Contadas apenas as mortes anotadas, as que atendem às estatísticas. Onde o homem/ser apenas dado expresso em unidade aritmética.
O Covid-19 já nos levou quase duas centenas de milhares, oficialmente; extraoficialmente superando pelo menos 230 mil.
Mas, como cerca de oito milhões foram por ele
alcançados e ‘apenas’ duas míseras centenas de milhares (os registrados) — e mais
três dezenas — foram a óbito as ‘estatísticas’ soam promissores.
Uma festa tantos curados!
Não, caro e paciente leitor. No plano de desumanidades há quem a tudo
comemore. A autoestima não pode sucumbir à realidade — alardeiam!
Em meio a tudo, o Natal. Particularmente não
gostamos do que é feito em nome dele. Ou, simplesmente como professado por este mundo consumista.
O Natal que nos comove está nas lapinhas de Vó Tormeza, de minha
mãe Adelaide e de minha irmã Eva Lima, do Comendador João Alves de Oliveira e
de Francisquinha de Roque Borges (em Itororó), ou aquelas todas nos rincões
deste Nordeste sofrido expressando a esperança muda de dias melhores e de mais
compreensão, lembrança do Menino que nasce para renovar os homens desde mundo.
Há dois mil anos sem ser escutado.
Também não esqueçamos da matança atribuída à determinação de Herodes.
E não custa nos inspirarmos em Marcos (10, 14-15): “Deixai vir a mim as criancinhas. O que fizerdes a qualquer delas é a mim que o fareis!”
Outros tempos, outros Natais, outros Herodes. E a matança continua. Uma matança
cotidiana em espaços que o Natal não alcança.
E nesta última postagem de 2020 fazemos acrescer ao final o que os versos
permitiram expressar do grosso sentimento.
De alvissareiro a chegada da Era de Aquários. Não custa rever Hair, de Milos Forman. Pelo menos pelo tema de abertura. A conjunção não de “Júpiter com Marte”, mas esta que se escancara para o planeta: Júpiter e Saturno.
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Periferia
O corpo padece e não mais sente
Atingido pelo disparo, nada raro, inerte
Inertes todos à volta
indiferentes
— Outra vida, apenas! —
Uma lágrima escorre face abaixo
lágrima de morto
Na calçada a criança chora
não entende
mas padece
e sente
Outra lágrima lhe escorre
também negra
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Século XXI
No presépio de então
a infância tenra
o armava como tradição
Avenidas e ruas de papelão
da fonte correndo água
lantejoulas cintilando
no céu de seda em amplidão
A manjedoura refletia
da penúria exibida
o sorriso da Redenção
Os magos reis
caminhando
um pouco a cada dia
Tudo no mais ali
completava
a devoção
Não mais a lapinha de antão
nada da tenra infância
e da devota tradição
Na manjedoura não há penúria
tão só exibição em fúria
de hodierna ostentação
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