O então relator da Comissão de
Orçamento do Congresso, deputado João Alves de Almeida (leia aqui), depondo
à CPI que apurava o escândalo denominado de “anões do orçamento” sobre como
conseguira o dinheiro que jorrava em
e de suas contas bancárias justificou-o
através de sucessivos e constantes ganhos na Loteria Esportiva, tributando tal
sorte a Deus, que o ajudara muito.
O argumento que motivou ironia e riso naquele
instante certamente pode ser alegado por muita gente nesta terra de São Saruê.
Como o delegado da Polícia Federal que
adquiriu apartamento em Miami de 675 mil dólares e quitou em 16 meses o
financiamento de 337,5 mil dólares (Metrópoles). Em reais, 3,5 milhões e 1,9 milhões,
respectivamente, no câmbio atual. Adiante-se que a renda familiar líquida do
indigitado gira em torno dos 31 mil mensais, da qual o equivalente a R$ 11 mil
seria consumido com custeio de condomínio e impostos.
Não culpemos o sonho de consumo deste
ilustre representante da burguesia nacional. Afinal, não há muito tempo, um
outro — então
ministro Joaquim Barbosa, do STF — também adquirira apartamento em Miami
e mesmo criou empresa (que não podia, por impedimento legal) para facilitar a
transação e burlar o Fisco pátrio.
Viver é bom! No Brasil, naturalmente!
Este o sonho de consumo da burguesia
brasileira: viver em Miami-EUA. E mais: ter por residência aquela terrinha; naturalmente
vivendo desta terrinha.
Líderes de audiência televisiva, de
venda de indulgências, e quejandos outros têm um cantinho ‘de seu’ nos States e contas bancárias para
privilegiados em paraísos fiscais. Oh! Glória!
E cá, da planície da província,
assistimos a tudo na versão impressa/imprensa: tudo normal – fruto da
meritocracia – quando envolvidos próceres do sistema encastelados neste ou
naquele espaço/órgão governamental, seja militar ou civil.
A burguesia nacional se espelha na
classe dominante que exercita o poder para alimentar tais benesses. Para ela
iate e avião devem continuar isentos de impostos; o fusquinha caindo aos
pedaços (metáfora), não.
Para a manutenção de seus privilégios
dispõe de representação política para garantia de tais quejandos. Afinal, o
país não passa de horta no quintal dos interesses. Interesses que nunca estão
atrelados aos do povo.
Na tentativa de superar os vícios da
colonização primitiva no século XX construiu-se um projeto de representação
política que se materializou, a partir dos anos 30, na conformação
esquerda/nacionalismo versus direita/entreguista, de onde adiante destacados
PTB (de Getúlio Vargas) x UDN. Aquela UDN que se posicionou contra os projetos
nacionalistas e se utilizava de todos os meios para inviabilizar governos que o
pretendessem e se tornou a representação político-partidária maior do golpe de
1964.
Dali ARENA, PDS, PFL, DEM. Viés deste
projeto, aliado diretamente aos propósitos de entrega do país, de submissão aos
interesses do capital estrangeiro, o PSDB capitaneado por quem defendia a
‘dependência econômica’ como instrumento de desenvolvimento.
Nos estertores daquele século, no
costado dos perseguidos partidos de esquerda o Partido dos Trabalhadores nasce
como contraponto ao projeto político da classe dominante, mais ao centro.
Chegou ao poder no limiar do século
seguinte sob o crivo de alianças que lhe assegurassem governabilidade. Uma
governabilidade pensada a partir do alto, nos moldes do novo modelo de
colonização, representada por uma classe dominante pautada nos vícios
históricos.
Alianças que o tiraram do poder.
O que é difícil de entender é que haja
quem aplauda a aventada possibilidade de dobradinha Lula-Alckmin, ou seja,
PT-ex-PSDB. A incompatibilidade de princípios políticos, de projeto que retome o
Brasil como país independente é gritante e aviltante até pensar em contorna-la.
Seja-o com PSDB ou qualquer outro de igual estirpe.
Como temos dito — caso esse
tipo de projeto político-eleitoral venha a se consumar — a turma demonstra
não ler em torno nem do passado recente. O PT tirou Michel Temer do poço sem
fundo em que se afundara no porto de Santos e pensa aproveitar-se de quem nem
poço tem aonde se esconder. Àquele — e ao seu PMDB — entregou joias
da coroa, como diretorias várias da Petrobras. Ao futuro aliado à direita o que
restar, certamente.
Afinal, a não ser que os ventos
externos (Carta Capital) consigam fazer com Lula o que fizeram com Dilma e a sucessão
petista em 2018, a busca de apoio de tal jaez mais nos parece uma confissão de que
o inquilino do Alvorada está melhor na fita do que o revelado pelas pesquisas.
Ou, lembrando do ‘anão’ João Alves “Deus
me ajudou muito”, a denominada esquerda anseia por ajudar os caídos para ser
por eles derrubada.
Conferindo
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