domingo, 22 de dezembro de 2019

Palhaços vertendo lágrimas


Não morremos de amores pelo atual inquilino do Alvorada. Tanto que dele nada cobramos porque nunca enganou a quem quer que seja, muito menos a nós. Não há ‘choro nem vela’ de nossa parte.

Mas toca-nos ler o que lemos dos que ora o criticam. Muitos dos que o defenderam com unhas e dentes até há pouco.

Mas, alerta-nos o escrito por Reinaldo Azevedo: "Sim, estou convencido de que Bolsonaro tem um problema que é clínico. Suas respostas, a meu juízo, o evidenciam com clareza. Ocupa, no entanto, um lugar de quem está obrigado a responder por seus atos. O único remédio que o institucionalidade tem de ministrar a ele é o triunfo da lei. O Brasil não pode se transformar em seu hospício privado".

Sob o primeiro aspecto – problema clínico por falta de controle das chamadas “faculdades mentais” – nada de novo. A maioria dos seus críticos se recusa a lembrar daquele Bolsonaro de 1986, ameaçando explodir a adutora do Guandu caso Sarney não concedesse aumento para os militares, fato que o levou a 15 dias de prisão e à reserva remunerada dois anos depois (o Tribunal Militar que o julgou evitou reconhecer o ‘terrorismo’ e conciliou a conveniência com a ‘aposentadoria’ aos 33 anos de idade). Ora, tal fato – explodir uma adutora que serve a uma coletividade do porte do Rio de Janeiro não pode traduzir ‘equilíbrio mental’, tampouco estágio de mínima sanidade.

Mas ninguém lembrou disso e o processo eleitoral passou sem debates e aplaudido por esta parcela singular de “formadores de opinião”. A conveniência do ‘esquecimento’ os motivava à elaboração de laudas para nos convencer a nós outros quão grandioso o que se dizia “contra tudo isso que está aí”. Mervais, Mírians e quejandos tais – uns mais subservientes que outros – o tornaram “mito”.

Fiquemos por aqui. Passemos ao lugar comum: por que o inquilino ocupa o Alvorada?

Malhar em ferro frio, mas não custa repetir à exaustão; interessava ao sistema aprisionar Lula e remeter ao impeachment uma presidente da República por haver cometido “crimes” (os mesmos de todos os anteriores) e hoje sabe-se que não os havia (os crimes). “Com Supremo, com tudo”.

Politicamente utilize-se os que têm utilidade – eis o argumento, a razão, ainda que promíscua: Eduardo Cunha, na Câmara para impulsionar o impeachment; o judiciário (com Supremo, com tudo) para promover o lawfare; a mídia para afirmar que tudo é verdade. 

Aos risos e gargalhadas os de sempre, desde Matusalém.

É que os objetivos remontam aos Matusalém em território tupiniquim. A História os registra. Desde trucidarmos o povo paraguaio em típico genocídio para corresponder aos interesses da Inglaterra que via nas políticas de Solano López (de fortalecimento das indústrias naval e bélica) um concorrente na América Latina. 

A propósito deste genocídio, quando da batalha de Acosta Ñu, sacrificado foi um exército de crianças entre 6 e 12 anos (a população masculina foi reduzida em 96% nos 5 anos de tão infame guerra) acompanhadas pelas mães desesperadas tentando salvá-las. A propósito de tamanha crueldade, escreveu Julio Chiavenatto, em “Genocídio Americano: A Guerra do Paraguai”: 

"As crianças de 6 a 8 anos, no calor da batalha, aterrorizadas, se agarravam às pernas dos soldados brasileiros, chorando, pedindo que não os matassem. E eram degoladas no ato".

Sim, caro leitor, não custa conhecer nosso passado para nos reconhecermos no presente. Até porque quando nos faltaram paraguaios tivemos sertanejos, onde Canudos é singular exemplo de genocídio sem qualquer motivo que o justificasse como luta. 

Pode saltar a matança dos índios e a escravidão (do gentio e do negro), esquecer que indenizamos Portugal em 25 mil libras esterlinas por havermos proclamado a independência tomando empréstimo à Inglaterra (primeira dívida externa).

O fundamental em tudo é centro do x da questão: o que queriam (no passado e no presente) já conseguiram: mais recentemente a parcela do pré-sal, base de Alcântara, a Embraer e a tecnologia nativa desenvolvida a ponto de competir mundialmente com a própria Boeing que a adquiriu, arrebentar o parque da construção civil e aprofundar desigualdades em todos os níveis capitaneadas por uma campanha de retorno à fome.

Natal para quem? Para quê? Certamente para os que comem lagosta em lautas mesas, tudo regado a vinho importado às nossas custas, são os que legitimaram tudo isso.

Imaginemos a cidade do Rio de Janeiro, e sua Oitava Maravilha do Mundo, o Cristo Redentor, lembrando o maior exemplo de solidariedade, Jesus Cristo. Houvesse ele nascido nesta Cidade Maravilhosa de hoje pobre filho de carpinteiro trabalhando na favela ou nas periferias o que lhe aconteceria? Teria educação, comida, roupa, dignidade ou seria presenteado com uma bala perdida?

Um ano por findar. Mais um no caminhar deste escriba de província. Tudo o remete a desistir da vida e do viver em sociedade. Mas, ficamos com Cícero, olhando de cima a morte e agradecendo por ter vivido tanto. Afinal – parodiando Tolstói – algum sentido há que não será aniquilado com a morte: a esperança de que reste um homem para reconhecer em seus atos a Humanidade. Ainda que nela o homem desta terra brasilis não o pretenda.

Certamente por isso – nós que não morremos de amor pelo inquilino do Alvorada – assistimos do ‘galinheiro’ – do mambembe que em picadeiro o exaltou – os palhaços que sorriam vertendo lágrimas.

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