domingo, 11 de agosto de 2019

Por entre leituras, ou a falta delas, as armadilhas que nos cercam II


A armadilha I
O Brasil foi servido “com Supremo e tudo”. Não há como negar. As violações que sustentaram o impeachment e as escabrosidades cometidas pelo Judiciário para assegurar Lula fora do processo eleitoral – inclusive de nem mesmo poder dar entrevistas – encontraram na forma (processo) e não no conteúdo (direito material) os pilares para que tudo se consumasse. 

Brasil que de logo foi servido, também não há como negar, no imediato da posse do então vice-presidente tornado presidente por força do que hoje muito claro está delimitado: golpe institucional apoiado no Congresso e no STF, respaldado e alardeado como salvação da pátria pela grande mídia e aquele punhado da classe dominante que a tudo internamente comanda, escutando o que lhe recomenda algum ‘grande irmão’ comandando-a de fora.

Caso alguém imagine que tudo ocorreu graças aos lindos olhos dos que vieram a ocupar a presidência do país recomendamos adquirir passagem para a Lapônia.

O que está em jogo
Jogo bruto – geopolítica e hegemonia global postos à mesa – com mentor natural, basta abrir o leque dos beneficiados lá fora com todo o acontecido. 

No banquete o país foi servido, ofertando, no imediato, as iguarias mais imediatamente sonhadas pelos paladares de além-mar: pré-sal, base de Alcântara, perda do controle da indústria aeronáutica (Embraer), destruição da construção civil e naval, antes que lhes seja ofertado como sobremesa o projeto de enriquecimento de urânio e o de propulsão nuclear para submarino que aqui estava sendo desenvolvido. 

Na esteira, devagarinho, na calada da noite, outras conquistas históricas da sociedade (previdência universal partilhada, saúde pública gratuita, ascensão ao ensino superior para todos, agricultura familiar, moradia para todos etc. etc.) sem falar naquela joia rara chamada Amazônia brasileira e sua flora ambicionada pela indústria fármaco-química, sem perder de vista ouro e outro minerais. 

E, como grande segredo, guardado a sete chaves, a água. Não aquela que existe na superfície, mas a imensidão oceânico-subterrânea.

O jogo é bruto e são as riquezas do país prometidas para a nação através de políticas públicas mais distributivistas postas em prática pelos governos petistas que passaram a incomodar. Para tanto, a soberania passou a ser solapada, a brasilidade e o civismo apenas slogan de oportunidade.

A armadilha
Na esteira do quanto até aqui posto a análise deste escriba de província diante da ameaça de impeachment do atual inquilino do Alvorada. Sem negar que motivos os há, em potencial – afinal, se adjetivarmos tal governo como uma anomalia, somente pelo viés do internamento, como já sugerido, ou da extirpação do tumor – difícil é o entendimento de que tal fato se torne bandeira para quem deveria estar buscando nas bases a razão por que hoje está na oposição. 

Por assim pensarmos, legitimidade para o processo o tem, em plenitude, OAB, Janaína Pascoal, Miguel Reale Jr., Lobão, Alexandre Frota e quejandos tantos que o alimentaram contra a presidente Dilma Rousseff – para os quais não faltarão as leituras jurídico-político-constitucionais do STF. Não os que sempre o combateram e se deixaram vencer.

Porque quem lá está ou quem venha substituí-lo não mudará o projeto. Mexerá numa peça insignificante, aqui e ali, alardeada como de suma importância, mas o essencial (a entrega) será mantida. “Com Supremo e tudo”.

O resto são sonhos em noite de verão.

Não compreender isso – e manter um sistema de enfrentamento que em si mesmo já não basta – reflete apenas caminhar os mesmos passos que os ora vitoriosos caminharam: ocupar as ruas simplesmente. Afinal a direita tomou uma estratégia da esquerda e a manipulou em benefício, porque ao lado a mídia por ela controlada para convencer/iludir a massa. 

Onde se põe mídia tudo o mesmo. Difere conforme a ênfase dada ao noticiamento. Sob esse viés a esquerda fica em desvantagem. A não ser que levasse às ruas meia população do país num só instante. O que não conseguiu levar às urnas.

Afinal, outro afinal, são setores ao centro e à direita que começaram a grita por impichar o homem. E a esquerda busca utilizá-la como bandeira própria e exclusiva. Erra por não perceber que será o boi de piranha.

Ao fim e ao cabo, caso afastado o inquilino do Alvorada, sem eleições gerais (o que não está no centro da discussão) será a esquerda (com PT e tudo) legitimando a eleição fraudada, uma vez que certamente ocupará a presidência o vice do inquilino.

Post scriptum: este artigo se encontra elaborado há 15 dias. Bem antes, portanto, de o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, falar da impropriedade de um impeachment. A coluna insiste na leitura exposta: não é o ‘presidente’, mas os interesses que ele assegura e assegurará com sua permanência (ou quem o substitua). Também antes de o Presidente do STF confirmar o que todos desconfiavam: tremeu na hora de defender o Estado de Direito e aceitou a ameaça da linha dura do Exército, mantendo Lula na prisão. Acostumou-se ao grito e não mais viverá sem ele - sabe-o aquela parcela militar tipo 'sargentão'.

E há quem acredite que o problema é o inquilino do Alvorada!

E a esquerda encastelada no PT fazendo o voo programado no outro lado. Para quem qualquer ato que não lhe seja próprio (dela) "é coisa do PT" - como povo diz e repetirá enquanto ouvir o que lhe manda dizer a Globo e quejandos.

E nesta armadilha caminha esta nossa humanidade.

Em meio a isso em que nos tornamos a pérola do ‘inquilino’ a sugerir que controlemos as tripas. Ele que anda à tripas forra, como bom menino de recado nascido na senzala a serviço da casa grande.

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