Nada a acrescentar ao dia a dia do país. Que apenas mantém o enredo e o confirma com adição diária de texto que adita ao espetáculo macabro.
Uma declaração expressada pelo ex-governador
do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, durante depoimento à CPI da Pandemia, não
deixa dúvida em torno de algo que muitos sabem: a vinculação de gente hoje
encastelada no Palácio da Alvorada com o assassinato da vereadora Marielle
Franco e seu motorista.
Algo de tamanha gravidade, passível de ser
revelada em sessão secreta – a pedido do depoente (“porque os fatos são graves”)
– nada deixa de secreto no que ali seria dito.
Algum escândalo, alguma reação da sociedade: nada,
absolutamente nada. Não por que as desconfianças se materializam, mas porque o
jogo de conveniências leva todos ao castelo do silêncio. Afinal, os meios
tradicionais de comunicação/informação negam-se a informar fatos, porque buscam
tornar ‘fatos’ o que materialize os interesses que defendem.
Temos afirmado que o inquilino do Alvorada passa
ao largo de fatos desta natureza porque atende aos reclamos dos interesses que
o puseram onde está. Mais um se consuma esta semana: a privatização/abertura de
capital da Eletrobrás, no imediato de anunciado colapso no fornecimento de
energia que tende a ser mais grave que aquele ocorrido em 2001.
E nos vem à lembrança a Carta Testamento de
Getúlio Vargas, passados 73 anos de sua morte: “Quis criar a liberdade nacional na
potencialização das nossas riquezas através da Petrobras, mal começa esta a
funcionar a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o
desespero”.
E aí estamos: a Petrobras, destruída e
retalhada; a Eletrobrás seguindo o mesmo trajeto. As conquistas sociais dos
menos favorecidos às calendas...
Registramos no texto da semana passada: “O que denominamos formalmente de
democracia brasileira — que pode, por justiça, muito bem ser alcunhada de “à
brasileira” — está sem rumo, destroçada desde os avanços da Carta de 1988
(que estabeleceu as premissas de um Estado de Bem-Estar Social) e caminhando
mais célere do que possamos imaginar para o precipício”.
Mas tudo que aí está se desenvolveu (desde
tempos mais idos, passando por Getúlio Vargas) a partir da premissa de que o
combate à corrupção é a única pedra angular do combate à miséria e às
desigualdades históricas.
Tanto que, até uma Procuradora da República
(sim, caro leitor!) — que palestra
em torno da ‘cantiga de grilo’ — assume sua
condição ideológica de colunista em espaço nazifascista.
Em 90 anos de sua história recente o país
viveu toda experiência possível e experimentou oportunidades de se tornar referência
internacional em definitivo, ocupando um lugar destacado no concerto das
nações.
Conquistas não podemos dizer que não tivemos.
No entanto, para cada passo adiante fizemos questão de dar três, quatro de
volta ao passado.
Alerta Marcos Coimbra, através do 247: “Você pode não ter conseguido ainda se
resolver a respeito de Bolsonaro, se é um gênio do mal ou um bufão autoritário,
mas de uma coisa não há dúvida: se tiver condições, Bolsonaro dará um golpe.
Não porque o golpismo seja parte de sua natureza e convicções (e é). Ele quer o
golpe porque percebe que as chances de permanecer no poder pelo voto, que não
eram grandes, diminuíram significativamente”.
Sabe o leitor, que pacientemente nos acompanha,
que sobre a conclusão acima temos comentado e analisado neste espaço. Afinal, das metrópoles às
províncias da análise tudo está por demais claro.
Como alertávamos no início de maio em torno do
óbvio palpável (aqui) antes do final de junho alcançaríamos a estatística
macabra dos 500 mil mortos sob o crivo do Covid-19. Que na sexta-feira 19 foi
ultrapassada.
Mas os números não dizem apenas dados típicos
de um genocídio; embutem um limite extremo da crueldade: 400 dos 500 mil mortos
poderiam estar vivos caso houvéssemos feito, em nível de governo, o que
recomendava a Ciência, começando por adquirir e distribuir material de proteção
à doença, investindo em hospitais, promovendo campanhas protetivas e a
vacinação quando possível. Sabemos hoje que o governo aplicou menos de 30% dos
recursos orçamentários disponibilizados para combate à pandemia em 2020 (Senado), enquanto multiplicava em doze
vezes os gastos na produção de cloroquina (Carta Capital).
Já não beirasse a crueldade, ouvimos de
próceres do governo sugestões para consumo de alimentos vencidos para os pobres
e restos de restaurantes para mendigos (Brasil de Fato), nós que somos, como país, o terceiro
maior produtor de alimentos do mundo convivendo com o paradoxo de ter a metade
de sua população em nível de insegurança alimentar, da qual quase trinta
milhões em estágio famélico.
Ou seja, em vez de políticas públicas para reduzir o desemprego, gerar renda e distribuir riqueza o ilustre remete os necessitados às migalhas.
Em meio à evidência de práticas criminosas, de
malversação de recursos públicos e o reiterado descaso para com a vida não
sabemos se temos um governo que implanta um golpe de misericórdia contra seu
povo (um novo formato da ‘solução final’ preconizada por Hitler) ou demonstra
ao mundo o seu ‘Humanismo à brasileira’.
Decida o leitor.
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