domingo, 7 de fevereiro de 2021

Em meio à vitória avassaladora Mourão é a solução

Temos, neste espaço, levantado permanente dúvida sobre a saída forçada do inquilino do Alvorada amparada em impeachment. Temos afirmado que sua presença à frente do governo atende aos interesses mais comezinhos, tanto da classe dominante local como de além mar.

Também levantado indignação crítica à forma como a denominada oposição ao inquilino se porta, já que limitada ao ramerrão da denúncia midiática que em si mesma não alcança o real objetivo (justamente porque interpretada aos olhos e ouvidos do homem comum como apenas ‘coisa da oposição’, de quem perdeu o poder), sem meios e força para enfrentar ou competir com os discursos de ódio, com a mensagem evangélica. Ou seja, o discurso levado a termo pela oposição não conseguiu, em dois anos de descalabro, reduzir o BOM(!) e ÓTIMO(?) de avaliação do inquilino para menos de 30%. Simplesmente por incrível que pareça dispõe ele de 1/3 de apoio até agora imutável.

Salvo esparsas vozes sem a penetração necessária na base da sociedade a experiência recente deixa no ar que a oposição não aprendeu a lição de que não precisa agredir ou perseguir mas não pode confiar em projeto nacional amparado na burguesia. Sua postura nesse instante parece demonstrar apenas a realidade imediata: a retomada do poder. Para tanto ataca o inquilino do Alvorada e esquece (e não o combate) a razão que a afastou do poder: o projeto neoliberal, com o qual de certa forma conviveu e tolerou. Parece não atentar que o que está em jogo permanece sendo uma luta de classes em torno da qual não se situou além do discurso.

Reconheçamos (demonstrado está) que não conta a oposição com a força e os meios de que dispõe o projeto espúrio do pentecostalismo (evangélico e católico); que perdeu muito de suas bases e está a reboque dos erros do inquilino do Alvorada. E este, com uma simples canetada, contornará os problemas em relação às bases desprotegidas da sociedade (fonte de votos), basta-lhe acenar com um “auxílio emergencial” no instante necessário, que mesmo castrado no momento ressurgirá próximo ao processo eleitoral, até porque (acuada) é esta oposição quem o defende (o que lhe é natural).

Dirá o paciente leitor que caminho outro não há no momento.

Este o busílis: o momento. O momento cobra ser compreendido. E a compreensão exige olhar o processo histórico por que passou o país e sua gente sob o tacão da classe dominante (escravidão e espoliação). Imperativo entender que essa classe que constitui a burguesia nacional é colonialista: servindo a quem quer que seja além desde que assegurados seus históricos privilégios e sinecuras às favas, dirá ela, os pruridos pátrios, o que inclui a democracia.

No fundo, uma classe dominante já muito bem espelhada por Gregório de Mattos Guerra no século XVII, por ele cognominada de “canalha infernal”, que não encontra para corresponder aos seus desígnios ninguém melhor que o inquilino do Alvorada.

Caso alguém duvide não custa fazer uma pausa para analisar o resultado das eleições para mesa da Câmara e do Senado: traduzem acordos espúrios, nada a favor da nação. 

Mas, caríssimo leitor – deixados os pruridos ao largo, fato concreto – o inquilino do Alvorada alcançou uma vitória retumbante, maior que a da sua própria ascensão ao poder. Não precisou de Moro, de procuradores da Lava Jato, da rede Globo, da Polícia Federal, da PGR, do TRF-4, do STF, de ‘marrecos’ nas ruas. Obteve-a a partir do projeto a que serve, do controle que soube exercer sobre seus correligionários e admiradores. Soube usar do que dispunha diante de um congresso (com letra minúscula, revisor!) fisiologista, emprenhado por bancadas que se digladiam em busca de cargos mas unida em torno de quem possa ‘ampará-las’.

No imediato do resultado os primeiros desdobramentos: uma deputada (processada judicialmente) famosa por seus fake news e deboche em relação ao combate ao Covid-19 assume a Comissão de Constituição e Justiça, o que significa que dispensada pelos pares está de conhecer a Constituição e muito menos a Justiça. Mas atenderá aos reclamos do inquilino do Alvorada.

A Comissão de Constituição e Justiça é a mais importante das comissões no Poder Legislativo. A primeira a apreciar em qualquer instância federativa (União, Estados, Municípios e Distrito Federal) analisa propostas de emenda à Constituição (ou à Lei Orgânica), a legalidade de projetos de lei, e tem a prerrogativa de mesmo segurar denúncias por lacunas jurídicas ou barrar o andamento de cassações de políticos e processos de impeachment.

Não se negue: uma vitória avassaladora!

O que acontecerá ao país aguarde o leitor: muito provavelmente tentativa de federalização das polícias militares o grande projeto do inquilino que tende a ser posto em discussão levantando os policiais militares do país em defesa do projeto de fechamento do regime para garantia de uma nova casta castrense (superam 400 mil que podem somar-se a outros 300 mil policiais civis), a partir de qualquer estado da federação, capaz de fechar o país e torná-lo império do inquilino, tão habituados estão a movimentos paredistas.

Não, caro leitor, este escriba de província não acredita como muitos o imaginam que o inquilino do Alvorada será defenestrado. Já acena com o que eles querem: privatizações... privatizações... da Eletrobras, da Petrobras; Banco do Brasil, CEF e Correios logo, logo etc. E quem poderia afastá-lo a quem incumbe, o Congresso enquanto participar do butim lhe dará sustentação. A não ser que o pedido extrapole as disponibilidades...

No mais, que Deus tenha pena de nós! Porque a oposição, presa ao torreão do castelo a que lançada, continuará pedindo por um impeachment que não ocorrerá.

E para completar o atual projeto das classes dominantes locais, considerando a possibilidade concreta de a suspeição de Moro ser declarada e anulados os processos da Lava Jato por ele manipulados em conluio criminoso com os procuradores da Lava Jato, reconheçamos a perseguição a Lula, anulemos as sentenças que o condenaram mas mantenhamos a suspensão dos direitos políticos (absurdo! absurdo! se anulada a sentença principal também o será a acessória) não o deixemos ser candidato, castremos seus direitos políticos.

Porque Lula é ainda o pavor desta classe dominante.

No mais muito provável que os mesmos se unam aos mesmos que hoje se concentram no inquilino do Alvorada: este mesmo STF conivente com o golpe por vingança ou temor a Lula (não sabemos por quê!) detém em mãos o cordel: acolhe um pedido e anula todo o processo contra o ex-presidente mas mantém o outro que o mantém inelegível.

Diante desta podridão a classe dominante (STF, Congresso, “elite branca” empresarial, latifundiária e financista) tem inegavelmente o seu melhor representante.

De nossa parte considerando o quão responsável pelo o golpe o foi o STF não duvidamos do alto nível de sordidez judiciária ali encastelada. Somente isso para lermos o que anda ‘vazado’ a Mônica Bérgamo por integrantes do STF de que com base na sentença do sítio de Atibaia aquela do ctrl-C ctrl-V da juíza Hardt, que substituiu Moro e deu seguimento ao ‘projeto’, e copiou e colou a partir da sentença do apartamento Lula permanecerá inelegível.

Pela teoria dos frutos da árvore envenenada (fruits of the poisonous tree) se são o juiz e seus acólitos procuradores a razão contra um réu tudo que viciado o seja partindo deles em relação a este réu o será por consequência. E foram Moro e seus procuradores a promovê-lo em relação ao sítio de Atibaia, inclusive usurpando competência territorial.

Esperar apreciação de cada um processo para o mesmo final apenas assegura a certeza da sordidez que norteia o STF e confirmará o fato de que Sérgio “Com Supremo, com tudo”  Machado tinha razão. Este STF que tem medo até de General de pijama e não resistirá ao cerco que lhe fizerem policiais amotinados.

Por quejandos tais afirmamos esperando estar errado que a vitória do inquilino do Alvorada foi avassaladora.

Na esteira dos fatos concretos para demonstrar o quão perdidos estamos há quem imagine que Mourão é a solução.

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