domingo, 14 de outubro de 2018

Cuidando de entender e aplicar as facetas várias da Ciência Política a esta terra brasilis

Fome Zero
Tornou-se programa global da ONU no último dia 16 a experiência de política pública posta em prática na fórmula preconizada por Lula para combater a fome e a desnutrição, cumprindo o prometido no discurso de posse para o primeiro mandato, quando afirmou que esperava que ao final de seu mandato todos os brasileiros estivessem comendo três refeições por dia.

Para a ONU um projeto para reduzir a fome e a esperança de trazê-la a níveis toleráveis até 2030.

Aquilo que, por vontade política, os governos petistas fizeram em oito anos.

Despenhadeiro abaixo
O Brasil durante o período de governos petistas ocupou espaço entre grandes na discussão global, compreendendo e expondo o seu papel na geopolítica. Se fez líder em alguns casos – como a defesa de políticas Sul-Sul e na defesa da unidade latinoamericana. Tornou-se protagonista nas grandes discussões em defesa da Paz e da Autodeterminação dos Povos. Simplesmente passou a ser admirado como nunca o fora antes.

O mundo admirava o Brasil e procurava espelhar-se nele.

Hoje esse mesmo mundo está assustado – para não dizer apavorado – com o que pode suceder a partir da eleição de alguém que para a comunidade internacional não passa de figura inexpressiva e abjeta.

Os passos recentes demonstraram o despenhadeiro a que chegamos. E sinaliza permanecer.

Cuidando de entender
Ao cidadão que assina o blog não tem como analisar o candidato Bolsonaro além do que ele sempre foi e oferta como biografia: um militar medíocre, reacionário, nulidade política no plano de compreender a função da Política. Como militar não pode ser compreendido como sinônimo do que pensa o quartel. Insuscetível de alcançar o patamar que ora ocupa não fora a destruição do conceito de classe política, adrede e criminosamente elaborada por uma parcela considerável da mídia e, atualmente, da postura político-partidário-eleitoral do Poder Judiciário, levando de quebrada os vocacionados a deus pelo fato de haverem passado em concursos públicos. 

Tudo isso regado pelo fanatismo neo pentecostal que norteia de católicos a protestantes evangélicos.

No processo de criminalização da classe política, quem para isso muito contribuiu – o PSDB significativamente – esqueceu-se de que residia em casa de vidro e não só o telhado ruiria, mas toda a moradia construída durante décadas.

E quem se imaginou beneficiário do que propagou tornou-se vítima e, por consequência, abriu espaço a quem vinha na esteira de um discurso fascista que se tornou única tábua de salvação no imediato.

Mas, como analista, não temos como afastar da discussão algumas muitas das razões por que essa triste figura (nada a ver com o personagem de Cervantes) tende a tornar-se o Chefe da Nação.

Essa circunstância – a chefia da nação – não decorre pura e simples da campanha midiática contrária à classe política. Fora diferente tantos crápulas não estariam reeleitos e uma leva de outros tantos recém eleitos para o Congresso Nacional e Assembleias Legislativas.

Sob esse particular aspecto – da eleição de crápulas – temos um singular exemplo da contradição manifesta: Roberto Requião não foi reeleito para o Senado, pelo Paraná, mas eleito o foi Flávio Arns, figura carimbada em denúncias de fraude em meio ao sistema das APAEs, desse os tempos em que ocupava o Senado como senador pelo PT, do qual saiu para filiar-se ao PSDB (partido que o acolhia, antes de ir para o PT, coisa assim tipo Delcídio do Amaral) e atualmente transita pelo REDE.

Não há como afastar da análise um fato concreto: o alijamento de Lula da disputa – mítica liderança dos despossuídos – permitiu a luta dos pequenos contra si mesmos, da confusa ideia de que o outro é o bandido e eu o salvador. Presente isso não faltaria – como não faltou – quem, sem discurso e sem qualquer possibilidade de argumentar, se tornasse típico profeta a sublimar o que cada um alijado pretende quando desamparado.

Vemos, sob análise fria, o quanto se deixa iludir a massa não só pelas promessas deste ou daquele candidato. A maior das ilusões, no entanto, não reside na dimensão material – ambicionada – mas no recôndito do inconsciente. Afinal, não temos como fugir de um fato concreto, posto ao largo com uma indagação: o que leva o menos favorecido, beneficiado com políticas públicas postas em prática pelos governos petistas a não votar no candidato do PT? E, o mais singular ainda, por que muitos que sempre votaram antes no PT declaram voto em Bolsonaro?

A massificação da campanha ‘PT ladrão’ não responde à pergunta, caso contrário esse mesmo povo não estaria votando em tantos ora eleitos.
Muito menos votaria em quem nenhum compromisso assume para com os menos favorecidos e foge – como o Diabo da cruz – de discutir os problemas da nação e de seu povo, tampouco apresenta uma mísera contribuição pessoal às mudanças que anuncia.

Dispensados sejam psiquiatras, psicanalistas, psicólogos, sociólogos e quejandos tais. O que de verdade há é que somos um país de milhões de Bolsonaros, sem a oportunidade que encontrou o capitão que não teve condição de chegar ao generalato, Deus sabe por quê. 

A primitividade latente no hipocampo, que aguardava as reações oriundas do hipotálamo (social), se desperta acionada por tal singular droga e aflora em plenitude de descontrole emocional.

Imaginemos, apenas, para ilustrar tão promissor futuro para o país de todos nós, esse Chefe da Nação recebido na ONU para a abertura anual dos trabalhos daquela instância internacional.

Cruz credo! Vade retro, mangalô trêis vêis – dirá o caboclo nas pirambeiras.

Caso não se deixe encantar por aquilo que a Globo exibe como verdade. Ele em meio a ela(s).

Por cá continuamos cuidando de entender.

A ciência explica
De João Ubaldo Ribeiro, em lições de Ciência Política (disciplina da qual foi professor na Universidade Federal da Bahia) no livro Política (Editora Nova Fronteira, 1981), o que muito se aplica à atualidade:

“A Política... Não é uma coisa distinta de nós – é a condução de nossa própria existência coletiva, com reflexos imediatos sobre nossa existência individual, nossa prosperidade ou pobreza, nossa educação ou falta de educação, nossa felicidade ou infelicidade. [...] se achamos que a Política está entregue a gente ruim, um pouco da culpa disso, ou grande parte dela, cabe a nós ‘pessoas boas’, que não nos queremos envolver [...]”.

Por agirmos ao contrário da racionalidade – ou quando o fazemos – nada mais fazemos que por a chocar o ovo da serpente. Que surgirá como antagonismo à classe politica e, naturalmente, à Democracia.

A vitória ainda não ocorreu. Mas já aconteceu: a serpente quebrou a casca do ovo, já nasceu!

O que víramos na tela, na denúncia/visão de Ingmar Bergman está aí, ao vivo.

O que não se explica

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