Poderíamos
finalizar o presente dominical com um “quem foi Naninha”, não fora minimizar o
que vemos como apropriação de princípios que fizeram respeitada uma instituição
por quem a nega.
Muito
ouvimos em tempos idos, de aprendizado das coisas deste mundo, que somente
havia quatro perfeições em organização e hierarquia: a militar, o partido
comunista, a maçonaria e a igreja católica.
No
particular da Maçonaria sempre ouvimos dizer que esteve presente, de forma
decisiva, nos grandes momentos do país, influenciando com seus ensinamentos a
conformação do Brasil independente, da República e por aí vai. De que nenhum
ato de mudança institucional ocorrera sem que discutida entre as colunas dos
templos onde presente a organização dos pedreiros livres.
E assim se manteve em nosso imaginário, porque os outros — de certa forma — claudicaram em algum instante.
Quando
sonhava idealisticamente com a carreira militar (sonho de infância) nos vimos
atropelado pelo golpe de 1964; na esteira do lamentável momento histórico o Partido
Comunista se dividia, a Igreja Católica se preparava para abandonar uma
sequência de lições que a fizeram migrar dos altares para rezar o Evangelho com
o povo e em meio ao povo (Rerum Novarum, Quadragesimo Anno, Mater et Magister,
Pacem in Terris), e já na década seguinte retornava às antigas práticas.
Restava
a Maçonaria se nos apresentando, com seus ‘famosos’ segredos, como a mãe do
pensamento filosófico que deveria nortear os homens como o fizera na Revolução
Francesa.
De lá para cá, transcorrido pouco
mais de 50 anos das observações que orientavam a puberdade nos debruçamos com
uma manchete circulando na rede: “Entidade da
maçonaria convoca atos pró-golpe e pede ‘apoio incondicional’ a Bolsonaro”
O
último refúgio da adolescência foi ao chão. Não porque maçons sejam unidade de
prática do que prega a filosofia que defendem. Mas porque quem teria motivado
uma revolução Francesa caberia defender tudo que negue absolutismo em sua pior
manifestação: ditadura.
Não
sabemos se essa tal Associação Nacional Maçônica do Brasil (Anmb) representa
realmente o pensamento maçon pátrio. Se não representa e não houver contraponto
ficará como verdade para o leigo a absurda manifestação.
Tímpanos e neurônios incomodam-se: aqueles
que aprendemos a ver como paladinos da fraternidade, da liberdade e da
igualdade estariam a defender a negação de todo o defendido.
Nenhum
momento mais infeliz e inconveniente para tal proclamação. Afinal, não nos
tornamos paradigma de grandeza humana, mas em mesquinhez. Naquele dia de
convocação (30 de março) 3.780 sucumbiram sob a foice do Covd-19 e passamos a vencer a
corrida para saber quem mata mais; no restante do mundo, em outros dez países (França,
Espanha, Alemanha etc., onde EUA,
liderando com 563 óbitos), a soma de todos
eles não nos alcançava: 3.662.
Isto
o que nos deixa pasmo: quem defende fraternidade, liberdade e igualdade
desejando que tudo permaneça.
Na
nota divulgada a entidade “vem externar apoio incondicional às Forças Armadas,
na pessoa de seu comandante-geral”, nada mais nada menos que o inquilino do
Alvorada, que foi reformado/aposentado aos 33 anos de idade por prática de ato
terrorista contra o Estado e a Democracia, quando ameaçou explodir a adutora do
Guandu no Rio de Janeiro, em 1986. Para quem defende e aprecia a coisa, esta
coluna entende o “apoio incondicional”, até porque sendo o inquilino um
vocacionado ao terrorismo no imediato do golpe dentro do golpe, em 1968,
Burnier programou explodir o gasômetro do Rio, lançar a culpa sobre os comunistas e sequestrar políticos e clérigos
e matá-los, fato que não se consumou graças à reação e à postura de Sérgio
Macaco.
Tudo
a ver. Quando dizemos que o inquilino não se fez sozinho fatos como o presente
o confirmam. Comemorar o 31 de março, que originou tamanhos absurdos, é
comemorar a tortura nos porões, o assassinato de adversários. O próprio General
Geisel, em seu livro de memórias, afirma ser o inquilino um ‘mau militar’.
Assim não pensam os que subscrevem a convocação.
Joaquim
Nabuco afirmou em seu tempo que o grande problema não dizia respeito à extinção
da escravatura no Brasil mas a extinção de sua obra na formação da sociedade
brasileira.
Registrado no prefácio de O Abolicionismo — dos idos do abril de 1863 — a necessidade de “arrependimento dos descendentes de senhores” de escravos como elemento de humanização da sociedade brasileira em formação, que vivia, para Nabuco, um país “ultrajado e humilhado”.
O
pífio das manifestações, caso as tomemos em decorrência da convocação maçônica (?!!!) não afasta a surpresa. Os que a
subscrevem em pensamento ainda não se arrependeram dos males causados ao país. Escondem
na covardia o pensamento escravocrata e suas consequências no curso da história
pátria, justamente no biombo que a tudo isso nega. Em meio a uma pandemia que
ceifa milhares diariamente a defesa em nome da Maçonaria de um golpe militar
que torturou e matou nos porões e fora deles nos remete a parodiar Hemingway:
Por quem os sinos dobrarão.
Certamente este romance tupiniquim não continuará escrito tão somente pelos mortos; também pelos coveiros mortos-vivos que
maculam a filosofia das instituições que os abriga, subscrevendo em seu nome o
inominável.
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