domingo, 11 de novembro de 2018

Ontem, hoje, sempre(?)

Um século

Há 100 anos, assinado o Armistício que pôs fim à primeira Grande Guerra. Ano seguinte, a partir de junho, as tratativas que resultaram no Tratado de Versalhes, em janeiro de 1920, que, por suas condições draconianas, os alemães denominaram de ‘imposição’.

As pesadas sanções– da perda de territórios na Europa e de colônias na África e na Ásia à redução, em quantidade e tamanho, do exército e de seus equipamentos bélicos (tanques, submarinos, navios e fragatas etc.) e indenizações de guerra – levaram a Alemanha e, de imediato, a recém instalada república de Weimar, a uma crise sem precedentes e abriu espaço para a ascensão de Hitler e a segunda Grande Guerra como instrumento de recuperar o perdido pela imposição.

Os vencedores não compreenderam a sabedoria oriental: a consolidação da vitória não está em destruir o vencido depois de derrotado na derradeira batalha, mas em não fazê-lo sentir-se como tal.

Simplesmente, a paz não se constrói com vingança e aniquilamento do inimigo. Mas com o reconhecimento da dignidade em todos que lutaram. Porque o vencido, como o vencedor, também a tem.

Ainda nos tocam William L. Shirer, Ingmar Bergman e Rainer W. Fassbinder. O primeiro, com o magistral "Ascensão e Queda do III Reich" (1960); o segundo, com "O Ovo da Serpente" (1977) e o terceiro com o documentário para TV "Berlin Alexanderplatz" (1960).

Há quem nunca os tenha lido e visto. Muito menos em torno do tema debatido a razão, o porquê e o como. E assim continuará.

Muito apropriado
Noticia-se que o ensino de Libras pode se tornar matéria obrigatória, em todos os níveis. Para quem não saiba, é a caligrafia para surdos.

Sugere-se, também, a obrigatoriedade do Braille, a de cegos.

Muito apropriado nestes tempos de estio, quando a surdez e a cegueira vão ocupando espaços antes inimagináveis. Inclusive mental.

Nesse particular não temos como saber se há estudos para ensinar a pensar. Porque anda a prevalecer a vontade de impor o NÃO pensar.

Basta entender
Ilustrado na sabedoria do macaco Sócrates (“Não precisa explicar! Eu só queria entender”), os números para o estimado leitor, em razão da sanha do STF por mais dinheiro para os seus pupilos e quejandos, mais penduricalhos para a indústria automobilística, em custos anuais comparados a outros programas de governo:
Aumento concedido a Ministros do STF e PGR = 5,3 bilhões
Desoneração da indústria automobilística = 1,5 bilhão
Minha Casa Minha Vida = 4,5 bilhões
Eletrificação rural = 1 bilhão
Muito a propósito: a sonegação, no último setembro, alcançou 460 bilhões de reais.
Tudo junto, misturado, fede pra cachorro!

Humor circense
Tivéssemos naquele misto de cinema chapliniano/trapalhão diríamos estar vivenciando ensaios de mais um filme protagonizado por Didi, Dedé, Mussum e Zacarias. Mestres do singular humor circense, aquele leva o espectador ao riso através da queda do palhaço.

Não bastasse os anúncios espatafúrdios no plano interno, que vão de extinção do Ministério do Trabalho ao apoio a que estados contratem milícias particulares armadas de fuzis com autorização para matar, o eleito já abriu pontos de tensão além mar com a China, Venezuela, BRICS, Cuba, Mercosul e países árabes.

Para imaginar-se Trump e agradar ao grande irmão do Norte anunciou a piada (pelas consequências) que em vez de fazer rir faz chorar a muitos: embaixada da Palestina em Israel. Nem Israel precisa disso, porque quem a ele tudo recomenda, assume e garante são os Estados Unidos.

Lá fora efeito prático nenhum no campo da política internacional. 

Mas, aqui, bem aqui dentro, parcela daquela gente que aplaudiu e financiou o eleito despertou como de um pesadelo: o de perder exportações de carne e soja, aves e suínos, que transitam por entre a China e povos árabes.

Não sabemos se os atormentados exportadores perceberam que o pesadelo foi por eles mesmos criado. E muito bem criado!

Ou se caíram na gargalhada.

Fiscais de outros tempos
Já tivemos os ‘fiscais de Sarney’, vigias da política econômica etc. etc.
Faz parte de uma espécie de “panicus” que se expressa identificando ou mesmo fabricando um problema que nos angustia, e de imediato ofertar diagnóstico distorcido, suficiente a injetar em doses cavalares o medo e desmedida raiva contra o inimigo sugerido. Para eles melhor esconder soluções eficazes, porém mais demoradas, porque o fundamental são os problemas do país anunciados como o fim do mundo e cuidar de combater os inimigos indicados.

Nos tempos do Plano Cruzado foi lançado o tiro único e certeiro para acabar com a inflação sem que suas verdadeiras e latentes causas fossem atacadas, sem que os atores que dela se beneficiavam (grandes empresários e sistema financeiro) e os que por causa dela sofriam (o povo) participassem da discussão e elaboração de um plano de médio e longo prazo, que passava por uma nova conformação econômica capaz de superar o que sempre a sustentou.

Estamos a caminho de um novo affair: escudados na promessa do eleito de acabar com a classe política, com a corrupção e com a violência estarão os fiscais em cada esquina, hoje munidos de celulares. 

Esses os novos tempos, férteis à prática. Em meio à paranoia coletiva todos seremos suspeitos. Viveremos o país onde crianças serão fiscais a investigar, seus pais e vizinhos juízes de um tribunal de inquisição onde não faltará quem para ele busque a tortura como meio de obtenção de prova da culpa.

Não mais vivemos o romano panis et circenses, mas o brasiliense panicus et circenses.

Ontem e hoje
Muito a propósito trazemos trecho da oração proferida pelo escritor Antônio Lopes quando da posse na Cadeira 4 da Academia de Letras de Ilhéus, em maio de 2001, ao referir-se a Wilde Lima, fundador da honraria (disponibilizado em "Estória de Facão e Chuva", Editus, 2005):

“Faz muita falta hoje a atitude lúcida e destemida de Wilde Lima, quando ponderável parcela da sociedade brasileira está ameaçada e – talvez por isso – clama equivocadamente por novas leis e punições rigorosas, exige mais dureza contra a violência, pretende responder ao crime com o crime, ao sangue derramado com mais sangue derramado, combate efeitos e não combate causas, quer dar prisão a quem necessita de escola, pede justiceiros quando precisa de professores, quer polícia quando devia reivindicar justiça, principalmente justiça nos pratos da balança social.”

Lá se vão quase 18 anos da oração de Antônio Lopes. O ontem muito mais presente nesse singular instante do que possa imaginar nossa vã filosofia.

Agravado, até – diríamos –, caso não entendesse o leitor como pessimismo o que registra este escriba.

As pérolas I
Nestes tempos de estio pedregulhos tornam-se pérolas. Na primeira semana a prodigalidade; na segunda, reafirmação e magistralidade. Começando por barrar imprensa e fazer cinegrafista apagar imagens gravadas. A delegada que levou ao suicídio o reitor Cancellier provável convidada para assumir a Polícia Federal. Supimpa!

As pérolas II
O juiz Sérgio Moro, na condição de indicado para Ministro da Justiça, aproveita o exercício de sua função de magistrado e dela se afasta, tira férias, para montar sua equipe de governo.

Ou seja: para exercer um cargo político – incompatível com o exercício da magistratura – se aproveita da investidura na de magistrado e se beneficia de uma condição inerente a esta para efetivar aquela.

Assim, tira férias na função pública para exercer atividade política (montar ministério).

Simplesmente infração disciplinar, à primeira vista, e apropriação de recursos públicos, por consequência.

Mas, pergunte ao STF e ao CNJ? Dirão que tudo está sob inteiro controle e as instituições funcionando regularmente.

Pérolas, como o Diabo gosta?


Nenhum comentário:

Postar um comentário