Insistimos no tema como alerta. Porque
é imperioso superar a tragédia iminente. E à luz da história recente somente a
ocupação do poder permitirá uma retomada dos propósitos sadios para com a nação
e seu povo.
No entanto, muito mais que superá-la é
construir de forma sólida a retomada das políticas públicas que nos façam, como
sociedade, enfrentar com ações concretas e efetivas a causa de tudo. Carecemos de
identificar de imediato o verdadeiro adversário, razão de tudo que nos acomete,
para que não caminhemos céleres para viver uma vitória de Pirro.
Não podemos apenas concentrar a
esperança através de um projeto que desvia a atenção da causa. Impõe-se reconhecê-la
de logo. Para que o saiba a maioria do povo e se integre ao projeto como agente
ativo, para que compreenda e não apenas aventure. E fazê-lo sob a égide da
radicalidade se preciso. Não do enfrentamento físico, mas do chamamento a
compreender a realidade que tudo ‘causa’.
“Fora” atinge um indivíduo (no caso
concreto, pau mandado dos interesses espúrios em relação ao país); não vemos
empenho e consciência em torno do ‘fora a causa de tudo’.
“A causa de tudo” estampa através do
fantoche o descaso que levou o Brasil à insignificância no concerto das nações.
Enquanto entrega o que resta do patrimônio público aprofunda a fome e a
miséria, eleva aos píncaros (para garantia de lucros) o preço de combustíveis e
do gás de cozinha; cria um ‘teto de gastos’ para que mais assegurada esteja a
remuneração do capital especulativo que sustenta a poupança nacional, ápice da
teoria da dependência.
E a passividade se torna lugar comum.
Porque “fora” se concentra naquele fantoche e dilui/desvia a energia que
deveria ser destinada à “causa”.
A dura realidade da fome volta a se
materializar depois de um período em que políticas efetivas de distribuição de
renda e geração de empregos fizeram o país ser reconhecido como fora do triste
mapa. No imediato deste genocídio invisibilizado (pela morte lenta de quem a
vivencia e pela omissão em reconhecê-la a grande imprensa) um programa de
sucesso absoluto e reconhecido internacionalmente como exemplo acaba de ser
levado ao túmulo.
As informações dão conta de que cerca
de 22 milhões deixarão de participar do novo sistema trazido pelo governo.
Finou-se o Bolsa Família em plenitude e
o novo programa não absorve os que por ele eram assistidos com o mínimo
possível. Anuncia-se um outro com valor que não alcança o Bolsa Família
corrigido pela inflação que nos assola e que existirá tão somente até o final
de 2022. Ou seja, mata-se o jovem Bolsa Família antes dos vinte anos, que
tornava a vida mais segura, e arrebanha-se parte dos sobreviventes até o final
da eleição presidencial. Depois disso, nem Bolsa Família afirme-se que haverá.
A cada doze meses um outubro, a cada
século cem; a cada milênio, mil. Teimoso como calendário.
A sub-raça do Nordeste de antanho
antevista por Josué de Castro (1908-1974) vivenciando ali a geopolítica e a
geografia da fome, poemada por João Cabral de Melo Neto (1920-1999) na
compreensão de “um pouco por dia”, tende a ocupar o território brasileiro em
dimensão apocalíptica.
O retardamento mental oriundo da
ausência proteica parecia página virada. Não mais é.
Ainda que não mais seja a desnutrição o
instrumento da apatia, mas a alienação pela informação, vivemos um singular
outubro em 2021 prenunciando o de 2022. Hoje, as pesquisas o afirmam, um
candidato estaria vitorioso – em primeiro ou segundo turno.
Neste outubro ‘véspera de Finados’ há
esperança no outubro ‘véspera de Natal’.
Que o compreendam os desassistidos e o
percebam quão distintos podem ser os outubros. E como podemos refazer a leitura de Duke.
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