domingo, 6 de janeiro de 2019

Só dói quando rio

De Ziraldo, no Pasquim dos velhos tempos, combatente em outros tempos de estio, a charge de um indivíduo que, trespassado por uma espada, diz "Só dói quando eu rio". Há livro com este título, do próprio Ziraldo.

Nós outros, que não nos enveredamos pela hipocrisia de desejar loas e futuro 'benauguroso' a um governo que sempre insinuou não deseja-lo, porque caminhará sobre suas próprias pernas e convicções, kafkamos (de kafkar, neologismo do escritor e poeta Ruy Póvoas) a rir do que acontece e mais acontecerá.

Sem responsabilidade alguma por elevar ao Olimpo quem Zeus não admitia (o homem, no Mito de Prometeu) começamos a gargalhar, como em picadeiro de circo mambembe em que a queda e os tropeços do(s) palhaço(s) são a razão e o motivo de rir.

Aderindo aos sinais dos tempos, nestes tempos de estio, só melhoro quando rio. 

O remédio de que dispomos.

É de morrer de rir I
Comemorada pelo eleito a criação da Secretaria de A(na)lfabetização, que pode ser chamada, por quem vai ocupá-la, de ANALFABRAS para os mais patriotas.

É que o secretário a assumi-la é contra a alfabetização escolar, preferindo-a em domicílio, à distância.

Atende a uma sugestão de Stanislaw Ponte Preta que em seu FEBEAPA, diante da burrice institucionalizada no país à época, teria comungado com sugestão do contemporâneo Nestor de Holanda (de Ignorância ao Alcance de Todos, p. 153) para que fosse criada a ANALFABRAS, sugestão que acaba de ser acolhida, seis décadas depois. 

O programa “Alfabetize em casa” é a descoberta da pólvora do futuro 'sua incelência', defensor entusiasta da "educação familiar" como ilustra o Brasil 247.

Mais do currículo do ilustrado e inusitado 'educador': crítico feroz de Paulo Freire. 

Não precisa dizer nada.

É de morrer de rir II
Para a turma escola é coisa perigosíssima e aprender alguma coisa, quando muito assinar o nome, é função familiar. Razão por que cursar uma escola regular é um perigo. Deve imaginar o augusto Secretario. 

Como pode ser letrado coisinha a mais que parcela considerável dos companheiros da vigorosa ação governamental, muito possível que conheça a crônica de Sérgio Porto em sua alcunha de Stanislaw Ponte Preta (trechinho de início abaixo) e cuida logo de interromper tais descarações.

"O analfabeto e a professora

Foi quando abriram a escolinha para alfabetização de adultos, ali no Catumbi, que a Ioná resolveu colaborar. Essas coisas funcionam muito na base da boa vontade, porque alfabetizar adultos nunca preocupou muito o governo. No Brasil, geralmente, quando o camarada chega a um posto governamental, acha logo que todos os problemas estão resolvidos, sem perceber que - ao ocupar o posto - os problemas que ele resolveu foram os dele e não os do País. Mas isto deixa pra lá." 

Rezar, eis o que nos cabe
Não acreditamos na reedição de práticas postas no imediato do golpe civil/militar de 1964. 

A substituição da função legislativa pela executiva já encontra amparo constitucional através de medidas provisórias dispensando o Decreto-Lei. 

A necessidade de consolidação do alcançado para permanecer pelo tempo necessário dispensará a criação de novos porões de ditadura, mesmo porque os meios de que dispuseram as forças que elegeram o novo presidente permanecem à disposição, de onde se destaca o controle privado da comunicação de massa, mais presente do que em 1964 em poder e meios (aperfeiçoado com os fake news, que asseguraram sua eleição). 

E um fato novo em relação a 1964: o STF subserviente e medrado.

Tanto que não custa pagar para ver a materialização dos arroubos de campanha e pós-eleição em torno do perigo vermelho.

Não assumimos a veleidade hipócrita de desejar ao futuro governo que o faça bem porque não o fará. Quem diversamente pensar imagine que se em fase de campanha – de dúvida quanto ao convencimento do eleitor – foi dito o que foi dito o que não farão desconhecidos áulicos no exercício efetivo do poder?

Um novo governo assume numa espécie de ante-véspera da Quaresma. A sinalizar, de sua parte, o que pretende. Começo de semana, de ano e da era que pretende implantar.

De nossa parte apenas a recomendação, bem ao modo de como nos veriam Nietzsche e Fuerbach, sublimativo: rezar. E, entrar em penitência pelo pecado cometido, no que vemos como permanente Quaresma.

Disse-o em 2002
Entrevista com Eric Hobsbaum, em 2002. Qualquer semelhança com a atualidade (brasileira, inclusive) pode ser tributada à premonição, caso o processo histórico não sirva ao leitor como paradigma.

Os detalhes mais significativos a partir do 18º minuto.

                      

Por fim
Eis que por hoje nos bastamos e deixamos, para reflexão, a mensagem do 'comunista" Ruy Barbosa, para quem "Uma raça, cujo espírito não defende o seu solo e o seu idioma, entrega a alma ao estrangeiro, antes de ser por ele absorvida".

Ria, inda que doa!

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