quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Que caiam os que devem cair

Não o país
A Folha de São Paulo, em edital veiculado no início de agosto, quando ainda não havia se agravado a crise política – uma vez que limitada então à busca de um ‘terceiro’ turno – analisava a crueza da insensatez por sua linha editorial, tanto que titulado “Vácuo de legitimidade”, mas assim ilustrava a realidade:

“No PSDB, por exemplo, dado que o impeachment levaria à posse do vice Michel Temer (PMDB), uma facção passou a patrocinar a hoje inoportuna ideia de nova eleição – na qual seu candidato derrotado, Aécio Neves, despontaria em vantagem.
...
“Fica evidente, porém, que uma ala barulhenta do partido pensa que pode subordinar os meios jurídicos a seus fins eleitorais, vergando as regras da democracia para encurtar o caminho até o poder.” 

Ao leitor não resta entender “vergando as regras da democracia” com outro significado que não o de ‘golpe’.

De lá para cá os fatos mais se acentuaram. 

As manobras para ‘vergar a democracia’ tornaram-se mais escancaradas. Um ministro do STF (Gilmar Mendes) se reuniu com o presidente da Câmara dos Deputados (Eduardo Cunha) e um outro par (Paulinho da Força) para um café da manhã onde o assunto não foi outro se não traçar o afastamento da Presidente da República. O expresso aqui não é ilação, mas a repetição do quanto declarado pelo ministro Mendes.

Mais recentemente foram aprofundadas as ‘razões’ para tal afastamento e definido o seu meio: o impeachment.

Nesse particular (o impeachment), cabia sua viabilização não porque fundado no direito material mas naquele formal/processual produzido a partir dos escaninhos da rabulagem de Eduardo Cunha, tanto que veio a ser questionado junto ao STF através de Mandado de Segurança.

O descontrole avança desmedidamente para tornar o país no verdadeiro caos.
Mas, não estamos diante de um caos para gerar vida, mas para aprofundar a morte. Quem venha a ver o clássico “Kaos”, dos irmãos Paolo e Vittorio Taviani, o terá em nível de utopia inalcançável diante da mediocridade tamanha que norteia uma parcela considerável da classe política brasileira. Justamente por descobrir que enquanto o artista retrata e constrói a vida universal o político local comanda o Armagedon nacional.

Não se vê o menor compromisso com o país e sua gente. Apenas a ganância desmedida e infinita em sua dimensão multiplicadora – não aritmética, mas geométrica – para ampliar a cornucópia extraindo sangue do erário.

Deste caos brasileiro temos a certeza de que se sucesso obtiver levará a frangalhos o país. Já o disse a própria Financial Times ao afirmar que essa insensatez derrotará o país junto à comunidade internacional como capaz de solidificar as instituições democráticas.

Sem nenhuma dúvida vivemos a farsa como existência real. Uma farsa que nos conduzirá à tragédia... também real.

Dele (o caos) só está restando a visualização de que os ladrões e os escroques não são mais privilégio desta ou daquela casta. Membros de todos os Poderes da República encimam-se, de alguma forma ou meio, no altar construído por eles e para eles há séculos. 

Em nível particular do PSDB, nem mesmo se ressente do cinismo que norteia algumas de suas lideranças a ponto de depender – para suas escusas propostas e interesses de figura escroque e achacadora (como o definiu ao vivo, em cores e nas fuças o então ministro Cid Gomes) do ainda presidente da Câmara dos Deputados.

Os grandes homens desta terra brasilis – em todas as vertentes do conhecimento – são pálida lembrança no imaginário pátrio. Poucos, pouquíssimos, podem ser honrados pelo reconhecimento.

Há a esperança, no entanto, de que deste caos surja a luz de que tanto carecemos. Afinal, os que se vêem apodrecidos em suas reputações – para não perderem o status conquistado no curso dos anos – estão jogando sua Watterloo. Como Napoleão Bonaparte diante de Wellington. 

Resta-lhes um estreito espaço de tempo para a aposta decisiva entre a articulação e a consumação de um golpe para escaparem à desmoralização absoluta.

Aí a nossa esperança que nos se afigura no horizonte. De que caiam os que devem cair, não o país.

Para que possamos retornar a um tempo lembrado por Leon Tolstói, em “Os Dezembristas”, homenageando na pessoa do Príncipe Piotre Ivanovitch o retorno dos revolucionários sobreviventes de 1825: “...na época em que os grandes homens brotavam como cogumelos por todos os lados, em todos os ramos da atividade humana”.


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