domingo, 4 de novembro de 2018

Tempos de estio são tempos de murici


Deixando de lado o Eclesiastes
Há tempo de plantar, há tempo de regar, há tempo de colher. Acrescemos: há tempo de ler e há tempo de escrever.

Aos que escrevem uma verdade: carecendo de leitores/consumidores para seus escritos cabe à realidade ditar o gênero em cada época.

Assim se nos afigura a caminho um novo gênero literário: o de manuais.

No qual proliferarão os manuais de sobrevivência.

Porque em tempos de estio cada estiagem pede um estilo de escrita. E do Eclesiastes se aproveita a temporada que se aproxima, porque em tempo de murici cada um cuide de si.

Este escriba já tem preparado o seu manualzinho de sobrevivência.

Em tempos de pensar pequeno
Atribuída a Lula a expressão de que o convite de Bolsonaro a Moro confirma a trama que o levou à prisão e, consequentemente, à sua inelegibilidade.

Ainda que flagrante a realidade expressa há engano de compreensão do ex-presidente em duas vertentes:

1. Imaginar que Moro tramou para Bolsonaro, quando Bolsonaro entrou na trama, como beneficiário, assim como Pilatos no Credo, já que o projeto visava o PSDB, de quem Moro já foi filiado, assim como familiares.

2. Por outro lado, imaginar Sérgio Moro capaz de planejar tudo isso, quando apenas executou ordens, é maximizar uma inteligência que não existe.

Ou pensar pequeno.

Moro, a um passo do STF
O primeiro passo foi dado: convite do presidente eleito para Sérgio Moro assumir o Ministério da Justiça. Daí para Ministro do Supremo Tribunal Federal é só aguardar a vaga.

Caso o magistrado não aceitasse o convite o presidente lhe ficaria devendo o outro convite: para ministro do STF.

Como o STF tem se tornado mais uma casa de políticos que de juízes Moro se torna o par perfeito.

Afinal, respeito às leis e à Constituição Federal e notório saber jurídico passaram a ser complemento.

Melhor ser amigo do rei.

Assim, de Dias Tóffoli a Moro, passando por Alexandre de Moraes, nada a comentar.

Óbvio ululante
Há quem se espante com o affair Bolsonaro x Moro x Ministério da Justiça e dele extraia ilações várias.

Caso alguém nunca tenha percebido que toda a atuação de Moro (como cabeça de ponte, secundado por TRF-4, STF e TSE) em relação a Lula se efetivava em nível de uma pauta político-partidário-eleitoral cabe aplaudir pela inocência.

Nelson Rodrigues melhor resumiria: o óbvio ululante.

A lógica I
Teremos a inteira falta de lógica para a lógica. O que explica a lógica do sistema, caracterizada por reunir cacos para mantê-lo. Naquela de Lampedusa: mudar para deixar com está.

Esta a que sustentou todo o processo de redemocratização (?) que já nasceu se arrumando com a ditadura finda.

No varejo, muda-se a linha de políticas públicas de governo, apenas, para fazer valer a visão de Política de Estado deste ou daquele governante. Visível com Collor, FHC e Lula/PT. 

O que as difere é a efetividade em relação aos destinatários dessas políticas: para os primeiros, o mercado; para os segundos, os mais carentes.

Um apelo, ampliado em milhões de decibéis, pôs a caserna no poder em 2018, porque fizeram massificar o povo para entender que somente um governo forte – alguns defenderam, e ainda defendem, até mesma uma ditadura – poderá conter mazelas históricas como violência, corrupção etc.

A lógica II
Na esteira dos acontecimentos e interpretações da realidade presente a declaração do Ministro Luiz Fux, do STF – de que a escolha de Moro para Ministro da Justiça seria a escolha da própria sociedade brasileira “se fosse consultada” – encontrou resistências.

Resistir ou repudiar o que venha de Fux tornou-se natural, e dúvida não pode haver diante do que hoje representa Sua Excelência no plano da indignidade.

Mas sua afirmação de que a sociedade escolheria Moro somente erra ao ofertar caráter generalizado, de unanimidade, onde não ocorre.

Afinal, a mesma (in)consciência que escolheu Bolsonaro escolheria Moro.

Telhado de vidro
A Folha de São Paulo acaba de ser declarada inimiga nº 1 do presidente eleito. O autodeclarado defensor da ditadura e da tortura estraga a declaração pública de inimizade, mais remetendo-a às calendas da ingratidão. 

Afinal, foi a Folha de São Paulo tão íntima da ditadura (para ela “ditabranda”) que até mesmo seus veículos emprestava para conduzir os sequestrados que iam para o calabouço.

Bolsonaro x Folha: a coisa fica assim mais para incompatibilidade de gênio, uma vez que são – no plano das ideias e das ações, cada um em sua vertente – flor de uma mesma cepa.

Primeiros sinais
Nada de novo no front. A palavra front lembra guerra, batalha. Os tempos presentes tornaram-se guerra de permanentes batalhas.

Mal eleito, Jair Bolsonaro aliviou o discurso, o que nada representa para este escriba. Também o faz Rosa Weber, do STF, e permanece a mesma quando chamada à responsabilidade.

Ninguém imagine que Bolsonaro não sabe o que quer. Sabe-o muito bem. Pode não ser o seu gosto afinado com os interesses pátrios, mas não foi para a defesa destes que recebeu os apoios que recebeu.

Os sinais estão aí. Preocupantes para muitos.

Mas, para quem escreve estas mal traçadas, um sinal singular a demonstrar o que Bolsonaro quer ficou constatado em razão do primeiro órgão de TV a quem concedeu entrevista.

Analisando os últimos presidentes eleitos, a partir de Lula: este, de imediato foi ao Bom Dia Brasil, em vez de convocar uma coletiva. Dilma Roussef quedou-se em fritar ovo no programa de Ana Maria Braga. Bolsonaro, no entanto, concedeu entrevista à Rede Record.

Tem mais alguém preocupado.

E não somos nós.

Antitudo
Há quem afirme ser a parte da análise o todo. Ou seja, o antipetismo seria a razão da eleição de Bolsonaro.

Mano Brown foi vaiado quando criticou a postura do PT em relação às bases enquanto exercendo o poder. Falava a verdade. Porque a derrota petista muito mais se ampara na descrença de parcela do ‘seu’ eleitorado. 

Eleitorado que não aprendeu – porque não ensinado – o que se lhe afigurava de melhor. 

Claro, não há como negar, que uma campanha sórdida foi encetada contra o partido. Mas, tal campanha não passa de ocupação de espaços midiáticos, que o PT não soube ocupar.

Alguns exemplos são singulares: Lula, em sua primeira entrevista como presidente concedeu-a a Globo; Dilma, assim que eleita, fritou ovo no programa de Ana Maria Braga. 

Ou seja, o PT confiou na Globo e mesmo a alimentou com fartos recursos (em torno de 7 bilhões de verbas publicitárias no período) quando poderia – e deveria – ter fortalecido a TV pública, tornando-a acessível a todos, fazer dela uma concorrente da Globo no plano da informação.

Ao não fazê-lo tornou-a  para não dizer fortaleceu-a  o canal oficial do país, autorizada tacitamente a fazer o que bem entendesse em defesa de 'seus' interesses.

Que nunca foram os do povo, de Lula ou do PT.

A ponto de ser porta-voz do antitudo.

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