Por mais insensível que o seja — e o
demonstra diante das intempestivas falas e posturas — não anda
fácil a vida do inquilino do Alvorada. Para quem teve o caminho de acesso ao
poder pavimentado por conluios os mais variados — onde o menor foi aquele de vítima de
uma tentativa de homicídio — como sói
ocorrer a quem se encastela no poder em regime que admite a reeleição, o sonho
imediato de consumo é dispor de um segundo mandato para ver a “sua” obra
concluída.
Os sinais a pouco mais de um ano para a tentativa
de permanecer no poder não são alvissareiros. O temor maior, candidatura do
ex-presidente Lula — afastado em
2018 em meio a um daqueles conluios envolvendo esferas do Judiciário (em
especial o STF), Ministério Público e quejandos — está a pleno vapor, bem avaliada e
tornou-se obstáculo concreto ao projeto do governante atual.
Os arroubos e ameaças — incluindo
não aceitar o resultado eleitoral (que lhe seja desfavorável, naturalmente) — permanecem
encontrando eco naquele percentual que o tem como o ‘mito’ (à perfeição de si
mesmos), que beira em torno de 20% a 25% do eleitorado (ainda).
Mas, o instante traduz a sabedoria popular: quem
joga canivetes para cima tende a ferir-se com um deles.
Não bastasse, está acossado por denúncias. Não
mais somente aquelas que o vinculavam à milícias e desdobramentos tais, como as
rachadinhas (e não se tenha que somente ele o pratica na seara política. Deve
contar-se nas pontas dos dedos quem não o faz, em todos os níveis de legislativo
— federais,
estaduais e municipais).
Seu carro-chefe de campanha repetiu o trivial:
ser diferente ‘de tudo isso aí’ e combater a corrupção. Pois não é que o
indigitado começa a aparecer como ciente de denúncias da existência dela no
seio do governo sem que qualquer providência tenha tomado para combatê-la?
Um “mar de lama” (expressão cunhada por Carlos
Lacerda contra Getúlio Vargas, em 1954) brota nas entranhas do governo.
Denúncias gravíssimas de desmandos no seio do poder, que não foram enfrentadas
com vigor necessário, levam ao público a dedução de que o seu timoneiro está envolvido,
quando nada por omissão ou incapacidade, afirma-o pesquisa Datafolha.
Certo que já se acumulam indícios (e mesmo
provas) de que o inquilino do Alvorada prevaricou. Ou seja, sabendo dos desmandos
não tomou as providências que lhe cabiam para apurar e punir.
Como se fez auxiliar de milhares de militares
na condução da gestão pública a situação ocupa um patamar tal que repercute na
imagem das Forças Armadas — sempre
cuidadosas em proteger-se, como se únicas vestais da moralidade o fossem — que já são avaliadas como inconvenientes
quando assumem posicionamento político Datafolha.
A desconfiança do homem comum já reconhece a
existência de corrupção no Ministério da Saúde, quando comandado por um general.
E essa coisa corre como fogo de monturo, sem que ninguém perceba.
E a expressão ‘militar’ começa a ser sinônimo de
compactuação com irregularidades. No que diz respeito aos indivíduos inconvenientes
que se utilizam da farda e da função para negar o que a ética e a disciplina das
corporações recomendam não mais reflete somente Exército, Marinha e Aeronáutica: lançado na mesma panela tudo o que vista farda e se utilize do aparelho estatal
para benefício particular.
Como não bastasse aquela lista de militares
beneficiados com auxílio emergencial, o governo também beneficia até aquele “investigado por tentar vender 400 milhões doses de vacina”, que recebeu o seu quinhão de
sinecura.
O que estranha é o estágio que alcançamos no
quesito reação. Apenas a de sempre. Nada de colocar em prática os instrumentos
institucionais para pôr um basta a tais descalabros, ainda que escancarados fatos
não tão recentes. Ou seja, se não cair de podre o governo não cairá sob a égide
de impeachment ou coisas tais.
Afinal, pensa este escriba de província que
por aqui as coisas efetivamente acontecem (sempre) sob o crivo da conveniência.
Desta forma, enquanto for conveniente ao sistema (e ainda o é) não haverá
instrumento jurídico que o afaste. E melhor ficará quando indicar o seu ministro
“terrivelmente evangélico” para o STF.
Mas, ainda que persista a realidade
escancarada em escrito deste escriba (Na pátria da hipocrisia uma pá de cal no sonho da democracia) há sinais de que o tormento causado se volta contra o
causador e sua fisionomia atormentada o diz.
Que nunca será o das vítimas da incúria que,
somando mais de 530 mil (somos hoje o país com maior número de mortes diárias
por Covid-19 no mundo, superando os totais diários, isoladamente, da Europa,
Ásia e África), assistem não mais somente as diatribes do inquilino do
Alvorada. Também a escada ascendente dos malfeitos.
No fim, essa novela chã nos leva ao tormento
por que passamos. Tende o atormentado de plantão receber a sua parcela em dobro
— a de sofrer a si e fazer sofrer aos
seus. O ‘mito’ já tem estampado na testa a marca que dizia combater: a
desonestidade. 70% acham seu governo desonesto (Datafolha).
Sua capacidade de causar tormentos já alcançou
até o futebol — dirão seus
críticos, com razão, diante dos fatos: até a Seleção Brasileira, utilizada para impressionar o ‘defensor’
da disputa da Copa América no Brasil, sucumbiu para os ‘hermanos’. Em pleno
Maracanã.
Acalenta-nos a sabedoria popular. Dizia vó
Tormeza: “Se não há bem que sempre dure não há mal que não se acabe”.
Os tormentos cairão, certamente.
Aos atormentados ultrapassar na barca de Caronte o Portal (“Deixai toda esperança, ó vós que entrais”) e ocupar a Esfera de Antenora, no Nono Círculo, como preconiza Dante Alighieri.
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Observação: as referências ao Datafolha reproduzem o veiculado no Brasil 247.
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