domingo, 1 de julho de 2018

Miçangas e miçangueiros

Miçangas
Vivemos nesta terra de São Saruê um estágio histórico singular: o que denominamos de estágio das miçangas. A condução do país, a prestação jurisdicional de muitos juízos e tribunais (inclusive ditos superiores), a realidade econômica quando se tem o povo como destinatário tudo se tornou miçanga, coisa menor, de valor apequenado, apenas para enfeite. 

Difere tal estágio, no entanto, da miçanga autêntica – contas de vidro coloridas ou o enfeite com elas, elaboradas artisticamente – porque desta apenas se apropriam para benefício para uso em dimensão depreciativa de quinquilharia e bugiganga.

E lá vamos nós, nesta terra de miçangueiros. Como adiante veremos, em algumas particularidades e detalhes.

Miçangueiros
Matéria publicada no ultraconservador Estadão (aqui veiculada através do Brasil247):

“Previsto para ser o guardião da Constituição Federal e o cume hierárquico do Poder Judiciário, o Supremo Tribunal Federal (STF) deixou de ser uma casa onde se pratica o Direito, para se transformar numa casa de jogos, onde o que importa é ganhar e não interpretar e aplicar corretamente as leis. Sem o mínimo pudor, juízes da Suprema Corte operam os mais variados estratagemas para conseguir que as causas sob sua competência tenham o resultado que almejam.”

Sobre o “Fuzuê” – título da matéria – não se debruça o jornal, porque se limita a cuidar de revelar e criticar a postura. Caso aprofundasse sua análise levaria ao leitor o fato singular (e profundamente estranho à Corte) de que “o resultado que almejam” (este ou aquele ministro) está voltado para asseguramento de uma ação política, quando não flagrantemente eleitoral, especialmente quando sob avaliação o caso Lula (contrária) ou agentes políticos do PSDB (favorável).

E atente o leitor que o Estadão deixou de analisar a decisão Moro x Dirceu, onde aquele confronta decisão do STF e avoca para sua Vara de 1ª entrância aquilo que o Supremo não determinou.

A que chegamos! Até jornal como o citado Estado de São Paulo, da família Mesquita, se vê incomodado com o banzé em que se tornou a prestação jurisdicional brasileira em muitas de suas instâncias.
Haja fuzuê!

Cláudio Lembo e o erro de Lula 
Mais uma tentativa da defesa de Lula – que busca o reconhecimento do direito – sucumbe à forma, ao adjetivo escolhido pelo julgador. 

Como diz CláudioLembo: “Nunca vi nada tão imoral”. “Lula salvou o Brasil em um determinado momento e a inveja da minoria branca é imensa. Ele vai ficar preso. Não há como tirá-lo de Curitiba”, afirmou. 

O risco para a turma, caro leitor, reside no fato de que, caso volte ao poder, fará o pré-sal retornar ao país para beneficiar brasileiros e não petroleiras internacionais. E para isso tudo é e será feito para que se mantenha a entrega do país.

Corroborando a realidade, vergonhosa para Lembo, o jornalista e escritor Ribamar Fonseca toca na ferida: o grande erro de Lula foi acreditar na seriedade da justiça brasileira.

“Enquanto isso o ministro Gilmar Mendes, que também negou liminar para a revisão da prisão em segunda instância, mandou arquivar o inquérito contra o senador Aécio Neves, sobre a acusação de receber propinas em Furnas. O argumento que ele apresentou é o de que a Policia Federal não encontrou provas contra ele. Então, pergunta-se: e contra Lula, encontraram alguma prova? Onde estão, que ninguém nunca viu? Se não há provas, por que ele está preso? A resposta é simples: porque ele não é tucano. Aécio, tucano, foi flagrado pedindo R$ 2 milhões de propina ao empresário Wesley Batista e está solto. Rocha Loures foi flagrado carregando uma mala com R$ 500 mil e está solto. Paulo Preto foi flagrado com mais de R$ 100 milhões em bancos suíços e está solto. Até quando o Supremo Tribunal Federal vai sustentar essa farsa do processo e prisão de Lula? Provavelmente até as eleições de outubro, quando ele não poderá mais concorrer, porque então terá sido alcançado o objetivo perseguido desde a instalação da Lava-Jato: impedi-lo de voltar ao Palácio do Planalto.

“Conclui-se hoje, depois de todas essas manobras no Supremo para manter Lula preso, que ele realmente cometeu um grande erro ao acreditar na seriedade da justiça brasileira, entregando-se à Policia Federal. Como é inocente, ele estava convencido de que a justiça lhe faria justiça, anulando a farsa montada pelo juiz Moro. Enganou-se. Ele deveria mesmo ter adotado o caminho sugerido por seus amigos: asilar-se numa embaixada para voltar no momento oportuno. Ninguém mais tem dúvidas agora que se depender das instituições, particularmente da justiça, o ex-presidente não sairá tão cedo do cárcere mesmo sem ter cometido crime. A ditadura da toga, com Carmen Lucia, Edson Fachin, Moro e outros, fará todas as manobras imagináveis, por mais imorais que sejam, para impedi-lo de deixar a prisão, pelo menos enquanto houver possibilidade dele voltar à Presidência da República. Ao contrário, portanto, do que disse recentemente o ministro Gilmar Mendes, o Supremo não voltou a ser Supremo e nem voltará tão cedo, pelo menos enquanto tiver em seus quadros ministros que o apequenem. Na verdade, Supremo mesmo só Moro.”

Como só dói quando rio, melhor ficar com a última piada do STF, na leitura de Duke.

Futebol x bacia das almas

Enquanto o olhar do brasileiro é encaminhado para a Rússia a Câmara dos Deputados cuida de aprofundar a entrega da riqueza do pré-sal a preço de ocasião (a deles).

É esse tipo de gente que buscará se reeleger. Com o voto do brasileiro por ele espoliado. Que o reelegerá – como sina.

Para essa estirpe é o futebol que faz parte da ‘riqueza nacional’ e não o pré-sal, tanto que entregam os TRILHÕES DE DÓLARES que minimizariam a miséria de milhões.

Por enquanto – até que aquela parcela canalha do Congresso venha legitimar o assalto – qualquer privatização terá de passar pelo crivo das cortes legislativas, decidiu, em liminar, o ministro Lewandovski, do STF.

Aguardemos a provocação ao STF da bandalheira ensaiada pela Câmara Federal, caso o Senado a mantenha.

                      

Um comentário:

  1. O texto mais lúcido, agudo e, sem muito esforço, culto da crônica política baiana.

    ResponderExcluir