domingo, 27 de setembro de 2020

As intenções e afinidades de cada um

Transitando pela rede, dia desses, encontrei uma compilação subscrita por Ênio José Corrêa de Moura envolvendo pérolas de Sua Insignificância Real quando ainda candidato, alertando o subscritor em torno do que veio a acontecer: preterimos  um professor, fluente em quatro idiomas, autor de livros e artigos, doutor da maior universidade da América Latina, para escolhermos quem apresenta dificuldade até de ler, muito menos de articulação lógica em um discurso:

“(Os gays) Não vão encontrar sossego. E eu tenho imunidade pra falar que sou homofóbico, sim, com muito orgulho”.


“Seria incapaz de amar um filho homossexual. Não vou dar uma de hipócrita aqui: prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí. Para mim ele vai ter morrido mesmo.”


“Não vou combater nem discriminar, mas, se eu vir dois homens se beijando na rua, vou bater.”


“Se um casal homossexual vier morar do meu lado, isso vai desvalorizar a minha casa! Se eles andarem de mão dada e derem beijinho, desvaloriza.”


“Jamais iria estuprar você, porque você não merece… vagabunda!” — fala que reiterou dias depois.


“Maioria é uma coisa, minoria é outra… minoria tem que se calar, se curvar à maioria, acabou."


A cantora Preta Gil o perguntou:

“— Se seu filho se apaixonasse por uma negra, o que você faria?

— Ô, Preta, eu não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco, meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambiente (família negra) como lamentavelmente é o teu.”


“Foram quatro homens, a quinta eu dei uma fraquejada e veio uma mulher."


"Alguém já viu um japonês pedindo esmola por aí? Porque é uma raça que tem vergonha na cara. Não é igual a essa raça que tá aí embaixo, ou como uma minoria que tá ruminando aqui do lado.”

Em um mundo normal, poderíamos nos perguntar porque falas tão desequilibradas não espantaram seus eleitores e — mais grave — encontraram eco. Ninguém com o mínimo de bom senso elegeria a insanidade, o desequilíbrio e a arrogância. Mas, posto em jogo apenas o antipetismo em sua dimensão patológica. 

No mais, a arma oferecida como símbolo de poder. O povo armado como instrumento de garantia de que se mantenha no poder.

Impressiona — não fora ter acontecido o que sabemos — uma personagem chucra que não serve nem ao teatro mambembe (quando muito humorístico circense) — ter-se tornado chefe da nação de Padre Antônio Vieira, Machado de Assis, Castro Alves, Mário Palmério, Guimarães Rosa, Jorge Amado, Adonias Filho, para ficarmos com alguns do passado.

E aí estamos.

No momento uma convergência entre dois instantes, dois países, dois chefes de estado no imediato do exercício de sua função institucional insculpida nas respectivas constituições: indicação de novo integrante de tribunal superior; Estados Unidos, para a Suprema Corte e Brasil, para o Supremo Tribunal Federal.

Por lá os sinais foram acesos e um nome divulgado. Há quem registre a indicação com pruridos de questionamento: Donald Trump indica uma juíza conservadora para a Suprema Corte. Fará ampliar a representação conservadora na Casa, que sairá de 5 para 6 membros contra 3 adversos.

Não cabe discutir. Afora pelo viés da política pela política; ser contra ou ser a favor.

Age o americano, como agirá o inquilino do Alvorada no instante apropriado, dentro dos seus limites de convencimento. E de coerência.

O exercício do poder demanda pleno controle de todas as instituições (públicas e privadas) é a lição do mais comezinho dos cursos de Planejamento Estratégico Situacional (PES). Lógico que o ensaiado nem sempre é alcançado. Mas a monitorização se torna uma constante para que o gestor (público ou privado) não perca o controle da situação em torno, nos limites — naturalmente — de suas carências políticas e administrativas.

Para o gestor público estar bem com as instituições (privadas e/ou públicas) significa exercitar um plano de atividades, de constante acompanhamento da gerência e efeitos das estratégias à luz dos resultados que pretenda obter, o que lhe assegura mais tranquilidade para o exercício administrativo e meio de evitar atropelos no curso da gestão.

Sob esse quesito (ainda que possa parecer amadorismo deste escriba de província) a presidente Dilma Rousseff perdeu a batalha.

Imaginar que um gestor que detenha o poder de indicar alguém para ocupar uma função que possa afetar a condução de seu projeto venha a fazê-lo para agradar o adversário é idiotia.

Donald Trump sabe o que quer. E está efetivando o que lhe interessa pessoalmente não o que esse ou aquele, em nome da sociedade, entenda melhor. No primeiro instante, a reeleição; o que significa a continuidade do projeto que implantou. Constrói, controlando a Suprema Corte, a instância para legitimar suas pretensões, ainda que soe a golpismo declarar que não respeitará o resultado das eleições caso venha a perder.

Com o inquilino do Alvorada não será diferente.   

E por estas plagas nenhuma dúvida pode haver em quem será indicado para substituir o decano Celso de Mello, que deixa o STF no próximo dia 13.

Caso algum leitor não haja se debruçado sobre o tema e pretender “adivinhar” a indicação basta ver o seu ministério para facilmente perceber o que virá. Especialmente para quem disse que indicaria um ministro “terrivelmente evangélico”.

Quem não soube fazê-lo — ou por temer ou por não fazer a leitura da História — foi o PT. Que, enquanto indicou só indicou inimigo, no campo político, e conservadores, no campo ideológico.

Os que criticam a postura de Trump devem saber que é ele o espelho em que se mira o inquilino do Alvorada.

Eis o busílis; aí está o perigo.

Trump articula um golpe nos EEUU caso não se reeleja. Utilizar-se-á da Suprema Corte para legitimá-lo, instrumentalizando e manipulando a Excelsa casa às suas aspirações.

Alguma semelhança com esta terra brasilis será mera coincidência.

Por aqui para garantir maioria no STF e evitar transtorno judiciais para si e para os seus  amparado naquela singularidade tupiniquim tendemos a ver lançada ao mundo mais uma jabuticaba: fechamento do STF (e de roldão o Congresso) com jipe conduzido por um sargento e aquela população em camisa da CBF armada sob o comando de milícias cívico-policiais-religiosas para dar apoio à Democracia.

Ah! Tenham certeza de que não será Carlos Alberto Brilhante Ustra o indicado, por haver morrido há cinco anos. Mas — não fica fora de cogitação — que a indicação do novo ministro (“terrivelmente evangélico”) venha a ocorrer no dia 15 de outubro, data de falecimento do indigitado ‘Doutor Tibiriçá’.

Uma homenagem não só por intenção. Também afinidade!

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