quarta-feira, 2 de setembro de 2015

As faces

Da gênese
Certamente os problemas por que passa a Governo Federal – expressão da práxis político-administrativa do Partido dos Trabalhadores nestes treze anos de república – reside menos na sofrível condução da economia e mais, muito mais, no que deixou de – pelo menos – desenvolver na consciência da sociedade, esta observada naqueles segmentos evidentemente beneficiados pelas políticas de Estado desenvolvidas pelo governo petista. Paralelamente à ação governamental não foi fixada na consciência da coletividade beneficiada nem mesmo a circunstância de estabelecer a diferença comparativa no plano histórico.

Temos afirmado – inclusive à luz de experiências próximas – que em muito o pensamento do partido desenvolveu uma ‘crença’ em que a realidade imediata alteraria, pura e simplesmente, compreensão e comportamentos atávicos da sociedade brasileira. 

Nesse particular, imaginou que o exemplo da ação administrativa, representada na gestão de política sociais, se reproduziria em elogios e reconhecimentos. Que todos os estamentos sociais que lhe teriam sido adversos se deixariam deslumbrar com a revolução pacífica, somados à base correligionária que ativara as ruas durantes os anos de busca pelo poder.

A assunção do poder – como sói acontecer com a assunção de poder, em qualquer estágio – escancarou os conflitos entre as várias facções internas, de pensamentos – algumas – até incompatíveis, na prática, com a realidade de administrar o país. 

Não à toa, foram-se militantes históricos, fundadores e pensadores da experiência político-partidária que resultou na criação do PT. Muitos alegando descompasso entre o sonhado e o praticado.

O purismo destes até se justifica no plano da coerência.

No entanto, no verso do caminho duplo, perdeu o PT quadros e angariou outros tantos. Dentre os que perdeu alguns daqueles utópicos e sonhadores com a revolução universal do socialismo; outros, pela incompatibilidade no plano dos interesses imediatos. Dentre os que ‘encontraram’ no PT o porto, todos os que não conseguem conviver longe do poder, aqueles desprovidos de um mínimo de consciência histórico-política do que representa o avanço do trabalhismo consolidado na experiência petista.

Na situação presente está o Governo Federal em debate – não só interno – com as forças várias que indiretamente exercitam controle sobre as forças político-partidárias que sustentam o poder. Sob este crivo debate-se na busca de um caminho, de uma solução para superar o conflito presente no próprio organismo partidário.

E aí se defronta o PT/governo com todas vertentes: as que lhe fazem histórica oposição – muitas de conteúdo ideológico – e outras que – pela contradição entre o passado idealista e o presente oportunista  renunciam a toda história pessoal construída.

Talvez construída sobre pântano.

Somente assim podemos identificar as (não)razões de Helio Bicudo se propor a postular pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Fora ele integrante da oposição estaria no seu papel, porque ideologicamente não convém às castas por ela representada qualquer continuidade do que não lhe atende em nível de interesses.

No entanto, como egresso de um grupo de idealistas que contribuiu para formatar a construção de um Estado nacional para os brasileiros sua postura beira o nonsense e alcança a estupidez.

Basta que se lhe pergunte: substituir Dilma por quem neste instante? Por quê? É a solução (milagrosa) para tudo que de mazela foi historicamente construído neste país? Onde e como ficarão as conquistas da sociedade, a redução das desigualdades sociais e regionais etc. etc. etc.?

Enquanto as forças conservadoras do país abrem-se na defesa do respeito ao resultado eleitoral Hélio Bicudo, cínica e hipocritamente, propõe-se remar contra a corrente.

Dispensa de condenar – ou, como jurista, acionar – a omissão do Congresso e do Judiciário pela falta de compromisso para com o Brasil nação. De forma objetiva enfrentar os golpistas encastelados nos Poderes da República.

Hélio Bicudo – dito petista histórico – deixou de pensar no povo. Convertido, certamente, em favor daquilo que condenou no passado e que – ao que parece – deixou de anatematizar no presente. Mesmo que em desfavor daqueles que disse defender em tempos mais pretéritos.

Parece-nos um triste fim para quem pensou defender o futuro para este país!

Em Hélio Bicudo a verdadeira face de uma das faces da gênese petista: a que não se sustenta nas convicções.


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