquece da famosa frase “com Supremo e tudo”.

2) o inquilino do Alvorada confirmou o anunciado: proibição, em todo o território nacional, dos radares móveis. Manuela d’Ávila (PCdoB) de imediato falou contra, apoiando-se no risco à segurança.

Duas considerações da coluna: a)  o que mais agrada ao motorista multado por tais radares (às vezes escondidos e camuflados nas rodovias, como assaltantes à espreita da vítima): o discurso de d’Ávila ou o combate promovido pelo inquilino?

A realidade palpável foi levada em conta pela medida do governo: a manipulação da segurança por uma indústria de multa (como se não bastasse aquela de radares fixos, onde até transitar a 30 ou 40 km/h em pistas de rolamento em rodovias federais oneram o proprietário de veículos) que visa ‘educar’ pelo bolso alimentando as burras de governos. 

Em meio a isso, utilizar a ‘segurança’ soará, para a vítima, como defesa da indústria.

Ou seja: leitura errada do fato concreto, sem a devida análise. Quando nada a visão acadêmica desvirtuada da realidade. Ou, o que é mais grave, simplesmente ser contra, ainda que a coisa esteja certa.

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