domingo, 18 de novembro de 2018

Entre poesia, novela e ironia


                        Ama com fé e orgulho a terra em que nasceste 
                          Criança! não verás país nenhum como este...”.

Não custa começar esta coluna com versos de Olavo Bilac (acima), extraídos de A Pátria. Que seja ironia, caro leitor. 

Mas, vamos adiante.

E voltando no tempo duas, três décadas, nos sentimos na Rua Mata-Cavalos, relendo os originais de “O Alienista” com o Bruxo do Cosme Velho, que será publicado em 1882. 

Não para análise sob o prisma literário, se conto ou novela  arte mais precisa sob a pena de Hélio Pólvora  mas para dimensionar os distintos tempos de atualidade brasileira. 

Na política ou na literatura esta terra brasilis é chegada a se repetir, ou – quem sabe? – de subir no palco com aquela de a vida imitar a arte.

E acometido dessa veia literária é que aproveitamos os versos de Bilac. E na esteira das letras, Machado de Assis.

Que Machado de Assis não se sinta ferido por ver reproduzido, no plano da ironia, a saga do muito seu Simão Bacamarte e seus sonhos de consumo. 

Tampouco Bilac, o civista. 

Cada um em sua época, cada fato uma razão.

Tudo que ora vivemos está por ser feito em multiplicações ao cubo.

Afinal, para fugirmos à ironia, não estamos como dizem alguns, à beira do precipício, mas – como não há ‘país nenhum como este” – literatura à parte, instalando um grande hospício.

Interpretação como sanção
De publicação do assistente social Marcelo Garcia em seu Facebook, sobre o depoimento de Lula.

Registre-se que Marcelo Garcia já assessorou de Antônio Anastasia (PSDB) a de César Maia (DEM).

"Em nenhum momento foi apresentado uma única prova de que o Sítio de Atibaia era dele. Muito ao contrário as provas mostravam que não era dele.
Eu repito: Assisti Atentamente.
Não foi apresentado uma única prova. Nenhuma prova que o sítio fosse dele.
Ele frequentava o Sítio como eu já frequentei casa de vários amigos.
A Justiça ontem mostrou pra mim que esse país mata com a lei na mão e que a lei é uma interpretação.
No caso de Lula uma interpretação de pena de morte.
Lula vai morrer na cadeia.
E o que mais me assusta é que é justamente isso que a minoria que comanda a desigualdade no Brasil quer."
Big stick
A diplomacia do presidente eleito, com a singular amenidade do porrete, acaba de levar o país a perder uma de suas melhores conquistas no combate a doenças e na oferta de cuidados médicos aos mais necessitados. As ameaças proferidas aos cubanos do Mais Médicos encontraram plena e altiva resposta do governo cubano que, simplesmente, rompeu o acordo existente. 

São mais de 8 mil médicos a deixar o país, atuando – em alguns casos – onde nenhum brasileiro se dispõe a atuar.

Perdem os brasileiros. Trump aplaudiu. Faz parte.

Um país que precisa de muito mais médicos além dos existentes afastar/expulsar parte deles por falta de afinidade ideológica mostra a que chegamos.

Por tal caminhar, o Brasil, ao que parece, precisa urgentemente de um outro programa Mais Médicos: médicos psiquiatras para o grande hospício em que se torna esta terra brasilis.

Preciosa análise I
“Nós estávamos completamente anestesiados com um tipo de esquerda que se consagrou com a abertura [pós ditadura], dos anos 1990 em diante, que é uma esquerda que pensa em governo e não se imagina fora dele, uma esquerda para governar. Essa é a grande novidade do petismo e, portanto, gestionária.”

São palavras do filósofo Paulo Arantes, no Brasil de Fato.

De nossa parte sempre raciocinamos que a esquerda embeveceu-se com o poder.

Nele encastelado imaginou que as políticas públicas por ela postas em prática seriam o instrumento de convencimento e aliança para a perpetuação do poder, que a classe dominante se curvaria às evidências. 

Acreditando nisso dispensou a batalha da comunicação. E aquele beneficiado por ditas políticas mais acreditou na propaganda adversa e lançou fora a esquerda.

Preciosa análise II
O ex-ministro José Dirceu (no Brasil 247) exibe razões por que permanece lúcido. 

Sua análise é precisa: Bolsonaro ocupou os espaços em meio ao povo abandonado pelo PT.

As lições foram levadas. Cabe saber se aprendidas.

Caso contrário não custa aproveitar as reformas anunciadas (inclusive na Educação) para retomar a prática da palmatória e do ajoelhar sobre milho/feijão para não esquecer a lição.

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