domingo, 18 de julho de 2021

Lucidez que se exige

 

O título deste dominical inspirado em mensagem de Paulo Alysson Mascaro através do 247 alcança os que não mais se sustentam em termos idealísticos nas bandeiras de tempos não mais condizentes com a realidade. Explicando: o que fizemos, o que pusemos em prática há meio século foi atropelado pela dinâmica dos tempos. Menos decidimos hoje ainda que reunidos e congraçados que ontem.

Temos que aquele modelo se esgotou como caminho único para viabilizar os avanços de que carecemos.

Este articulista de província tem batido nesta tecla (basta que o paciente leitor releia nossos textos nos últimos anos). Porque não encontramos para tanto fracasso de alguns movimentos além de um fato concreto: não estão enxergando os tempos presentes e seus instrumentos de convencimento, de manipulação, de apropriação da verdade e da realidade em benefício próprio.

Não se negue a luta, o espaço aonde praticá-la. Mas as estratégias de Napoleão não condizem com uma guerra nuclear.

A luta política imprescindível e imperativa no Estado moderno vive nesta contemporaneidade o manuseio por métodos espúrios.

Exemplo mais que flagrante reside na realidade tupiniquim desde que fatos concretos no atual governo não conseguiram gerar indignação suficiente ao manuseio do impeachment

O que hoje leva ao conhecimento os fatos denunciados não é a mobilização concentrada, a não ser em casos extremos de consciência (não necessariamente de conscientização) do que está realizando.

Não fora isso não há como entender que ‘mobilizações’ tenham afastado a ex-presidente Dilma Rousseff e não consiga fazê-lo em relação ao atual inquilino do Alvorada.

Hoje as mobilizações de rua só existem se transmitidas ou referenciadas através dos meios de comunicação, com especial peso para a televisão. Não a mobilização humana em si, mas o ‘como’ se fale dela. A rede começa a ocupar espaços, mas não ainda bastante a superar as necessidades de alcance das pretensões.

O debate hoje muito utilizado para confundir vai perdendo em essência. E tudo fica igual, vulgar, nivelado por baixo. Ideias postas em prática são aniquiladas por repetidas negações e aquele beneficiado se torna o próximo a negar o que o beneficiou. De certa forma, vivemos o modismo das redes arautas da verdade, ainda que quase a totalidade dos que nela se baseiam estejam limitados ao minimo minimorum. Qualquer bobagem veiculada toma corpo. E influencia ao contrário, tornando o de valia como “mais um” que circula.

Sob a égide desta preocupação fincamos bandeira neste espaço como crítico da postura da esquerda, que nos parece discutindo apenas o instante imediato sem estabelecer uma proposta concreta para enfrentar não a alternância de poder mas, acima de tudo, a consolidação do poder conquistado.

E o dizemos em relação à esquerda por uma razão elementar: como governos exercita na prática políticas de Estado consonantes com o Estado de Bem-Estar Social. Assim, ocupar o poder e realizar políticas produtivas e depois deixar que se esvaia pelo ralo todo o alcançado constituirá um moto perpetuo como o que ora se ensaia. Os que acreditam em Lula (e não lhes falta razão) não podem estar limitados tão somente à sua liderança, mas ao projeto consolidado que pôs em prática quando governante. Ou seja: não será o retorno de políticas válidas e comprovadas em sua eficácia que assegurarão aquela ‘consolidação’ acima registrada, mas o que deixou de ser feito no passado para que tal fosse compreendido e levou ao estado em que nos encontramos.

Eis a razão por que temos questionado a postura apenas imediatista das mobilizações. Apenas “fora”, apenas “impeachment”. Não que tal não devesse ocorrer, mas continuamos passando ao largo do histórico problema brasileiro, centrado no colonialismo. 

Uma breve leitura dos anos 50 até o presente nos exibe a realidade crua e nua: alternância de poder como solução. Nenhum projeto para superar os vícios clássicos encastelados nas castas judiciárias, políticas, militares, religiosas, empresariais. Os que surgiram foram sufocados, como o mais recente. 

E não discutimos a razão por que tudo se repete, tampouco temos elaborado instrumentos de consolidação de um poder que traduza políticas públicas voltada para o povo. Limitamo-nos aos avanços referentes a esta ou aquela classe social, não ao contexto da nação. 

O momento demonstra à sorrelfa que não deixamos de viver a mítica sebastianista. E nesse tanger os instantes se sucedem, a maior parte de tragédia para a nação. E aqui ‘nação’ está posta como povo que depende do Estado gestor que o tenha como destinatário das políticas públicas.

O dito por Paulo Alysson Mascaro bem traduz essa crua verdade, dolorosa realidade.

Destes cafundós indagamos: aonde o projeto de país levado à consciência da nação através dos movimentos?

Não, todo “Dom Sebastião” ultrapassa seu Alcácer-Quibir. Mas não basta tê-lo como exemplo de luta.

Compreender isso é a lucidez que se impõe.


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