domingo, 19 de setembro de 2021

Confessa a juristocracia aos palhaços que somos todos nós

 

Nossa lucidez começa a impor a afirmação: “Nada temos contra o inquilino do Alvorada”; apenas sobreviver por mais um ano e alguns meses. Certo que a altivez e orgulho próprio nos levam ao 'apenas'. Como condenar quem pratica a cada minuto uma agressão e permanece onde está, alcançado por comedidas opiniões desta augusta classe dominante? Sempre vocacionada não a destruir o país, mas a aprofundar a destruição que causa há cinco séculos.

A indignação que move este escriba de província mais se aprofunda diante do processo de reação às ‘sutilezas’ do dito cujo: o mesmo ramerrão, o mesmo ‘deixar sangrar’ para assegurar espaço que não soube manter. Não podemos e não seríamos justo – cobrar o passado incompreendido, mas não é suportável ausência de demonstração de que compreendeu o nível dos pecados.

Dia destes um paciente interlocutor levantava a conformada ponderação: “O Brasil precisava passar por tudo que está passando”. "Não tanto" – dissemos. Afinal, escravos não mais negros, índios; mas toda a geração que nasceu e está nascendo e que não integre o alto extrato da burguesia nacional. E que a dimensão da tragédia é tamanha que se torna exagero admiti-la como ‘aprendizado’.

As coisas erradas sendo aquecidas para o caldo do esquecimento e admite-se tergiversações em torno delas.

O ministro Gilmar Mendes, por exemplo, reconhece/confessa haver impedido a posse do ex-presidente Lula como Chefe da Casa Civil pautado na hipótese de que havia sinais de ‘desvio de finalidade’ (247). Ou seja, ‘havia sinais’, não provas ou indícios, tanto que admite ter sido induzido a erro. O famoso ‘eu acho’ que norteia esta singular juristocracia pátria (aqui). Presumiu (confessa) enxergar um “desvio de finalidade” (que lhe caberia avaliar a posteriori) em ato próprio inerente à competência de um chefe de Poder Executivo (no caso, da Presidente da República) de nomear e exonerar no que diz respeito aos cargos de livre nomeação, aqueles denominados ‘de confiança’. Esqueceu Sua Excelência de dizer que a petição por ele despachada fora subscrita por gente vinculada ao seu Instituto, o que leva o autor a “presumir” (achar) que foi orientada pelo indigitado ministro.

É isso ‘cara pálida’. Fala como se nada de errado houvesse cometido e nem se curva ao fato de que tal postura é uma das peças que desencadeou a tragédia que aí está, tudo a partir de uma escuta clandestina efetivada por um juiz envolvido no “conserto” com o ministério público para fazer política.

E mais disse Sua Excelência: “O Brasil precisa repensar seu sistema de Justiça” a partir de análise do Mensalão e da Lava Jato, processos considerados por ele como um modelo autoritário (ah! augusta juristocracia!).

Antes, em seu voto no julgamento do Mensalão o ilustre ministro Gilmar Mendes fazia referência à existência de dinheiro público, ainda que o inquérito 2474, requisitado pelo relator Joaquim Barbosa, desmentisse isso, tanto que o escondeu dos pares. Mas sua Excelência ‘achou’ que havia ‘dinheiro público’ e condenou por corrupção quando deveria fazê-lo por caixa 2.

E nesse diapasão tudo aconteceu no palco daquele surrealismo jurídico-midiático. Incluindo o histriônico voto da ministra Rosa Weber afirmando que não via ela prova contra José Dirceu, mas a ‘literatura jurídica’ a autorizava condená-lo. Arre!

Aparece um jornalista investigativo e demonstra (o que para os lúcidos sempre foi visível) que aquela ‘facada’/fakeada fora programada etc. etc. Não falta representação na imprensa para ‘desmentir’.

Rachadinhas aqui e alhures, milícia, corrupção em ministérios etc. etc. Genocídio se aproximando de 600 mil mortos por Covid-19 e não temos nem 20% da população vacinada com duas doses. Atividade econômica despencando quando comparada com a década anterior. Inflação e custo de vida nas alturas, desemprego e fome.

É dose para leão, caro e paciente leitor, conviver com tanto cinismo. O povo não participou, portanto ‘não precisava passar por isso’ disse ao nosso interlocutor. Tanto que parte dela, convencida pelos áulicos de sempre, que votou no inquilino do Alvorada, hoje declina de repetir o erro.

No entanto, a classe dominante encastelada em todos os segmentos de poder (ou pela força do dinheiro ou dos interesses individuais os quais defende com unhas e dentes) transita faceira por entre os escombros, lamentando apenas não estar faturando mais. Encastelada no Congresso porque controla a maior parte da representação; no Judiciário (especialmente em suas altas cúpulas) para que tenha decisões e interpretações que lhe sejam favoráveis. Para ela, detentora do poder econômico, nada mais existe que seu próprio umbigo, elevado aos píncaros de deidade.

Presidente da FIESP (golpista de primeira hora) ajustando o freio de arrumação mais visando a manutenção das atuais políticas econômicas.

Assim, sentimo-nos insignificante diante de tanto apoio ao inquilino. Na realidade, como diz o ex-ministro Eugênio Aragão (o acerto de Dilma nos estertores depois de errar durante anos com José Eduardo Cardozo no ministério da Justiça), no momento as ‘elites brasileiras’ puseram uma ‘coleira’ no chefe do governo ao fazê-lo divulgar a missiva elaborada por Michel Temer (247).

Verdade absoluta: afinal, traduz ele, em plenitude, a mais perfeita representação do que é essa “elite branca” (Cláudio Lembo), “do atraso” (Jessé Souza). A ‘elite’ que de modo algum demonstra não desejar a permanência do presidente que ‘elegeu’.

E assim estamos aprendendo a não ter nada contra o inquilino do Alvorada. E sim contra os que o sustentam direta ou indiretamente.

Que invadem nossos lares através dos meios de que dispõem e controlam nos fazendo de palhaços.

E mesmo confessam posturas espúrias, como a existência de uma velada juristocracia. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário