O
título deste dominical — inspirado
em mensagem de Paulo Alysson Mascaro através do 247 — alcança
os que não mais se sustentam em termos idealísticos nas bandeiras de tempos não
mais condizentes com a realidade. Explicando: o que fizemos, o que pusemos em
prática há meio século foi atropelado pela dinâmica dos tempos. Menos decidimos
hoje — ainda que
reunidos e congraçados — que
ontem.
Temos
que aquele modelo se esgotou como caminho único para viabilizar os avanços de
que carecemos.
Este
articulista de província tem batido nesta tecla (basta que o paciente leitor releia
nossos textos nos últimos anos). Porque não encontramos para tanto fracasso de
alguns movimentos além de um fato concreto: não estão enxergando os tempos
presentes e seus instrumentos de convencimento, de manipulação, de apropriação
da verdade e da realidade em benefício próprio.
Não
se negue a luta, o espaço aonde praticá-la. Mas as estratégias de Napoleão não
condizem com uma guerra nuclear.
A
luta política —
imprescindível e imperativa no Estado moderno — vive nesta contemporaneidade o
manuseio por métodos espúrios.
Exemplo
mais que flagrante reside na realidade tupiniquim desde que fatos concretos no atual
governo não conseguiram gerar indignação suficiente ao manuseio do impeachment
O
que hoje leva ao conhecimento os fatos denunciados não é a mobilização
concentrada, a não ser em casos extremos de consciência (não necessariamente de
conscientização) do que está realizando.
Não
fora isso não há como entender que ‘mobilizações’ tenham afastado a
ex-presidente Dilma Rousseff e não consiga fazê-lo em relação ao atual
inquilino do Alvorada.
Hoje
as mobilizações de rua só existem se transmitidas ou referenciadas através dos
meios de comunicação, com especial peso para a televisão. Não a mobilização
humana em si, mas o ‘como’ se fale dela. A rede começa a ocupar espaços, mas
não ainda bastante a superar as necessidades de alcance das pretensões.
O
debate — hoje
muito utilizado para confundir — vai
perdendo em essência. E tudo fica igual, vulgar, nivelado por baixo. Ideias
postas em prática são aniquiladas por repetidas negações e aquele beneficiado
se torna o próximo a negar o que o beneficiou. De certa forma, vivemos o
modismo das redes arautas da verdade, ainda que quase a totalidade dos que nela
se baseiam estejam limitados ao minimo
minimorum. Qualquer bobagem veiculada toma corpo. E influencia ao
contrário, tornando o de valia como “mais um” que circula.
Sob
a égide desta preocupação fincamos bandeira neste espaço como crítico da
postura da esquerda, que nos parece discutindo apenas o instante imediato sem
estabelecer uma proposta concreta para enfrentar não a alternância de poder
mas, acima de tudo, a consolidação do poder conquistado.
E
o dizemos em relação à esquerda por uma razão elementar: como governos exercita
na prática políticas de Estado consonantes com o Estado de Bem-Estar Social.
Assim, ocupar o poder e realizar políticas produtivas e depois deixar que se
esvaia pelo ralo todo o alcançado constituirá um moto perpetuo como o que ora se ensaia. Os que acreditam em Lula (e
não lhes falta razão) não podem estar limitados tão somente à sua liderança,
mas ao projeto consolidado que pôs em prática quando governante. Ou seja: não
será o retorno de políticas válidas e comprovadas em sua eficácia que
assegurarão aquela ‘consolidação’ acima registrada, mas o que deixou de ser
feito no passado para que tal fosse compreendido e levou ao estado em que nos
encontramos.
Eis a razão por que temos questionado a postura apenas imediatista das mobilizações. Apenas “fora”, apenas “impeachment”. Não que tal não devesse ocorrer, mas continuamos passando ao largo do histórico problema brasileiro, centrado no colonialismo.
Uma breve leitura dos anos 50 até o presente nos exibe a realidade crua e nua: alternância de poder como solução. Nenhum projeto para superar os vícios clássicos encastelados nas castas judiciárias, políticas, militares, religiosas, empresariais. Os que surgiram foram sufocados, como o mais recente.
E não discutimos a razão por que tudo se repete, tampouco temos elaborado instrumentos de consolidação de um poder que traduza políticas públicas voltada para o povo. Limitamo-nos aos avanços referentes a esta ou aquela classe social, não ao contexto da nação.
O
momento demonstra à sorrelfa que não deixamos de viver a mítica sebastianista.
E nesse tanger os instantes se sucedem, a maior parte de tragédia para a nação.
E aqui ‘nação’ está posta como povo que depende do Estado gestor que o tenha
como destinatário das políticas públicas.
O
dito por Paulo Alysson Mascaro bem traduz essa crua verdade, dolorosa
realidade.
Destes
cafundós indagamos: aonde o projeto de país levado à consciência da nação
através dos movimentos?
Não,
todo “Dom Sebastião” ultrapassa seu Alcácer-Quibir. Mas não basta tê-lo como
exemplo de luta.
Compreender
isso é a lucidez que se impõe.
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