domingo, 21 de outubro de 2018

De surpresas várias ao que nos aguarda


Ninguém esperava por isso
Às vésperas do segundo turno muito do que nunca imaginamos aconteceu: o PT renunciar ao vermelho como cor do partido na campanha e o seu candidato elogiar o juiz Sérgio Moro, o carrasco maior do partido.

Ou não se faz PT como antigamente ou fica comprovada a falta de percepção de muitos de seus expoentes diante da fatalidade.

Para muitos, desolação. Lula confiou no técnico Fernando Haddad. Não conhecia o político Haddad, que em vez de defender bandeiras parece demonstrar que tão somente pensa no poder.

A ponto de tornar-se patético e ridículo declarando o que deu de declarar.

Conspiração
Costumam dizer – os que se beneficiam do quanto denunciado – que se trata de ‘teoria da conspiração’. Ou seja, invenção de quem vê pelo em casca de ovo ou chifre na cabeça de burro.

A análise de André Barrocal na Carta Capital, aqui veiculada a partir do Conversa Afiada, ilustra em torno da possibilidade concreta do pelo em ovo e do chifre na cabeça do burro.

A depender do Judiciário... melhor reclamar com o Papa
Juristas reclamam ao TSE diante das fraudes eleitorais cometidas. 

O pessimismo deste escriba os vê naquela situação dos cavaleiros de Granada, de Miguel de Cervantes, que ‘saíam em louca disparada pela madrugada: para quê? Para nada!’

Afinal, o que alimenta o pessimismo deste escriba: não é o próprio Judiciário (de STF e TSE) a legitimar tudo que aí está?

Reclamar só a um: ao Papa.

Pergunta inocente
A pauta de julgamentos do STF passa pelo controle do seu presidente. No caso presente, Tóffoli. Ou seja, se Tóffoli não quiser não pauta o processo para julgamento.

Na pendência de pauta um tema aflitivo: a prisão após decisão em segunda instância. Posição inconstitucional admitida pelo STF em 2016 que pode ser revista e beneficiar todos aqueles que se encontram presos em razão deste absurdo jurídico à luz da Constituição brasileira. Dentre eles, Lula.

Tóffoli hoje é assessorado por um general, do qual desconhecemos a razão por que da escolha(?); Talvez por saber jurídico que a plebe ignara – nós em meio a ela – desconhece.

Estando em jogo a possibilidade de libertar Lula antes que o façam os tribunais superiores, o que poderia depender de Tóffoli ainda depende dele?

Uma pergunta inocente para uma conclusão em desdobramento: Lula está ferrado.

Detalhe: o Ministro Dias Tófolli, como outros muitos, foi indicação de Lula/PT.

O que nos aguarda I
As eleições presidenciais deste 2018 negaram ao povo/eleitor a mais elementar de suas finalidades: o conteúdo da proposta do pacto eleitoral. 

Esse conteúdo se manifesta através do debate das propostas de cada candidatura, levadas à escolha. Estas, as propostas, por sua vez, expressam as políticas de Estado na dimensão de políticas de governo que o futuro eleito pretende implantar. Ou seja, sem o debate qualquer candidato eleito cuida de administrar sem a necessidade de corresponder ao prometido através de suas propostas. Assim, administrará como se portador de um cheque em branco eleitoral, como se o eleitor houvesse dito ‘faça o que melhor entender’ que nada tenho a exigir ou cobrar de você.

Lembremo-nos de que a reeleita Dilma Rousseff de logo foi alcançada pela denúncia de que cometera fraude eleitoral porque não correspondia seu novo governar ao prometido durante a campanha.

No que diz respeito a esse cheque em branco, nuvens plúmbeas, caminhando para negras, se nos são exibidas no horizonte próximo.

O pacto eleitoral integra o pacto político que legitima a administração. Passa – no presidencialismo nosso – pela composição entre Poder Legislativo e Poder Executivo, porque através daquele este efetiva as políticas que integraram suas propostas debatidas.

O que nos aguarda II
Ausente qualquer compromisso formal para a efetivação do pacto político e sentindo-se o Presidente sem obrigação de corresponder ao pactuado, porque não existiu, tenderá a conduzir a gestão política tão somente amparado na legitimação dos votos recebidos.

Ocorre que – aí reside o busílis – quem o elegeu espera uma resposta para corresponder às suas necessidades, que passam não só por segurança (tão alardeada) mas por alimento, emprego, educação, saúde etc. etc.

As lições últimas demonstraram que a insatisfação contra o governo não mais só espera outra eleição, a próxima decisão, o próximo pacto: a reação tem sido (manipulada ou não) expressa através dos movimentos sociais organizados e expressões várias de descontentamento através de passeatas etc.

A reação ao governo, eleito sem debater o pacto político-eleitoral, pode, então, trilhar por reprimir, pura e simplesmente, todo e qualquer movimento crítico, sustentado na legitimidade obtida nas urnas e naquele cheque em branco, uma vez que tenderá a acreditar que sua presença à frente do Poder Executivo o foi sob a égide da confiança e que cabe ao povo esperar para que tudo se materialize e tudo fará para tal proceder. 

Razão por que não pode sofrer interferência de quem quer que seja. Especialmente se este “quem quer que seja” se expressa em tradicionais movimentos sociais, atuando há décadas.

A arma para enfrentá-los – já sinalizada, inclusive em falas de campanha – passa por criminalizar ditos movimentos, que passariam a ser tachados como desordeiros e contrários aos destinos da pátria, da família, de Deus e quejandos tais, como analisa Antônio Salvador no GGN.

Antes, comunistas; hoje, terroristas.

O que nos aguarda III
Materializada dita criminalização todos seremos terroristas em potencial, assim consideramos o alerta de Rodrigo Lentz, também no GGN. Porque falar, criticar, escrever passam a ser definidas como atividades inconvenientes aos destinos do país e quem as praticar seus naturais inimigos.

Tudo com apoio da população manipulada.

Esperar o quê diante do que nos aguarda?

Estamos a caminho da irrecuperabilidade civilizatória. A ponto de “1/3 de entrevistados defenderem prisão de suspeitos sem prévia autorização judicial” e 16% admitirem a tortura como método investigatório, como analisa Wilson Ramos Filho, no GGN, diante de pesquisa Datafolha. 

E mais:

“- metade da população acredita ser possível uma ditadura militar no Brasil;
- 24% acham que o governo tem o direito de proibir greves;
- 41% acham que o governo pode intervir nos sindicatos;
- 33% consideram que o governo deve ter o direito de proibir o funcionamento de alguns partidos políticos.”

O problema – percebe-se – não está em Bolsonaro, mas no povo. Manipulado ou não é fato concreto, faticamente existe.

E o fascismo a caminho de tornar-se Política de Estado.

E não imaginemos residir tão somente no povo a expressão dantesca do escrito acima. Todos os que, em suas funções, legitimam tais absurdos integram e contribuem para a realidade cruel. O que inclui Procuradores da República, juízes, desembargadores, Ministros do STF. 

Todos aqueles que, de uma forma ou de outra, já expressaram em pedidos e decisões o inominável.

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