domingo, 20 de outubro de 2019

O luto que nos invade


Tudo se discute nesta triste terra brasilis, menos o país e sua razão de existir. A declaração de independência, consolidada nas batalhas da Bahia, pretendia construir uma nação soberana. Ainda que sobre pilares engendrados por uma classe dominante excludente individualista e patrimonialista caminhava – mesmo trôpego – na busca de seu santo Graal.

Em alguns instantes históricos isso ficou mais evidente, quando projetos nacionalistas se efetivaram. A indústria siderúrgica, o primeiro instante para fugir à dependência externa, abriu caminho para a metalurgia e o processo de industrialização. Forças produtivas foram despertadas.

O domínio das riquezas foi a tônica do projeto daquele país do futuro. Sua exploração pelos brasileiros marcava um sonho de Pátria e alimentava a autoestima. Não somente os heróis sucumbidos às suas utopias, à frente deles o Tiradentes, o mártir mais consagrado, também os que construíamos esta nação.

A criação da Petrobras e da Eletrobras, aliada ao projeto de pesquisa nuclear que originou o CNPq, ainda nos anos 50, ofertava novas e esperançosas perspectivas para o país no concerto internacional. Nem discorramos sobre os momentos mais recentes.

Mas hoje nada resta nesta triste terra brasilis além do exaurimento de suas forças produtivas e do resto de autoestima de uma gente para quem tudo aqui era “o maior do mundo”.

O projeto de além-mar no antanho, que passou por domínio de Portugal e da Inglaterra e mais recentemente dos Estados Unidos no xadrez da convivência e dependência no mapa do planeta, se consolida em detrimento de nossos interesses arduamente defendidos no curso da história.

No entanto, não mais o controle da hegemonia no jogo da geopolítica nos aliena, mas um sistema alheio a tudo que não seja seu lucro. 

E assim o sistema financeiro, com sua teoria e prática neoliberal, consuma um projeto amadurecido há anos: tudo aos bancos e nada a mais ninguém.

A vocação do Estado no quesito atendimento aos interesses da coletividade e do bem comum, onde o povo seria destinatário, perdeu o objeto; não mais serve ao povo  mas é o próprio povo servido por ele na bandeja. 

Engalfinham-se Executivo, Legislativo e Judiciário, cada um com sua conivência e participação no desastre, em discursos e manchetes elevando valores e não-valores na construção da esterilidade pátria como cães ladrando enquanto a caravana neoliberal passa. Esquecem os que discursam de que quanto mais humilhado o país maior a segurança dos que o dominaram. E que foram eles os atores e autores desta humilhação que hoje buscam um mea culpa como meio de fazer-nos esquecer a mácula que causaram.

E hoje nada mais temos a não ser tentar reduzir o grau de humilhação.

Enquanto o fazemos, ocupando searas alheias à realidade, caminhamos célere para nos tornarmos escravos em substituição ao complexo de súdito. 

Ainda que atônitos a tudo assistamos o (não)futuro nos encaminha para o precipício. 

E para a morte como nação.

Não à toa o luto nos invade... pelas praias.

Nenhum comentário:

Postar um comentário