domingo, 28 de outubro de 2018

Em meio às singularidades


Revolução dos Cravos
Quando concluímos a coluna (às 19:00h) ainda não havia publicação de qualquer resultado nas apurações. 

Mas, uma coisa nos ficou evidente nestes últimos dias: a militância petista e a reação e o despertar da sociedade diante do discurso autoritário impulsionaram um movimento de virada em favor de Fernando Haddad.

Qualquer que seja o resultado, ainda que a derrota petista venha a se consumar, isso ficou evidente.

Lembrou a este articulista aquele verso “Foi bonito, pá”, de Tanto Mar, de Chico Buarque, cantando a Revolução dos Cravos, saudoso em seu tempo, como fora Fernando Pessoa no poema inspirador (Navegar É Preciso), buscado em Pompeu (106-48 a.C.).

Covarde, porque sou...
Dados concretos demonstram a evidência de manipulação no processo eleitoral, que significativamente interferiu nos resultados para presidente no primeiro turno, fato alheio em nível de apuração por este omisso e acovardado Poder Judiciário (TSE e STF).

A matéria de Mauro Lopes e Pablo Nacer, no 247 o diz claramente, basta que se veja a queda nos índices analisados (quesito busca) depois da denúncia de Patrícia Campos Melo na Folha de São Paulo, de intervenção econômica indevida e ilegal de parcela de empresários em favor de Bolsonaro, veiculando mentiras (fake News) na rede referentes a Fernando Haddad.

Para o quanto delimitado em lei tudo viola o processo eleitoral, porque através de meios ilegais (doações vedadas em lei) o eleitor foi induzido a erro de avaliação a partir de mentiras veiculadas. Em torno disso – e da gravidade nele contida – o Poder judiciário NUNCA poderia se omitir.

Especialmente tão zeloso quando no centro de suas decisões está Lula/PT etc.

Ao leitor a análise dos dados. E a ele transferimos também a compreensão do quanto custará ao país a postura acovardada, omissa e irresponsável do Poder Judiciário.


Há quem acredite... 
Em Papai Noel, mula sem cabeça, boitatá, super homem etc. Inclusive quem acredita no que diga Rosa Weber, ministra do STF, ora presidindo o TSE. No caso concreto Alex Solnik, que andou gastando tinta para interpretar a afirmação de Sua Excelência, em coletiva, de que “Todos os brasileiros são inocentes até o trânsito em julgado do processo”. 

Para o ilustrado intérprete teria a Ministra afirmado nas entrelinhas “Lula é inocente, está preso injustamente e deveria estar em liberdade até o trânsito em julgado do processo do tríplex.”

O experiente jornalista esqueceu de registrar que tal afirmativa já fez a mesma Rosa Weber, inclusive dizendo que mudara seu posicionamento adotado em 2016 (dela também a responsabilidade por votar pelo absurdo).

Mas, caro Solnik, não foi essa a posição adotada no caso do habeas corpus, quando – mesmo declarando ser contrária (atualmente, sabe Deus até quando!) à prisão em 2º grau, julgou contrariamente para “acompanhar” a votação dos que a antecederam.

Confiar no que diz tal figura é acreditar em Papai Noel, boitatá, etc. etc. etc.

Mesmo porque pode fazer como no julgamento de José Dirceu, quando trouxe ao mundo jurídico essa pérola: não tenho prova contra Dirceu mas a literatura jurídica me autoriza a condená-lo.

Lindo de morrer! De rir!

Causa e efeito
Bem poderia explicar o ministro Roberto Barroso, do STF, o que quis dizer com “os países, como as pessoas, passam pelo que tem que passar, para amadurecerem e evoluírem”, como observou Tereza Cruvinel. Justamente porque aplicou aos “países” princípio inerente à espiritualidade, pois a lei cármica, da causa e efeito, está afeta às individualidades que, pela reencarnação, tendem ao aprimoramento.

Muito em especial pelo fato de Sua Excelência, a quem compete – em nível da lei dos homens à qual está submetido – aplicar fundamentos que regulam institucionalmente o Estado Democrático de Direito que nunca foi elaborado sob a égide de centros espirituais, até porque em tais lugares não se faz o que, por exemplo, Sua Excelência o faz, como negar vigência à lei a que está vinculado a cumprir por desígnio funcional e não espiritual.

Ou estaria Sua Excelência, utilizando-se da lei de causa e efeito para realizar o messianismo que ora se anuncia para o país, pátria do Evangelho?

E acrescentamos: Sua Excelência, com a espatafúrdia declaração, lança as bases do singular 'pentecostalismo kardecista'.

Considerações
Quando publicamos este dominical não dispúnhamos dos resultados das eleições, em segundo turno. O alimento informativo ainda o que ocorria: vitória de Bolsonaro.

Em torno disso refletimos.

Considerando uma série de denúncias de manipulações as mais várias, que teriam comprometido o resultado de forma direta já no primeiro turno, a vitória de Bolsonaro efetivamente é “sua” vitória?... 

Não, afirmamos.

É a vitória de um projeto onde o candidato entra no Credo como Pilatos: por conveniência e falta de opção.

Judiciário, mídia (capitaneada pela Globo) e dinheiro empresarial (ilicitamente) asseguraram a eleição de Bolsonaro.

O mais vergonhoso não é a mídia e o empresariado em defesa de seus interesses e dos grupos que os sustentam. A vergonha, em plenitude, está no Judiciário.

Acovardado. Preferimos tachá-lo de acovardado, não só porque as atitudes recentes o demonstram à saciedade. 

Mas, repetimos, preferimos tachá-lo de acovardado para não afirmá-lo conivente com os absurdos perpetrados em defesa de uma ordem econômica incompatível com os interesses pátrios.

Preferimos tachá-lo de acovardado para não afirmá-lo agente de interesses escusos comandados de além mar.

Sem comparação
Há quem queira comparar os dois instantes, considerando o retrocesso: o golpe civil/militar de 1964 e aquele consumado em 2016 que se perpetua em desígnios neste 2018.

Tomando o Poder Judiciário, na representação institucional do Supremo Tribunal Federal, como paradigma, podemos ver, de imediato, quão diferentes os instantes. Em 1964, ultrapassado o golpe, quedou-se acovardado o STF. Em 2018, o acovardado STF participou efetivamente do processo. Seja-o por omissão em temas capitais, seja-o por comissão/atuação objetiva e consciente no próprio processo eleitoral.

Tudo o que ora acontece, desde 2016, acontece porque o apoiou o STF.

No primeiro instante (1964) a força das baionetas; no segundo, o da caneta do Judiciário.

Singularidades
Nestes dias turbulentos, quando as ideias perderam espaço para as ações, convivemos com situações inimagináveis: Joaquim Barbosa (carrasco do PT) declarando voto no petista e Ciro Gomes ficando em cima do muro.

Coisas da política, dirá o homem comum. E acrescentamos nós: deste singular Brasil. Onde um, cuja postura como julgador, foi a negação ao Direito e outro, que se converte em afirmação ao que negou.



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