domingo, 3 de maio de 2020

De fazer inveja a Schopenhauer e Nietzsche


Por mais que otimista sejamos – ainda Cândido em fase de ouvir Leibniz através de Pangloss – os fatos nesta terra brasilis – quando observados a partir de parcela de sua sociedade – nos levam a um pessimismo mais e mais se aprofundando. 

Temos lembrado o quão nefanda a atuação (histórica) da classe dominante brasileira. Hoje – para não dizer que pior não fica – convivemos com uma espécie de ‘pequena burguesia’ que se espelha na classe dominante e que alcança foros de mediocridade inimagináveis quando se expressa.

A classe dominante tradicional “pensava”, ainda que a seu favor; esta outra nem cérebro possui, e o demonstra à saciedade atropeladamente, assim que lançada no pedestal. A primeira sempre se fez presente no poder e derrubou quem quer que enfrentasse os seus interesses; esta outra também chegou ao poder. Intolerável ao bom senso sua burrice, no entanto, ocupa espaços e aliena muitos que estão em busca da consciência e são de logo atropelados por tão sábia categoria, que vai se tornando ‘exemplo’. Afinal, burrice também passou a ser cultura.

A classe dominante clássica admite até o suicídio para não se curvar à realidade. Hoje encontra apoio aritmético (nunca intelectual) da nova classe ‘pensante’. A classe dominante tradicional ocupou o espaço. Esta outra chegou porque deixaram chegar, pela conveniência, e passou a se achar o supra sumo da inteligência humana.

Essa gente chegou ao extremo a ponto de nos envergonharmos das cores verde-amarelo como símbolo nacional porque delas se apropriou para legitimar as aberrações que comete. Ver alguém vestido de verde e amarelo nos deixa com a pulga atrás da orelha.

O caminhar dessa gente mostra a quantas anda o compromisso com o país e as futuras gerações. Suicídio é preferido a reconhecer, como salvação, os erros cometidos e os que está a cometer.

E a hipocrisia permanece: o ministro Gilmar Mendes, do STF, declara que a Lava Jato (o judicialismo) elegeu o inquilino do Alvorada. Esconde a participação efetiva do próprio STF e dele em particular alimentando as aberrações por ela promovidas.

Um outro ministro, o Barroso, diz que impeachment do inquilino é a última solução para o caso atual. Ele que legitimou o de Dilma com base apenas na formalidade e não na materialidade; estando o procedimento legislativo correto a existência ou não de crime ficava para segundo plano – lecionou Sua Excelência. 

Hipócritas e criminosos todos. Integrantes e porta-vozes do sistema implantado por esta classe dominante predadora.

Valendo-se da ‘pequeno-burguesia’ acima declinada nunca tiveram representação que pudesse assim ser denominada, em nível de predação. Agora o tem. E o tem caro e paciente leitor diante de um fato concreto e estarrecedor: ao poder era alçado a partir do século XX aquele que dispusesse do controle dos meios de comunicação (jornais, revistas e, especialmente, o rádio; posteriormente a prevalência da imagem em detrimento do discurso, porque passou aquela não mais a ser o meio, mas a mensagem); nesta contemporaneidade as redes sociais chegaram a rincões nunca imagináveis há 20 anos. 

Cada um que a elas tenha acesso através de um simples celular se tornou um potente instrumento de propaganda e – mais grave – através delas montadas verdadeiras máquinas de divulgação de ideias mentirosas como se fossem verdade.

Na esteira desta realidade o inquilino do Alvorada se fez soberano. Daquela gente que sempre pensou como ele e não tinha uma liderança identificada. O obscurantismo latente se fez presente. Anunciado como salvação através das redes sociais.

As redes sociais deram e identificaram a identidade. E a manada seguiu o boi nadador.

E os que deixaram isso acontecer – e mesmo para com isso contribuíram – imaginando a defesa de seus interesses não têm como evitar o suicídio. Uns porque são assim mesmo; outros, porque seria a confissão de que algumas instituições do Estado trabalharam para destruir este mesmo Estado.

Caso sejam dados nomes aos bois não faltarão na lista muitos ministros do STF, Procuradores da República, Desembargadores, Juízes, Poder Legislativo e, naturalmente, a imprensa tradicional, agora sufocada e atropelada pelas redes sociais.

Porque tudo tende a piorar os anos que nos chegam vêm acompanhados daquele pessimismo que legou Voltaire a Cândido e fazer inveja a Schopenhauer e Nietzsche, sem possibilidade “de cultivar nosso jardim”.

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